Estudo revela aumento de espécies não nativas em todo o mundo e alerta para futuras invasões
O aumento no número de espécies não nativas em todo o mundo, revelado por um estudo do Centro Helmholtz de Pesquisa Oceânica de Kiel, destaca a urgência de medidas preventivas diante do potencial devastador destas invasões biológicas.
Depois de na passada semana termos dado conta, numa notícia, sobre o impacte das condições extremas para a disseminação de espécies invasoras, um estudo recente, conduzido pelo Helmholtz Centre for Ocean Research Kiel (GEOMAR), revela agora um potencial crescente para futuras vagas de espécies não nativas a nível mundial devido às deslocações e transportes associados às atividades antrópicas, destacando a necessidade de medidas para prevenir novas introduções e controlar infestantes já estabelecidas.
O fenómeno global das espécies não nativas num desafio crescente para a biodiversidade
O comércio e transporte humanos, responsáveis pela introdução intencional e acidental de espécies não nativas fora de suas áreas de distribuição natural, tornaram-se uma ameaça significativa para a biodiversidade global. Elizabeta Briski, especialista em ecologia de invasões no GEOMAR, liderou a investigação numa equipa internacional de ecologistas no estudo publicado na Global Ecology and Biogeography que analisou mais de 37 000 espécies não nativas em todo o mundo.
Ainda assim, os números estão em constante crescimento, exigindo uma compreensão aprofundada e projeções que contribuam para a proteção de ambientes, economias e sociedades.
O estudo avaliou se o número de espécies não nativas reflete os padrões globais de biodiversidade. Os investigadores agruparam as espécies de acordo com a taxonomia biológica, desde reinos ou filos até às classes, famílias ou espécies, relacionando-as à biodiversidade global. Surpreendentemente, em média, aproximadamente 1% de todos os organismos vivos foram transportados por humanos para diferentes partes do mundo, independentemente de serem microscópicos ou do tamanho de um hipopótamo.
Briski destaca, aliás, a variabilidade dos dados, observando que as espécies terrestres são geralmente mais bem estudadas do que as aquáticas. A falta de investigação em habitats marinhos e em grupos pouco explorados, como microrganismos, pode estar na origem de uma subestimação do número real de espécies não nativas. Além disso, os países com maiores recursos económicos tendem a ter mais investigações do que países menos desenvolvidos, o que sugere o potencial para um número significativo de espécies não catalogadas, especialmente em regiões como as florestas tropicais.
As implicações para as espécies nativas e a necessidade de medidas
O estudo identificou grupos de espécies que se estabeleceram desproporcionalmente fora de áreas nativas, incluindo mamíferos, aves, peixes, insetos, aranhas e plantas.
Briski destaca que muitas destas espécies não nativas foram introduzidas intencionalmente para fins como agricultura, horticultura e silvicultura. Infelizmente, as espécies indesejadas muitas vezes acompanham as desejadas, como no caso dos ratos, que se espalharam globalmente lado-a-lado com o desenvolvimento das atividades antrópicas.
Os resultados do estudo indicam um enorme potencial para futuras invasões biológicas em diversos grupos de espécies. Se apenas 1% da biodiversidade global foi afetada até ao momento, é possível que esta percentagem aumente consideravelmente, a médio e longo prazo. A aleatoriedade do processo é notável, o que aponta para que qualquer espécie, mais cedo ou mais tarde, possa utilizar meios de transporte e rotas de origem antrópica para chegar a áreas às quais naturalmente não teria acesso.
Com o comércio e transporte globais, entre países distantes, os investigadores preveem que os impactes ambientais e socioeconómicos de novas invasões aumentarão substancialmente nas próximas décadas. Tais pressupostos, denotam a necessidade de ações urgentes para prevenir futuras introduções e controlar invasores prejudiciais já estabelecidos.
Este estudo serve, pois, como um alerta para a comunidade internacional, destacando a importância de medidas preventivas e estratégias de controlo para preservar a biodiversidade e mitigar os impactes adversos decorrentes da introdução e propagação das espécies não nativas em ecossistemas exógenos.
Referência da notícia
Briski, E., Kotronaki, S. G., Cuthbert, R. N., Bortolus, A., Campbell, M. L., Dick, J. T. A., Fofonoff, P., Galil, B. S., Hewitt, C. L., Lockwood, J. L., MacIsaac, H. J., Ricciardi, A., Ruiz, G., Schwindt, E., Sommer, U., Zhan, A., & Carlton, J. T. (2023). Does non-native diversity mirror Earth's biodiversity? Global Ecology and Biogeography, 00, 1–15.