A Humanidade e o Ambiente: escolhemos um progresso assombroso?

Apesar da crescente sensibilização para o impacte que as actividades humanas provocam no meio ambiente, a resposta ao modo de vida da atual civilização ainda se traduz em nefastas consequências ecológicas.

O cobalto foi descoberto em meados de 1700, tendo a sua cor azul sido utilizada em cerâmicas e esmaltes. Fonte: Wikimedia Commons FK1954

Dos maiores desafios do presente século, a sustentabilidade representa talvez a dificuldade mais delicada de conquistar. Assiste-nos a missão de criar e reunir condições de equilíbrio, entre o meio ambiente, a economia e os valores sociais. Um triângulo intrincado que estrategicamente tem de responder às demandas de uma sociedade cada vez mais consumista, e onde erradamente deixou de ser considerado o valor maior: garantir o mínimo de dignidade humana.

Tal como a agricultura, a exploração mineira constitui um vetor que, determinantemente, exponenciou o desenvolvimento da humanidade. Todavia, avançando na escala do tempo, é percetível que o meio ambiente, progressivamente, tenha vindo a deixar de ser entendido como um espaço comum, de bens coletivos, cujos usos “privados”, afetam todo um mecanismo que envolve Homem e Meio, gerando irremediáveis impactes físicos assim como conflitos sociais.

Muitos seriam os exemplos que poderiam ser aludidos, contudo, pela sua plurivalência, pretende-se enfatizar o cobalto. Trata-se do trigésimo elemento mais abundante na litosfera, encontrando-se combinado com mais de 200 minerais, como a esmaltita ou a cobaltita, e associado a outros tantos elementos metálicos, como o níquel, o cobre e a prata.

Depois de extraído e reduzido por eletrólise, o cobalto é um líquido meio viscoso, altamente ácido e de odor ligeiramente adocicado. É um metal com ampla aplicação, imprescindível, por exemplo, para a produção de aços com especial capacidade de dureza e resistência, ou elétrodos de baterias recarregáveis.

Porquê falar do cobalto?

É um componente elementar para o fabrico dos imprescindíveis smartphones e computadores, e de toda uma panóplia de dispositivos eletrónicos móveis, assim como dos cada vez mais na moda, veículos elétricos, neste caso um elemento essencial para as suas baterias “ecológicas”. Assim, o cobalto constitui a alavanca económica de estados como a República Democrática do Congo, país que delimita a maior área geográfica onde abunda o “ouro” do presente, e onde é produzido cerca de 60% do cobalto usado em todo o mundo!

Inicialmente a cerca de 18 mil Euros por tonelada, o seu valor de venda subiu para mais de 60 mil Euros por tonelada.

Antagonicamente, trata-se de um dos países mais pobres do planeta, estando na 137ª posição (em 189) no ranking de 2018, do Índice de Desenvolvimento Humano. Além disso, é socialmente muito instável devido quer a conflitos étnicos internos, quer à inexistência de instituições estatais eficazes. Por isso, os minérios representam a única fonte de sustento para muitíssimas pessoas.

O que acontece na região da maior extração de Cobalto?

Existem seres humanos que, a troco de uma míngua muito inferior a 1€ por dia, diga-se, sem filtro sexual ou etário (“mão-de-obra” recrutada com apenas 4 anos de idade), durante 12 horas, se escravizam a um trabalho extenuante, sem qualquer segurança ou condição. Enfrentam árduas empreitadas em exíguos túneis de minas, escavados com recurso a ferramentas rudimentares, às vezes talhadas à mão, sem suportes e qualquer equipamento de protecção. Estão em laboração constante, mesmo sob adversas condições atmosféricas num país de clima equatorial, onde o regime pluviométrico varia entre 50 e 260 mm.

Trabalham descalços sob ameaçadora intimidação e em ritmo frenético. Carregam sacos pesados com a extração fragmentada, e não raras vezes, com privação de alimentos, como medida corretiva. Destaque-se que a exposição dos seres humanos ao manuseamento e a vapores decorrentes da atividade extrativa do cobalto, causa graves problemas de saúde no médio e longo prazo, manifestando-se em congestionamentos respiratórios, como hemorragia pulmonar, dermatite alérgica, perturbações gastrointestinais, severos danos no fígado... Todos estes efeitos, sem que os milhares de seres a isto expostos, sejam suficientemente ilustrativos para carecer de preocupação.

Valerá a ditadura das inegáveis vantagens lucrativas de alguns, a incúria e dolosa indiferença de todos os utilizadores daquilo que o progresso propicia? O equilíbrio da relação entre bem-estar do planeta e o bem-estar humano urge em ser o propósito maior da civilização atual, em prol da sua própria continuidade enquanto espécie!