Estudo prevê que desertificação deva afetar apenas 4% de áreas secas, apesar da aridez ligada às alterações climáticas
Apesar do aumento da aridez global, menos de 4% das áreas mais secas do planeta sofrerão desertificação até 2050, segundo um novo estudo. O "efeito fertilizante" do CO2 deverá estimular o crescimento da vegetação na maioria das áreas secas.
Um novo estudo, publicado na revista Communications Earth & Environment, prevê que menos de 4% das áreas mais secas do planeta devam sofrer de desertificação até 2050, apesar do aumento da aridez nestas regiões devido às alterações climáticas.
Aumento da aridez global não impacta necessariamente a produtividade vegetal
A investigação, liderada por cientistas da Universidade da Austrália do Sul, analisou dados de imagens de satélite e modelos climáticos para projetar a evolução da produtividade da vegetação em regiões secas a nível global.
Os resultados do estudo contrariam a previsão de expansão das zonas áridas frequentemente associada às alterações climáticas. Aliás, os investigadores explicam esta aparente contradição com o efeito fertilizante do dióxido de carbono (CO2) atmosférico, que deverá estimular o crescimento da vegetação na maioria das áreas secas, compensando o impacto do aumento da aridez.
Segundo modelos de instituições internacionais que lideram a análise das alterações climáticas, mostram que as tendências no Índice de Aridez ao longo de várias décadas indicam um aumento da aridez, o que tem sido associado a uma maior ocorrência de desertificação. As projeções futuras mostram aumentos contínuos na aridez devido às alterações climáticas, sugerindo que estas áreas irão expandir-se.
No entanto, as observações por satélite indicam um aumento na produtividade da vegetação. Dada a inconsistência passada entre as mudanças do Índice de Aridez e as mudanças observadas na vegetação, a evolução futura da produtividade da vegetação dentro destas áreas permanece em aberto.
Para ultrapassar esta incerteza, a equipa de investigadores adotou uma abordagem baseada em dados para demonstrar que o aumento da aridez nas áreas mais secas não conduzirá a uma perda geral da produtividade da vegetação.
Aumento da produtividade vegetal em áreas secas até 2050, mas desertificação em regiões específicas é inevitável
De acordo com o estudo, a maioria das áreas de maior aridez a nível global deverá registar um aumento da produtividade da vegetação devido às alterações climáticas até 2050. O Índice de Aridez, por outro lado, não será um bom indicador para as áreas secas em climas futuros.
O estudo prevê, então, que as regiões mais afetadas pela desertificação sejam o nordeste do Brasil, a Namíbia, a região do Corno de África e a Ásia central. Os investigadores salientam que nestas regiões não existe um nível "seguro" de alterações climáticas, uma vez que mesmo com a mitigação dos impactes do aquecimento global, a desertificação nestas áreas é praticamente inevitável.
No geral, os resultados do estudo oferecem uma perspetiva otimista quanto ao futuro da maioria das áreas secas do planeta. O efeito fertilizante do CO2 deverá amortecer o impacte do aumento da aridez, permitindo a manutenção e mesmo o aumento da produtividade da vegetação na maior parte destas regiões.
No entanto, o estudo também aponta para a existência de áreas particularmente vulneráveis à desertificação, onde a implementação de medidas de adaptação e mitigação urgentes são fundamentais para evitar consequências ambientais, económicas e sociais graves.
Referência da notícia:
Zhang, X., Evans, J.P. & Burrell, A.L. Less than 4% of dryland areas are projected to desertify despite increased aridity under climate change. Communication Earth & Environment (2024).