El Laco: o vulcão mais estranho do mundo
El Laco, um poderoso vulcão situado na região de Antofagasta, no Chile, junto à fronteira com a Argentina, é um dos vulcões mais estranhos, misteriosos e raros do planeta. Venha descobrir porquê!
Região de Antofagasta, Chile. Província de El Loa. Pleno deserto do Atacama. A poucos quilómetros da fronteira entre este país e a Argentina, entre o povoado de Humahuaca (Argentina) e Salar de Atacama (um deserto de sal de onde é proveniente parte do conhecido sal do Atacama) está situado o complexo vulcânico El Laco, um dos mais controversos e intrigantes do planeta.
Localizado a sul da cadeia vulcânica Cordón de Puntas Negras, parte da zona vulcânica central dos Andes, o complexo do El Laco é composto por um grupo de sete estratovulcões e uma caldeira. Estima-se que seja relativamente recente, tendo “apenas” entre 2 a 3 milhões de anos. O cume principal deste complexo, o chamado Pico El Laco, eleva-se a uma altitude de 5.325 metros.
E porque é este vulcão tão estranho? Este é conhecido pelos seus fluxos de lava que contêm magnetite, de origem enigmática. A magnetite é um mineral magnético formado por óxido de ferro, sendo uma importante fonte de ferro, é um mineral que raramente é encontrado em quantidades tão altas como em Kiruna, Suécia (onde foi já reportado) ou o complexo vulcânico de El Laco.
A magnetite é o mais magnético de todos os minerais da Terra e o nome vem da região onde o mesmo era antigamente encontrado, a Magnésia (região da Grécia), que quer dizer "lugar das pedras mágicas", uma vez que estas pedras "magicamente" se atraem.
Já Plínio, o Velho, escritor e militar romano do século I, numa das suas fábulas atribuía o nome da magnetite a um pastor chamado Magnes que descobriu este mineral no Monte Ida (Creta), ao observar que este aderia ao seu calçado.
No total, neste vulcão, podem encontrar-se quatro escoadas lávicas muito semelhantes aos de qualquer vulcão, mas um pouco mais escuros e com formas estranhas de erosão, além de uma formação de natureza incerta.
Estas escoadas lávicas parecem conter rochas convencionais, mas não são, são na verdade formadas por magnetite. É difícil percebê-lo até se ouvir o som metálico do bater de um martelo ou ao aproximar um íman. Com uma lupa também é possível observar que a magnetite é maciça, já que esta possui apenas algumas pequenas inclusões de fluorapatite, um mineral rico em fósforo e flúor, e diopsídio, um mineral rico em cálcio e magnésio.
A formação destas rochas provocou um acalorado debate científico. Ainda hoje, mais de 60 anos após sua descoberta, não existe uma teoria unanimemente aceite da sua origem.
A verdade é que no final dos anos 1950, Charles Park, professor da Universidade de Stanford, descreveu fluxos de lava vulcânica feitos de magnetite num local remoto nos Andes. Essa descoberta apoiou a teoria, já levantada pelo geólogo sueco Geiger em 1910, de que rochas semelhantes e muito mais antigas, extraídas da mina de Kiruna, na Suécia, foram formadas pela cristalização de um magma desconhecido e rico em ferro.
O El Laco reveste-se de uma particularidade especial: abaixo há evidências geológicas de que existem grandes camadas de sal depositadas num ambiente marinho de entre 40 a 90 milhões de anos atrás. A relação com o sal repete-se em poucos lugares do mundo onde existem depósitos similares de magnetite.
Uma explicação possível é a de que o magma de composição mais comum nesta região (o andesito, rocha magmática comum desta cordilheira) ao ascender pela crosta terrestre, e já próximo à sua superfície, é acompanhada por sal e substâncias que promovem a fluidez dos metais e que, juntamente com o andesito, facilitam a formação destes magmas tão ricos em ferro.
Resquícios dessas rochas foram aqui encontrados, como fragmentos lançados pelo vulcão ou na forma de pequenas inclusões dentro da própria magnetite.
Esta relação incomum entre magmas de origem profunda e camadas de sal ajuda a explicar a raridade de vulcões como o El Laco.