Estudo publicado na JAMA Cardiology mostra como a insegurança alimentar aumenta o risco cardiovascular de jovens

A insegurança alimentar na juventude pode ter consequências graves para a saúde cardiovascular a longo prazo. Estudo recente da Northwestern Medicine revelou que adultos jovens que defrontam dificuldades para obter alimentos adequados apresentam maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares.

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Estudo publicado na revistada JAMA Cardiology estabelece, pela primeira vez, uma relação causal direta entre a insegurança alimentar e as doenças cardiovasculares nas camadas jovens.

A investigação, publicada na revista JAMA Cardiology, acompanhou participantes do estudo Coronary Artery Risk Development in Young Adults (CARDIA) durante duas décadas.

Os cientistas identificaram indivíduos que relataram insegurança alimentar entre 2000 e 2001, quando tinham entre 30 e 45 anos, e compararam seus desfechos de saúde ao longo de 20 anos com os de participantes que tinham acesso adequado à alimentação. Esta é a primeira vez que se estabelece uma relação causal direta entre a insegurança alimentar e as doenças cardíacas futuras.

Resultados preocupantes baseados nos impactes para a saúde pública

Dos 3.616 participantes analisados, 529 (15%) apresentavam insegurança alimentar no início do estudo. Dentre estes, 11% desenvolveram doenças cardiovasculares, enquanto apenas 6% dos indivíduos com acesso adequado a alimentos tiveram diagnósticos semelhantes.

A análise revelou que, mesmo após ajustar fatores socioeconómicos como nível de educação, estado civil e acesso aos serviços de saúde, a insegurança alimentar ainda se manteve como um forte preditor independente de doença cardiovascular.

De acordo com a autora principal do estudo, Dr.ª Jenny Jia, especialista em medicina interna geral e preventiva na Northwestern University Feinberg School of Medicine, "sabíamos que a insegurança alimentar e as doenças cardíacas estavam frequentemente associadas, mas este estudo demonstra, pela primeira vez, que a insegurança alimentar surge primeiro. Isso torna essa condição um alvo claro para a prevenção da doença cardiovascular".

De facto, sabe-se que a insegurança alimentar afeta, por exemplo, um em cada oito lares nos Estados Unidos anualmente, sendo um problema de saúde pública relevante. As suas implicações vão muito além da fome imediata, contribuindo para o aumento da incidência de doenças crónicas como a Diabetes Tipo II, a hipertensão e, conforme demonstrado neste estudo, as doenças cardiovasculares.

A correlação entre a falta de acesso a alimentos nutritivos e doenças cardíacas pode ser explicada por diversos fatores. Os indivíduos em situação de insegurança alimentar tendem a consumir alimentos mais pobres em nutrientes, ultraprocessados, com excesso de gorduras saturadas, sal e açúcar. Além disso, o stress crónico associado à incerteza alimentar pode impactar negativamente o sistema cardiovascular, contribuindo para a inflamação e aumentando o risco de doença arterial coronária.

Outro fator importante é o acesso limitado aos serviços de saúde. Muitos indivíduos que vivenciam insegurança alimentar também encaram barreiras para obter cuidados médicos preventivos, diagnósticos precoces e tratamento adequado de doenças crónicas.

A necessidade de rastreamento precoce

O estudo destaca a importância da triagem para insegurança alimentar nos cuidados primários de saúde.

"Clínicos gerais, pediatras e médicos de família são ideais para realizar rastreios de insegurança alimentar, pois costumam ter uma relação de confiança com os pacientes", afirma Jia. Segundo a investigadora, o rastreio também poderia ser ampliado para unidades de emergência e especialidades como cardiologia.

A identificação precoce permitiria a intervenção por meio da conexão com programas comunitários de distribuição de alimentos e políticas públicas que garantam maior acesso a refeições nutritivas para populações vulneráveis.

De facto, são necessárias estratégias para ajudar aqueles que apresentam insegurança alimentar, garantindo, após um diagnóstico positivo, que essas pessoas tenham acesso a recursos.

Os investigadores pretendem continuar a acompanhar os participantes do estudo CARDIA para avaliar os efeitos da insegurança alimentar ao longo do envelhecimento. Neste momento, os autores pretendem analisar as doenças cardiovasculares num grupo relativamente jovem, sem incluir indivíduos com idade igual ou superior a 65 anos. Planeiam, nesse cômputo, continuar o estudo até que os participantes atinjam os 80 anos para compreender melhor esta relação.

Este estudo reforça a necessidade de políticas públicas que combatam a insegurança alimentar, não apenas como uma questão social, mas também como uma estratégia de prevenção de doenças crónicas. Com medidas eficazes, é possível reduzir significativamente o impacte das doenças cardiovasculares, melhorando a qualidade de vida de milhões de pessoas.

Referência da notícia

Jia, J., Carnethon, M. R., Wong, M., Lewis, C. E., Schreiner, P. J., & Kandula, N. R. (2025). Food Insecurity and Incident Cardiovascular Disease Among Black and White US Individuals, 2000-2020. JAMA Cardiology. doi: 10.1001/jamacardio.2025.0109.