Estudo revela quais as grandes metrópoles mundiais cada vez mais expostas a cheias e secas

Novo relatório revela como as 100 cidades mais populosas do mundo estão cada vez mais expostas a cheias e secas, que representam a larga maioria dos desastres climáticos atuais.

Relatório destaca como as cidades que enfrentam os piores impactes climáticos são frequentemente aquelas que apresentam maior vulnerabilidade social.

Atualmente, 90% dos desastres climáticos estão relacionados com a água, e os 4,4 mil milhões de pessoas que vivem em cidades, especialmente em países de baixos rendimentos, estão na linha de frente. À medida que a crise climática continua a desequilibrar o ciclo da água, muitas das maiores cidades do mundo são impactadas de formas difíceis de prever e planear.

A frequência e a magnitude de eventos, como cheias e secas, estão a evoluir devido às tendências climáticas e quando os serviços e sistemas de abastecimento de água, saneamento e higiene não têm capacidade para lidar com extremos climáticos intensos e imprevisíveis, geralmente são as pessoas mais vulneráveis e marginalizadas que sofrem os piores impactos na sua saúde, educação e meios de subsistência, tornando-se num ciclo vicioso de perpetuação da pobreza.

Esta novo relatório, resultado de um estudo liderado pela WaterAid, em parceria com as universidades de Bristol e Cardiff, examina as tendências climáticas dos últimos 42 anos nas 100 cidades mais populosas do mundo, bem como a sua vulnerabilidade a cheiras ou secas, e como essas mudanças afetam as pessoas que aí vivem.

De acordo com o relatório, cidades da África e Ásia estão a emergir como as mais expostas a alterações climáticas extremas, impedindo o acesso à água potável e afetando a segurança hídrica das comunidades urbanas que sofrem o impacto destas.

Cheias e secas cada vez mais intensas e reversões climáticas drásticas

As descobertas indicam que quase um quinto (17%) das cidades estudadas está a passar por aquilo que é definido como "chicote climático", ou seja, cheias e secas cada vez mais intensas. Uma proporção semelhante (20%) conheceu uma mudança drástica de um extremo para o outro, conhecida como "reviravolta do risco climático".

Todas as cidades europeias analisadas apresentam tendências de seca nos últimos 42 anos, incluindo a vizinha Madrid, a capital francesa Paris e Londres, o que pode levar a secas mais frequentes e duradouras.

As cidades europeias analisadas apresentam tendência de seca nas últimas quatro décadas e maior vulnerabilidade às mudanças no clima.

Das cidades que enfrentam uma “reviravolta do risco climático”, cerca de 13% estão a mudar para um clima húmido mais extremo, enquanto que os 7% restantes estão a mudar para um clima seco mais extremo. Estas alterações afetam mais de 250 milhões de pessoas globalmente, em cidades como Kano na Nigéria, Bogotá na Colômbia e Cairo no Egito, limitando significativamente o acesso à água segura e limpa.

“Lugares que eram historicamente húmidos estão a tornar-se secos e vice-versa. Outros lugares agora são cada vez mais atingidos por cheias e secas extremas. Uma compreensão mais profunda dos riscos climáticos localizados pode dar suporte a um planeamento mais inteligente e personalizado nas principais cidades”, afirma Katerina Michaelides, professora de hidrologia na Universidade de Bristol.

Cidades da Ásia e África lideram como as mais vulneráveis

O estudo também compara as vulnerabilidades sociais e de infraestrutura hídrica de cada cidade com novos dados sobre riscos climáticos abrangendo 40 anos, para identificar quais são os mais vulneráveis a mudanças climáticas extremas e os menos equipados para lidar com elas.

Os pontos críticos de risco elevado identificados compreendem duas regiões-chave: sul e sudeste da Ásia, e norte e leste da África. As cidades identificadas como as mais vulneráveis incluem Cartum, no Sudão, Faisalabad e Lahore, no Paquistão, Bagdad, no Iraque, e Surabaya, na Indonésia, Nairobi, no Quénia, e Addis Ababa, na Etiópia.

A água é vital para o crescimento e a estabilidade de uma cidade e é a espinha dorsal de sociedades saudáveis.

Cidades europeias como Barcelona, Berlim e Paris apresentam maior risco do que as situadas na América do Norte e Austrália, devido às suas infraestruturas envelhecidas de abastecimento de água e à presença de resíduos, o que pode deixar as populações urbanas mais expostas.

“Um resultado interessante deste estudo é como muitas das tendências de riscos climáticos parecem espalhar-se por regiões amplas, sugerindo que pode haver desafios significativos de adaptação a novos regimes de riscos, mas também oportunidades regionais de colaboração entre nações para se tornarem mais resilientes às mudanças climáticas em centros urbanos.”

Michael Singer, professor de hidrologia e geomorfologia e vice-diretor do Water Research Institute da Universidade de Cardiff.

A WaterAid alerta que os desastres relacionados com o clima, como cheias e secas, aumentaram quatro vezes nos últimos 50 anos, colocando grande pressão sobre os sistemas vitais de acesso à água e saneamento, e tornando mais difícil para as comunidades e economias se prepararem, recuperarem e adaptarem-se às alterações climáticas.

Como a projeção é que dois terços da população mundial viva em cidades até 2050, e os riscos climáticos se tornem mais intensos e erráticos, urge que os “decision-makers” (quem toma decisões) entendam as ameaças a infraestruturas e às sociedades, e façam muito mais para alcançar e manter o acesso universal e equitativo a água, saneamento e higiene nas cidades.

Referência da notícia

WaterAid. Water and climate: Rising risks for urban populations. 2025.