Estudo científico prevê que as alterações climáticas podem reduzir em cerca de 10% o PIB da economia mundial

A ciência, com base em diferentes indicadores climáticos, aponta para uma diminuição do PIB a nível global, que pode chegar aos 10%, devido às alterações climáticas.

Catástrofe
Os prejuízos económicos são avultados quando ocorre uma catástrofe devido a um fenómeno meteorológico severo.

As projeções dos danos económicos globais provocados pela crise climática são fundamentais para avaliar os benefícios da mitigação das alterações climáticas, tais como a elaboração de políticas e a tomada de medidas de adaptação futura.

Estudo analisou 4 indicadores climáticos para além da temperatura média anual e da precipitação anual

A nível mundial ou nacional, essas avaliações dos prejuízos económicos têm-se centrado na forma como as alterações nas temperaturas médias anuais têm afetado o produto interno bruto (PIB). No entanto, as perdas generalizadas registadas nos últimos anos devido a inundações e secas sugerem que a variabilidade e os extremos da precipitação são igualmente importantes na previsão dos danos económicos.

Os autores de um estudo publicado na Nature Climate Change, basearam-se nos avanços recentes na estimativa de funções de “dose-resposta”, ou relação “exposição-resposta”, que descreve a magnitude da resposta de um organismo, em função da exposição (ou doses) a um estímulo após um determinado tempo de exposição.

Assim, a equipa de investigação relacionou as mudanças em diferentes indicadores climáticos com as alterações do PIB.

No estudo é analisado de que forma a inclusão de diferentes indicadores climáticos afeta a compreensão dos futuros impactos económicos em diferentes níveis de aquecimento global.

Além disso, explora-se a forma como a inclusão da variabilidade e dos extremos alterava a função dose-resposta para a temperatura média anual, que a literatura existente estimou, controlando apenas a precipitação anual.

Cheia
As alterações climáticas com o aumento da intensidade dos fenómenos extremos são responsáveis pela diminuição do PIB global.

No estudo foram utilizados modelos para analisar os quatro indicadores climáticos para além da temperatura média anual e da precipitação anual. São eles a variabilidade diária da temperatura (quanto as temperaturas diárias se desviam das médias mensais), a precipitação extrema (a soma anual da precipitação em dias com precipitação excecionalmente elevada), o desvio da precipitação mensal (quanto a precipitação mensal se desvia das médias históricas ao longo do ano) e o número de “dias húmidos” com precipitação superior a 1 mm.

Estes indicadores foram associados ao forçamento dos gases com efeito de estufa na atmosfera, bem como ao rendimento, utilizando uma amostra global.

O estudo combinou projeções de modelos climáticos com funções empíricas de dose-resposta que traduzem as mudanças nas médias e variabilidade da temperatura, padrões de precipitação e precipitação extrema em prejuízos económicos.

Projeções do PIB atendendo às alterações climáticas

A equipa de investigadores analisou o impacto no PIB global para todos os indicadores combinados, bem como os impactos separados da temperatura anual, precipitação anual e os quatro indicadores de variabilidade e extremos.

De acordo com os resultados do estudo estima-se que, até meados do século, o PIB global seja 3,2% inferior para +1,5 °C de aquecimento global, enquanto que para um aquecimento de +3 °C, o PIB global diminua 10,0%.

Quando desagregados por indicador climático, os impactos globais são fortemente determinados pelas alterações da temperatura média anual, que são responsáveis por uma redução do PIB de 10,0% a +3 °C.

Aquecimento global
O aquecimento global tem provocado um aumento da intensidade dos fenómenos extremos.

Esta estimativa é consistente com outros estudos que se centram exclusivamente nos danos provocados pelas alterações anuais da temperatura e que projetam impactos de 7-14% de perda do PIB per capita até ao final do século para níveis de aquecimento global superiores a +4 °C.

É de referir que nos países mais pobres e de baixa latitude, o PIB pode diminuir até 17%, para um aquecimento de +3 °C.

Como termos de comparação, o resultado obtido de redução de 10% do PIB excede a perda do PIB durante a pandemia COVID-19 ou quando o crescimento global caiu de +2,6% em 2019 para -3,1% em 2020 ou o efeito da crise financeira global em 2009, quando a produção global encolheu -1,3%.

A equipa de investigação considera que o custo total das alterações climáticas será provavelmente bastante mais elevado, dado que o seu estudo não inclui os impactos de fenómenos como secas e subidas do nível do mar.

A equipa apela ainda às avaliações de risco específicas para cada região e à integração de outras variáveis climáticas para uma melhor compreensão dos impactos das alterações climáticas.

Referência da notícia:

Paul Waidelich et. al., “Climate damage projections beyond annual temperature”. Nature Climate Change, volume 14, pages 592–599 (2024)