Estudo investiga a ocorrência de secas e ondas de calor compostas em países de baixo e elevado rendimento

Cientistas revelam uma disparidade significativa entre as regiões de baixo rendimento e as regiões de elevado rendimento em termos de ocorrência de secas e ondas de calor compostas.

Secas
As secas e as ondas de calor provocam as maiores perdas humanas relacionadas com impactos climáticos.

Atualmente existem preocupações crescentes relativamente à ocorrência frequente de eventos compostos, tais como os eventos compostos de seca e ondas de calor, devido às consequências catastróficas na agricultura, nos ecossistemas, na saúde e na energia.

Impactos de eventos compostos secas e ondas de calor

Os impactos climáticos provocam em média mais de 300 mil milhões de dólares em perdas diretas de ativos e aproximadamente 30.000 mortes todos os anos.

No entanto, as secas e as ondas de calor estão entre os impactos climáticos que provocam as maiores perdas humanas, sendo responsáveis por mais de 50% das mortes relacionadas com o clima.

Os eventos compostos de seca e ondas de calor, Compound Drought-Heatwave events (CDHWs), causaram um total de aproximadamente 40.000 mortes e uma perda de 25% no rendimento anual das culturas na Europa e no oeste da Rússia nos verões de 2003 e 2010.

Os CDHWs causam frequentemente danos extensos e mortes nas regiões de baixo rendimento. Os CDHWs recentes em países tão diversos como o Quénia, a Tunísia, o Vietname, os Estados Unidos e a Rússia, que sofreram graves impactos, ilustram que a ameaça é uma realidade global.

Nas últimas décadas os CDHWs aumentaram acentuadamente nos Estados Unidos e no Leste da China.

Os eventos compostos seca e ondas de calor podem causar crises alimentares e inverter anos de progresso na redução da pobreza e no desenvolvimento.

Em comparação com os países desenvolvidos, os países em desenvolvimento são particularmente suscetíveis aos efeitos dos CDHWs devido à elevada dependência da agricultura, aos recursos hídricos limitados, às fracas infraestruturas e às populações vulneráveis.

Agricultura
São os países de baixo rendimento os que mais sofrem com a crise climática.

Uma seca sem precedentes, agravada por repetidas ondas de calor, atingiu o Corno de África entre outubro de 2020 e outubro de 2023, provocando um total de aproximadamente 43 000 mortes na Somália só no ano passado, em que metade das mortes eram crianças com menos de 5 anos de idade.

Influência das alterações climáticas antropogénicas nos CDHWs

Os autores deste estudo revelaram que já tinha sido realizada uma investigação que apontava para o efeito negativo do aquecimento global antropogénico nos CDHWs nas 10 regiões climáticas mais vulneráveis. No entanto, ainda não era claro se tais impactos eram sentidos de igual forma em todo o planeta.

Aquecimento global
O aquecimento global deve-se em grande parte à emissão de gases com efeito de estufa para a atmosfera.

Deste modo, este estudo apresenta uma avaliação aprofundada das alterações históricas nos CDHWs globais em todo o espectro socioeconómico.

Utilizando observações e modelos climáticos, verificou-se que as regiões de baixo rendimento registaram um aumento de 377% na frequência de eventos compostos de secas e ondas de calor de 1981 a 2020, o que é duas vezes maior do que o aumento observado nas regiões de elevado rendimento (184%).

Esta desigualdade deve-se muito provavelmente às taxas de crescimento desiguais das ocorrências de secas entre regiões de baixos e elevados rendimentos.

Neste estudo foram utilizadas simulações climáticas históricas para avaliar as desigualdades nos impactos das alterações climáticas antropogénicas nos CDHWs em todo o espectro socioeconómico.

A atribuição às alterações climáticas sugere que o aquecimento antropogénico duplicou a frequência de CDHWs em 31% das regiões de baixo rendimento, em comparação com apenas 4,7% das regiões de elevado rendimento.

A frequência das CDHWs não teria aumentado nas regiões de baixos rendimentos sem alterações climáticas antropogénicas, mas teria aumentado nas regiões de rendimentos elevados, mesmo sem influência antropogénica.

A desigualdade nos impactos das alterações climáticas antropogénicas nos CDHWs levanta questões críticas de justiça internacional, uma vez que os aumentos históricos das emissões de gases com efeito de estufa resultam em grande parte dos países ricos.