Estudo publicado na Nature aponta para aumento das ondas de calor marinhas no Ártico e revela impactos no ecossistema
Segundo um novo estudo, as ondas de calor marinhas do Ártico podem intensificar-se durante o resto deste século, devido às alterações climáticas.

O facto das ondas de calor marinhas estarem a tornar-se mais intensas e frequentes no Ártico, traduz uma tendência que poderá causar perturbações contínuas nos frágeis ecossistemas da região, de acordo com o estudo publicado na revista Nature Climate Change.
Aumento da intensidade das ondas de calor marinhas
As ondas de calor marinhas (MHW – Marine Heatwaves) são eventos extremos de aquecimento dos oceanos que duram de dias a meses, representam graves ameaças aos ecossistemas marinhos e às comunidades costeiras e estão a aumentar em todo o mundo, incluindo no Oceano Ártico.
Até agora, a espessura do gelo marinho no Ártico protegeu durante muito tempo o Oceano Ártico das ondas de calor marinhas. No entanto, à medida que o gelo continua a recuar devido ao aquecimento global, este amortecedor natural está a desaparecer, deixando o Ártico mais vulnerável a flutuações de temperatura súbitas e extremas observadas noutras massas de água.
Para realizar o estudo, a equipa de investigação utilizou modelos climáticos de alta resolução para prever melhor as ondas de calor marinhas no Ártico.
Com modelos de alta resolução foi possível seguir as correntes oceânicas e o gelo marinho com maior precisão e obter uma imagem mais clara de como as ondas de calor poderão mudar no futuro, à medida que o gelo marinho diminui.
Com as ondas de calor marinhas haverá uma redução de nutrientes
O aquecimento global tem aumentado a temperatura da água do mar, provocando um impacto drástico na estrutura e na distribuição geográfica das espécies e ecossistemas marinhos.

Confrontadas com o stress térmico, algumas espécies marinhas começaram a migrar em direção aos polos, para regiões mais frias, incluindo o Oceano Ártico.
A evolução futura dos MHWs no Oceano Ártico e as ameaças que estes eventos representam para as espécies marinhas do Ártico têm sido e continuam a ser objeto de investigação.
Os cientistas deste estudo afirmam que um dos resultados mais importantes do projeto foi ver como o aumento da temperatura dos oceanos altera a estrutura do Ártico abaixo da superfície.
A estratificação impede que os nutrientes essenciais se misturem na coluna de água, o que é vital para a vida marinha.

Deste modo, esta perturbação conduzirá à redução da mistura de nutrientes e ameaçará a vida marinha no Ártico, agravando as condições já difíceis enfrentadas pelas espécies que dependem de habitats estáveis.
Os autores do estudo também alertam para o facto das alterações no Ártico terem consequências de grande alcance, provocando efeitos em cadeia em todo o mundo.
Uma das conclusões do estudo aponta para a necessidade de melhores modelos que combinem as previsões climáticas com um conhecimento mais profundo dos ecossistemas marinhos no Ártico.
Embora os modelos climáticos atuais sejam bons na previsão das condições oceânicas e atmosféricas, ainda são insuficientes quando se trata de prever a forma como a vida marinha e os sistemas biológicos do oceano irão reagir a eventos extremos como as ondas de calor.
Referência da notícia
“The changing nature of future Arctic marine heatwaves and its potential impacts on the ecosystem”, Nature Climate Change, Ruijian Gou, Klara K. E. Wolf, Clara J. M. Hoppe, Lixin Wu & Gerrit Lohmann, Published: 06 January 2025.