Emissões de CO2: os modelos climáticos baseiam-se em dados erróneos?
As emissões de CO2 são realmente responsáveis pelas alterações climáticas? Alguns cientistas questionam esta crença de longa data, sugerindo uma causalidade inversa. Veja esta perspetiva controversa.
Durante décadas, o consenso científico atribuiu o aquecimento global principalmente ao aumento das concentrações de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, devido a atividades humanas como a utilização de combustíveis fósseis.
No entanto, uma minoria de cientistas propõe uma visão radicalmente diferente: e se o aumento da temperatura atmosférica fosse, de facto, a causa do aumento dos níveis de CO2?
Causalidade controversa
De acordo com estudos recentes, em particular os conduzidos por Demetris Koutsoyiannis e os seus colegas, a relação entre a temperatura e o CO2 pode ser bidirecional, ou mesmo inversa, em comparação com o que é comummente aceite.
Utilizando métodos avançados de análise estocástica, estes investigadores sugerem que o aumento da temperatura pode preceder e provocar um aumento dos níveis de CO2.
Provas a favor dos combustíveis fósseis
No entanto, muitos elementos continuam a apoiar a teoria dominante. O Global Carbon Project indica que as atividades humanas, em particular a utilização de combustíveis fósseis, emitem cerca de 40 mil milhões de toneladas de CO2 por ano, 88% das quais provêm destes combustíveis e 12% de alterações na utilização dos solos.
Além disso, as análises dos isótopos de carbono presentes na atmosfera reforçam a ideia de que o excesso de CO2 provém principalmente dos combustíveis fósseis. Desde a era industrial, a diminuição da relação entre o carbono-13 (13C) e o carbono-12 (12C) na atmosfera indica que o carbono adicional provém de fontes fósseis e não naturais.
Os sistemas naturais absorvem mais do que emitem
Outro argumento a favor da teoria tradicional é o facto de os sistemas naturais absorverem mais CO2 do que emitem. Cerca de 45% das emissões de CO2 produzidas pelo homem permanecem na atmosfera, enquanto o resto é absorvido pelos ecossistemas terrestres e pelos oceanos.
Esta absorção pelos sistemas naturais contribui para atenuar o aumento do CO2 atmosférico.
Analogia simples: a banheira
Para compreender melhor esta dinâmica, imaginemos uma banheira onde a água flui e esvazia a um ritmo equilibrado. Se acrescentarmos um pequeno fluxo adicional (emissões humanas), o nível da água aumentará gradualmente ao longo do tempo, perturbando o equilíbrio.
Do mesmo modo, embora as emissões humanas sejam menores do que as emissões naturais, perturbam o equilíbrio e aumentam os níveis de CO2 atmosférico.
Variações históricas e flutuações a curto prazo
É verdade que as alterações climáticas históricas mostram por vezes aumentos de temperatura que precedem os aumentos de CO2, muitas vezes devido a fatores como alterações na órbita da Terra ou atividade vulcânica. No entanto, estas condições não se verificam atualmente.
As flutuações a curto prazo dos níveis de CO2, influenciadas por fenómenos como o El Niño, não contradizem a tendência a longo prazo causada pelas emissões humanas.
A maioria das provas científicas continua a sustentar que as emissões de CO2 provenientes das atividades humanas são o principal fator das atuais alterações climáticas. As teorias que sugerem uma causalidade inversa são intrigantes, mas não conseguem inverter o consenso estabelecido.
Para enfrentar eficazmente as alterações climáticas, é fundamental compreender e aceitar o papel das emissões naturais e antropogénicas.
Qualquer hipótese merece ser examinada, mas as decisões políticas e ambientais devem basear-se nos dados e modelos mais sólidos disponíveis.
Referência da notícia:
Koutsoyiannis, D., Onof, C., Kundzewicz, Z.W., & Christofides, A. (2023). On Hens, Eggs, Temperatures and CO2: Causal Links in Earth's Atmosphere. Sci, 5(35). https://doi.org/10.3390/sci5030035