Estarão os solos agrícolas a adoecer?
Lenta e ininterruptamente, por modelação estrutural, ação climática e, na última década do milénio, por ação antrópica, os solos deste planeta foram-se formando, propiciando diversos usos e viabilizando assim a vida humana.
A superfície do planeta Terra está coberta por uma singela camada de material não consolidado, matéria mineral e orgânica, denominada de solo, um sistema dinâmico que desempenha papel elementar na existência de vida. A civilização começou por concentrar-se em zonas com solos propícios à agricultura, com boas capacidades hídricas e nutritivas, mas a acompanhar a história, foram sendo gradual e nefastamente devastadas florestas para uso quer como espaços agrícolas, quer para a criação de animais, vilipendiando a “pele” do planeta, ao expor os solos à poderosa ação transformadora de agentes climáticos como o vento e a precipitação, causando assim aridez e ameaçando a sobrevivência dos ecossistemas.
Considere-se que o mecanismo de formação dos solos se processa sob um moroso compasso de entre 100 a 400 anos para a “organização” de apenas 1 cm, sendo necessários, de entre mil a 10 mil anos para a criação de uma produtiva camada de 30 cm, o chamado solo fértil. Trata-se dum processo que resulta da simbiose perfeita entre a decomposição das rochas-mãe, a associação entre diversos seres microscópicos e o reaproveitamento da matéria decomposta (húmus), uma cíclica fertilização natural que dá vida aos solos. Apesar de à mercê dos fatores erosivos naturais, o Homem conseguiu superar o poder dos efeitos da natureza nos solos, e acelerou em cerca de 2.5 vezes a velocidade de destruição da terra arável do planeta.
De acordo com dados da FAO, nos últimos 5 mil anos, o Homem reduziu as áreas verdes do planeta para uns singelos 20%, estando a mancha florestal mundial a diminuir a um alarmante ritmo de cerca de 11 milhões de hectares por ano!
Como consequência da escassez de coberto vegetal, os solos foram sofrendo degradação provocada quer pela expansão urbana, exploração mineira, construção de vias de comunicação, quer pelos mais diversos usos agrícolas, culturas intensivas e inadequadas, pela salinização, compactação, erosão eólica e por escorrência, sendo que, já há cerca de 4 décadas, a FAO alertava para os reduzidos 11% da área ainda cultivável no planeta.
Terão os pesticidas invadido a cadeia alimentar?
É determinante a nocividade que o efeito da poluição infere ao recurso natural solo (descargas químicas, lixos industriais) envenenando-o, aumentando a sua salinidade, estreitando a sua camada viva, e interrompendo assim o seu normal ciclo de recriação.
O contínuo aumento demográfico, despoleta a crescente demanda por alimentos, implicando o uso de pesticidas nas plantações para prevenir e combater pragas, a fim de assegurar uma maior produtividade. Contudo, o que pode representar uma mais-valia na garantia de alimento, revela-se uma perigosa consequência, considerando a contaminação dos ecossistemas, o risco das fontes de água potável, assim como os efeitos daí provenientes para a saúde humana. O papel dos pesticidas no ciclo da regeneração dos solos é extremamente danoso, uma vez que a sua volubilidade possibilita a degradação por via química, biológica - a fotólise, ação de microrganismos, podendo ser absorvidos nas partículas do solo, sofrer lixiviação e atingir os lençóis freáticos, ou ser transportados à superfície, ou pelo ar percorrendo longas distâncias.
Na atualidade, os chamados agro-tóxicos são já constituintes da cadeia trófica, uma vez que se encontram nos vegetais, nas carnes de animais e na água potável que os seres humanos consomem. E, o seu efeito manifesta-se através de doenças cancerígenas, do foro neurológico e, inclusive, afetam a fertilidade humana. Não respeitando as fronteiras espaciais, considerando a facilidade com que se propagam no ar e que se infiltram nos solos, também os alimentos orgânicos, as culturas biológicas, embora em menor percentagem, são incontornavelmente afetadas pelos pesticidas.
Efetivamente os pesticidas representam importante papel na produção agrícola, uma vez que atuam eficazmente contra o desenvolvimento de pragas, mas o seu uso deve, imperiosamente, ser assertivo, a fim de minimizar impactes negativos no ambiente e na saúde humana. Estima-se que a cada 4 segundos, morre um ser humano devido à fome, um número pesado que obriga a uma boa gestão do recurso solo, a fim de mitigar a sua degradação. O solo, como recurso natural, vital para a existência de vida, deve ser respeitado, uma vez que é perecível, e cada vez mais escasso!