Esta IA pode realmente traduzir pensamentos?

Investigadores americanos criaram um implante que utiliza Inteligência Artificial para restaurar a capacidade de falar. Um verdadeiro avanço científico, ainda experimental, mas que poderá dar frutos dentro de cinco a dez anos.

bandeira dos Estados Unidos
A experiência foi levada a cabo nos Estados Unidos.

Expressar-se. Nada era mais importante para Ann do que isso. Em 2005, esta ex-professora de matemática sofreu um ataque cardíaco que a deixou incapaz de falar. Recentemente, esta mulher, agora com 47 anos e tetraplégica, testou uma ferramenta experimental que pode melhorar significativamente a sua vida diária: um implante cerebral capaz de traduzir os seus pensamentos em palavras. E isto, quase instantaneamente.

O implante não é invasivo

Foram investigadores americanos, mais precisamente da Universidade da Califórnia em Berkeley, que desenvolveram esta tecnologia, alimentada por inteligência artificial (IA). Eles anunciaram que o teste com Ann foi um êxito a 31 de março. O artigo sobre este assunto foi publicado na revista Nature Neuroscience.

O dispositivo consiste num implante colocado na superfície do cérebro, que conecta certas áreas do cérebro a computadores. Graças a isto, os médicos conseguiram permitir que pessoas que perderam a capacidade de falar comunicassem novamente. Um grande passo que pode mudar a vida de muitas pessoas.

O atraso diminuiu de 8 segundos para 80 milissegundos

Esta não é a primeira vez que a equipa de investigadores tenta isto. Eles já tinham tentado utilizar uma interface cérebro-computador para traduzir pensamentos em fala. No entanto, o computador levou até oito segundos para expressar os pensamentos de Ann através da voz da IA. Agora, o atraso é bem menor: de 80 milissegundos.

investigadores
Os investigadores querem implementar este dispositivo nos próximos anos.

Gopala Anumanchipalli, autor principal do estudo, explica que "o novo método de transmissão converte sinais cerebrais em fala personalizada em tempo real, um segundo após a voz desejada". Uma melhoria considerável para a vida social de Ann, pois ela quer requalificar-se como orientadora educacional universitária.

Os médicos procederam da seguinte forma: durante os testes, frases apareciam num ecrã e Ann tinha que dizê-las mentalmente. O investigador explica que o dispositivo capta o sinal cerebral depois do que o indivíduo decide o que dizer, escolhe as palavras e como movimenta os músculos do trato vocal.

Graças a uma IA modelada com base na voz de Ann, foi possível recriar a fala utilizando gravações de voz de antes do acidente.

Este resultado exigiu muito treino, com milhares de frases que Ann teve de dizer na sua cabeça para tornar a IA o mais precisa possível. Hoje, a tecnologia ainda tem um vocabulário limitado de 1024 palavras.

Patrick Degenaar, professor da Universidade de Newcastle, em Inglaterra, não esteve envolvido no estudo, mas diz que ainda é "uma prova de princípio muito inicial". Os cientistas, por sua vez, esperam ver esta tecnologia implementada dentro de 5 a 10 anos.

Referências da notícia

Un implant cérébral permet à une patiente de traduire ses pensées en paroles, dix-huit ans après avoir été victime d'un AVC. 01 de abril, 2025. franceinfo avec AFP.

Etats-Unis : Un implant cérébral a permis à Ann, tétraplégique, de traduire instantanément ses pensées en paroles. 01 de abril, 2025. 20 Minutes avec AFP.

Un implant cérébral traduit les pensées en paroles quasi instantanément. 31 de março, 2025. Agence France-Presse.