Estudo sísmico identifica a complexidade associada aos eventos ocorridos em Nord Stream, no Mar Báltico
Em setembro de 2022, eventos sísmicos enigmáticos agitaram os gasodutos Nord Stream 1 e 2 no Mar Báltico, desencadeando suspeitas de sabotagem. Um estudo liderado por, Ross Heyburn, da AWE Blacknest, procura novas explicações.
Em setembro de 2022, os eventos sísmicos abalaram os gasodutos Nord Stream 1 e 2 no Mar Báltico, coincidindo com as reduções abruptas de pressão. As suspeitas de sabotagem, ainda sujeitas a investigação por parte das autoridades internacionais, levantaram questões sobre a origem destes sinais, o que originou um novo estudo publicado no The Seismic Record.
Complexidade sísmica nos gasodutos Nord Stream intriga os investigadores
Os investigadores, liderados por Ross Heyburn da AWE Blacknest, identificaram razões que justificam a não correspondência dos sinais sísmicos a uma fonte explosiva única, prolongando-se além do que seria esperado. Ao invés, assemelhavam-se mais aos sinais associados a vulcões submarinos ou à libertação de gás num gasoduto.
Este episódio ocorrido nos gasodutos Nord Stream constituiu uma oportunidade de investigação, possibilitando a análise de dados sísmicos locais, regionais e do Sistema Internacional de Monitorização (IMS). Pela primeira vez, o IMS registou os sinais de um evento subaquático relacionado com a rutura de um gasoduto, com o objetivo de detalhar as características destes sinais.
A região do Mar Báltico, naturalmente com baixa atividade sísmica, foi sujeita a comparação com dados de pequenos terramotos e explosões ocorridas durante uma operação da OTAN, em 2019. A análise revelou que os eventos do Nord Stream diferiam significativamente dos terramotos locais, destacando a sua origem única.
Os sismólogos utilizaram as medições das proporções de ondas P para S. A proporção nos eventos do Nord Stream contrastou marcadamente com os terramotos locais, corroborando a hipótese de uma origem explosiva, embora de maior complexidade.
Investigações levadas a cabo nos gasodutos de Nord Stream não eliminam as suspeitas de sabotagem
Os investigadores observaram também que, ao contrário das explosões subaquáticas típicas, não foram identificadas ondulações distintas nos espectros dos sinais sísmicos, sugerindo uma origem mais complexa do que uma simples explosão. Tais factos, alimentam ainda mais a especulação sobre a possibilidade de sabotagem.
Uma característica notável dos eventos do Nord Stream é a duração incomum dos sinais sísmicos e infrassónicos. Ao contrário de eventos explosivos únicos, estes sinais persistiram por milhares de segundos ao indicar vibrações causadas pela rápida libertação de gás de alta pressão na água e na atmosfera. Heyburn e os seus colegas destacam que a duração é semelhante aos sinais produzidos nas explosões de oleodutos e pela ventilação de vulcões submarinos.
Ao comparar-se a magnitude do primeiro evento do Nord Stream com um evento sísmico subsequente a 7 de outubro de 2023, relacionado com a rutura do gasoduto Báltico, encontraram-se diferenças significativas. Desta forma, ao passo que o evento do Báltico foi atribuído a uma âncora de navio, a magnitude mais reduzida associada ao evento Nord Stream sugere que a libertação de gás de alta pressão dominou os sinais sísmicos.
Esta análise levanta ainda muitas questões sobre a segurança e a resiliência dos gasodutos submarinos, especialmente em áreas geopoliticamente sensíveis. Ainda que a investigação sobre a causa destes eventos esteja em curso, as implicações para a segurança energética e as possíveis repercussões geopolíticas continuam a preocupar os especialistas.
O estudo destaca, pois, a importância de monitorizar e compreender os sinais sísmicos e infrassónicos associados a eventos em gasodutos submarinos, contribuindo para melhorar a segurança e prevenir potenciais ameaças.
Referência da notícia:
Heyburn, R., Green, D. N., Nippress, A., & Selby, N. D. (2024). The 26 September 2022 Nord Stream Events: Insights from Nearby Seismic Events. The Seismic Record, 4(1), 1-10.