Estrelas que passam perto do sistema solar alteram o clima da Terra, explicam os astrónomos norte-americanos
De acordo com os astrónomos do Planetary Science Institute, existe uma ligação surpreendente entre as estrelas que passam perto do sistema solar e a órbita e o clima do nosso planeta.

Um novo estudo realizado por cientistas do Planetary Science Institute revelou um segredo chocante: as estrelas que passam perto do sistema solar não só decoram o céu noturno, como também têm o poder de alterar o destino orbital da Terra e, assim, moldar o seu clima ao longo de milénios.
As estrelas têm impacto na nossa órbita
Como todos sabemos, a órbita da Terra em torno do Sol é dinâmica e está sujeita a variações, atribuídas sobretudo à influência gravitacional exercida pelos gigantes gasosos do nosso sistema solar, como Júpiter e Saturno.
No entanto, um novo estudo revela um fator adicional: à medida que o Sol e outras estrelas orbitam em torno do centro da Via Láctea, ocorrem encontros estelares que causam perturbações nas órbitas planetárias.
Stellar Cartography: Passing Stars Altered Orbital Changes For Earth And Other Planets
— David Ullrich (@DavidUllrich202) March 26, 2024
Illustration of the uncertainty of Earths orbit 56 million years ago due to a potential past passage of the Sun-like star HD7977 2.8 million years ago. Each points distance from the center pic.twitter.com/zjiR4qvhuw
Estes acontecimentos, embora raros em termos cósmicos, têm um impacto considerável na evolução orbital da Terra e, consequentemente, influenciam o nosso clima ao longo de milhões de anos.
Como é que estas estrelas distantes podem influenciar o nosso clima?
O Planetary Science Institute utilizou simulações avançadas para reconstruir o passado orbital da Terra. Qual é o resultado?
Recorde-se que a excentricidade da órbita da Terra é um fator crucial que determina a forma da trajetória da Terra em torno do Sol. Este parâmetro influencia significativamente a quantidade de radiação solar que o nosso planeta recebe, bem como a intensidade das estações do ano e os ciclos climáticos a longo prazo.
A que distância da Terra é que a estrela se deve aproximar?
Embora a influência gravitacional de uma estrela sobre a Terra e a sua excentricidade orbital dependam de vários fatores-chave, como a massa estelar, a distância de aproximação, a velocidade e a orientação da Terra, estima-se geralmente que uma estrela teria de passar a uma distância de 1 ano-luz ou 63,241 unidades astronómicas (UA) para ter um efeito percetível.

No entanto, mesmo uma estrela que passe a uma distância maior pode ter uma influência significativa se a sua massa for suficientemente grande.
Dois acontecimentos que alteraram o clima da Terra
Um excelente exemplo deste fenómeno é a aproximação da estrela HD 7977 a cerca de 2,8 anos-luz do Sol, há cerca de 2,8 milhões de anos. Este acontecimento despoletou um aquecimento abrupto, conhecido como o Máximo Térmico do Plioceno, que intrigou os cientistas durante décadas.
Graças a este estudo, podemos agora fornecer uma explicação mais clara: estrelas próximas deixaram a sua marca na órbita da Terra, aumentando a sua excentricidade e provocando um aumento de temperatura entre 5 e 8 °C.
This beauty is an illustration of Scholz's star! Nearly 70,000 years ago, it zoomed pass the outer edge of our solar system carrying its companion, a likely brown dwarf, along for the ride. Heres what we know: https://t.co/842PQdV0Gx pic.twitter.com/Fj7wXbFlm9
— NASA (@NASA) February 26, 2019
Outro caso ilustrativo é o encontro com a Estrela de Scholz, que se estima ter passado a apenas 0,8 anos-luz do Sol há cerca de 70000 anos. Esta proximidade pode ter despoletado uma glaciação na Terra, sublinhando ainda mais o impacto que as estrelas que passam podem ter no nosso planeta.
Referência da notícia:
Kaib, Nathan & Raymond, Sean. (2024). Passing Stars as an Important Driver of Paleoclimate and the Solar System’s Orbital Evolution. The Astrophysical Journal Letters. 962. L28. 10.3847/2041-8213/ad24fb.