Estudo indica que cerca de 30% da superfície terrestre tem-se tornado mais árida, entre 1960 e 2023
Cientistas investigaram qual o impacto das alterações climáticas na água disponível para as plantas a nível global. Saiba mais aqui!
Atendendo ao aquecimento global, é crucial dispor de informações consistentes sobre as alterações da aridez climática à escala global.
A superfície terrestre árida global está a evoluir
Um estudo recente calculou, à escala global, os impactos na água disponível para as plantas, devido às alterações climáticas, quantificando a percentagem da superfície terrestre que se torna mais árida e a que se torna menos árida.
Os autores do estudo indicam uma mudança para climas mais secos, com as áreas húmidas, semi-húmidas e semi-áridas a diminuírem em 8,51, 1,45 e 0,53 milhões de km², respetivamente, e as áreas áridas e super-áridas a aumentarem em 6,34 e 4,18 milhões de km², respetivamente.
A aceleração da aridez ocorreu em regiões já secas, como o Sudoeste da América do Norte, o Norte do Brasil, a Bacia Europeia, o Norte de África, o Médio Oriente, o Sahel e a Ásia Central, sendo a África Central um novo ponto quente de secagem.
Tem-se assistido a um aumento desproporcionado da evapotranspiração potencial em relação à precipitação, atribuído ao aumento das temperaturas atmosféricas, que também reduz a capacidade de absorção de carbono da terra, potencialmente agravando o aquecimento climático.
Neste estudo foram utilizados dados de reanálise do modelo do Centro Europeu de Previsão do Tempo a Médio Prazo. Este conjunto de dados inclui conjuntos de dados mensais de Evapotranspiração Potencial, precipitação total e temperatura do ar, medida a 2 m de altura, em todo o mundo, com uma resolução de 11.132 × 11.132 m por pixel, abrangendo o período de 1 de janeiro de 1960 a 1 de dezembro de 2023.
Causas e efeitos do aumento da aridez a nível global
O aumento da evapotranspiração foi identificado como a principal causa do aumento da aridez observado em alguns estudos regionais e à escala global. Porém, as alterações na aridez não são uniformes, uma vez que diferentes regiões e ecossistemas áridos têm demonstrado respostas heterogéneas às alterações climáticas recentes.
No entanto é de assinalar que as causas do aumento da aridez são multifatoriais e vão para além do aquecimento global, incluindo várias atividades humanas, como o aumento do consumo de água, o desenvolvimento petrolífero, os grandes projetos de infraestruturas hídricas, as alterações na utilização dos solos, a recuperação de terras, o abandono de terras, os incêndios e o sobre pastoreio.
Consequentemente, a expansão das terras áridas pode diminuir os efeitos amortecedores do aumento do CO₂ nas alterações climáticas, reduzindo a produtividade das plantas. De facto, sob temperaturas crescentes, o aumento do défice de pressão de vapor contraria frequentemente o crescimento da vegetação devido à fertilização com CO2. O aumento do CO₂ pode estimular a produtividade das plantas através de um efeito de fertilização.
Deste modo é de esperar uma diminuição do coberto vegetal e um aumento da aridez quando o aumento da temperatura e da pressão de evapotranspiração ultrapassa o efeito positivo do CO2 no crescimento das plantas.
Enquanto se observou um aumento da vegetação e a invasão de arbustos em áreas como o Sahel, o Planalto Tibetano e o Oeste dos Estados Unidos, a cobertura vegetal diminuiu em sistemas de terras secas de outras regiões, incluindo o Sudoeste dos Estados Unidos, o Sul da Argentina, o Cazaquistão, a Mongólia, o Afeganistão e partes da Austrália.
Referência da notícia:
Growing aridity poses threats to global land surface. Communications Earth & Environment volume 5, Article number: 776 (2024). Jordi Sardans, Albert Miralles, Akash Tariq, Fanjiang Zeng, Rong Wang & Josep Peñuelas