Estão os espaços verdes relacionados com a diminuição da mortalidade?
Numa recente investigação, estima-se que poderiam ser evitadas cerca de 43 mil mortes anuais na Europa, se a recomendação da Organização Mundial da Saúde sobre espaços verdes fosse cumprida.
Viver perto de uma área verde nas cidades melhora a saúde e protege de uma morte prematura. Esta é a conclusão a que chegou uma equipa de cientistas da Organização Mundial da Saúde (OMS), da Universidade do Colorado (EUA) e o Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal).
A inexistência de zonas verdes nas cidades tem um impacto negativo na saúde dos habitantes. A inacessibilidade a essas áreas verdes em cerca de mil cidades de 31 países europeus, os 27 da União Europeia, mais Reino Unido, Suíça, Noruega e Islândia, está por detrás de quase 43.000 mortes anuais, segundo as estimativas de um estudo publicado na revista The Lancet Planetary Health, liderado pela Evelise Pereira, investigadora do Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal).
Para chegar a essa conclusão, os investigadores partiram de recomendações contidas num relatório do escritório regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Europa, que propõe que os cidadãos tenham acesso a um espaço arborizado a uma distância linear até 500 metros do seu domicílio, o equivalente a cinco minutos de caminhada. As áreas verdes têm benefícios para a saúde física e mental, conforme determinaram inúmeros estudos científicos.
O estudo salienta que os espaços verdes estão associados à redução da mortalidade por causas naturais, assim como os benefícios associados à possibilidade de fazer exercício físico nessas áreas e à redução da poluição, também vinculada à presença de vegetação.
O estudo conclui que nas cidades europeias analisadas (perto de 1000) a mortalidade chega a 42.968. Em Espanha, onde foram estudadas 100 aglomerações urbanas, o número de mortes por ano foi estimado em 3.809.
O impacto em Espanha é menor do que noutras zonas da Europa, tendo em conta apenas as capitais, Bruxelas, Copenhaga, Budapeste, Paris e Atenas, que são as cidades do continente com os piores resultados pela falta de acesso a áreas verdes. Madrid é a quinta cidade europeia, com menos impactos negativos por este motivo. Estima 620 mortes relacionadas ao pouco acesso a zonas verdes.
A área metropolitana de Barcelona, segundo os critérios utilizados para o estudo, está numa situação muito pior que a capital espanhola e mais afastada das recomendações da OMS. Para Barcelona, estima-se uma mortalidade de 924 pessoas, o que significa que acumula quase 25% das mortes vinculadas à falta de acesso às áreas verdes entre uma centena de cidades espanholas analisadas. A capital catalã é especialmente prejudicada pela sua alta densidade populacional e a dispersão dos parques e áreas verdes.
A investigadora admite também que este estudo tem uma limitação importante: a dificuldade de avaliar os efeitos positivos para a saúde das chamadas áreas azuis, ou seja, o mar, lagos e rios. Segundo Evelise, não há evidências suficientes que ajudem a quantificar esses impactos devido à ausência de estudos neste campo.
O ranking em Portugal
Este ranking coloca a cidade de Guimarães como exemplo para toda a Europa. Os dados foram publicados com destaque para as cidades de Guimarães e Paredes.
Guimarães é uma das melhores cidades para viver em toda a Europa nos indicadores de espaços verdes e também no que toca à poluição do ar. A "cidade-berço" chega mesmo a ocupar a segunda posição europeia de áreas verdes com o melhor índice de mortalidade e proximidade das casas a espaços verdes.
O ranking que compara a poluição do ar e zonas verdes destaca várias cidades portuguesas como Porto, Lisboa ou Setúbal, que concentram maiores quantidades de poluição do ar, deixando-as com um “aviso amarelo”. Já Viseu, Sintra, Braga e Guimarães estão no “verde”, mas com um aviso de que com menos poluição poderiam evitar-se muitas mortes por ano.
Na categoria de vegetação e espaços verdes, o ranking mostra várias cidades portuguesas com selos “laranja” e “amarelo” como Funchal, Ponta Delgada, Lisboa, Porto, Póvoa de Varzim e Sintra a destacarem-se pela negativa. Pela positiva, Paredes e Guimarães saem a ganhar com maiores áreas verdes e com o número de mortes que poderiam ser evitadas - muito baixo.
A configuração urbana das cidades europeias, com muitos anos de história e elevada densidade populacional, dificulta o acesso às áreas verdes. Esta investigação abre caminho a novas ideias como por exemplo nas cidades que se estão a redesenhar sem abrir mão da sua essência, através da recuperação de antigas zonas industriais, ou através de edifícios públicos como colégios para aumentar as áreas verdes.