Estudo revela incremento no consumo de substâncias e álcool associado às mudanças climáticas
Num estudo recente da Universidade de Columbia, a ligação entre temperaturas mais altas e admissões hospitalares relacionadas com o álcool e drogas levanta preocupações sobre o impacte das mudanças climáticas no consumo de substâncias.
Um estudo realizado por investigadores da Universidade de Columbia concluiu que durante episódios de calor extremo, caraterizados por temperaturas mais elevadas, os hospitais observaram um aumento significativo nas admissões relacionadas com o consumo de drogas e álcool.
Estes resultados levantam preocupações adicionais, designadamente questões sobre os efeitos das mudanças climáticas no abuso de substâncias aditivas e no alcoolismo.
Conexão importante entre temperaturas elevadas e admissões hospitalares
O estudo publicado na revista Communications Medicine analisou dados de 671.625 admissões hospitalares relacionadas com o álcool e 721.469 relacionadas com perturbações devido ao consumo de substâncias, ao longo de 20 anos, em Nova Iorque, nos Estados Unidos da América (EUA). Além disso, os investigadores avaliaram os dados relativos às temperaturas diárias e à humidade relativa durante este período.
No decurso da investigação verificou-se uma correlação significativa entre o aumento da temperatura do ar e o número de admissões hospitalares alistadas com o consumo de álcool e substâncias. Comparando a temperatura mais baixa registada com 25% dos casos com com a temperatura mais elevada, verificou-se um aumento de 24,6% nas hospitalizações associadas a distúrbios com o consumo de álcool.
No caso do abuso de substâncias, que inclui opioides, cocaína, cannabis e sedativos, o aumento foi ainda mais pronunciado, atingindo os 38,8%, o que é, de facto, muito preocupante. As hospitalizações devido à cocaína aumentaram 37,6%, enquanto diferentes opioides apresentaram taxas variáveis de aumento.
É importante salientar que estas tendências foram consistentes em todas as faixas etárias, quer para o sexo feminino e masculino e nos diversos grupos socioeconómicos, embora se tenha observado um aumento mais acentuado nas áreas limítrofes a Nova Iorque, em comparação com a área metropolitana, de acordo com o estudo.
Preocupação e um alerta para a saúde pública
O fenómeno surge após o verão mais quente registado no planeta Terra, segundo o Serviço de Monitorização das Alterações Climáticas do Copernicus (C3S) e a NASA, e no contexto do consenso científico sobre a contribuição antrópica para o aquecimento global em curso.
Os autores do estudo afirmam que os resultados da investigação indiciam que a relação entre a temperatura e o aumento das hospitalizações deve ser levada em consideração. Além disso, defendem que as campanhas de sensibilização para saúde pública devem direcionar as mensagens e alertas para os meses e semanas mais quentes do ano.
No entanto, os autores do estudo reconhecem que os seus resultados podem ter subestimado as associações entre a temperatura e os distúrbios relacionados com este consumo de substâncias, uma vez que muitos daqueles que sofrem dos distúrbios mais graves podem ter falecido antes de chegarem ao hospital.
Será expectável que em futuras investigações se utilize o histórico dos registos médicos dos pacientes para obter um quadro mais completo. Além disso, os autores salientam que, a médio e longo prazo, será relevante analisar como as condições de saúde existentes podem ser agravadas pelo consumo de álcool ou substâncias em combinação com temperaturas mais elevadas.
Este estudo lança como repto uma articulação entre os investigadores, os agentes de saúde pública e a sociedade em geral numa resposta à interação complexa entre clima-saúde. Repare-se que os efeitos das temperaturas mais elevadas podem não se repercutir apenas nas condições de saúde mental e física causadas pelo calor na rua ou no interior das habitações, mas agora é comprovado também no comportamento desajustado e desviante dos indivíduos.