E se o supercontinente Pangeia nunca se tivesse fragmentado? Como seria a vida na Terra?
Durante o Paleozóico existia apenas um continente: a Pangeia. Esta começou a fragmentar-se durante o Triássico Superior, dando origem aos atuais continentes. Mas o que seria da Terra se esta não se tivesse fragmentado?
Entre os períodos da escala de tempo geológica, Pérmico e Triássico, os atuais continentes estavam agrupados num supercontinente chamado Pangeia. Contudo, a partir do final do período Triássico e devido à tectónica de placas, este supercontinente começou a dividir-se, dando origem, pouco a pouco, à disposição geográfica que hoje conhecemos.
Com esta separação podemos observar diversas diferenças entre cada continente, principalmente ao nível do clima, que, obrigatoriamente, se traduz em diferenças na biodiversidade, incluindo diferentes faunas e floras, e até mesmo nas características de cada povo nativo (fenótipos) que também estão relacionadas com o tipo de clima dominante.
Mas e se a Pangeia nunca se tivesse fragmentado? O impacto direto nas características do ser humano
Comecemos pela cultura que seria muito afetada caso a Pangeia nunca se tivesse separado. Não haveria praticamente nenhuma cultura diversificada, o que significa que muitas das comidas, línguas e músicas tradicionais nunca teriam existido.
Também os fenótipos, principalmente, dos humanos não seriam tão diversificados como atualmente. Isto é, o tipo de clima de cada continente influencia diretamente as principais características do ser humano.
Por exemplo, em África e noutras regiões tropicais, o tom de pele tende a ser mais escuro de forma a proteger o corpo da radiação solar intensa. No entanto, a pele clara no centro-norte da Europa permite a penetração de radiação solar, mais rara na região, para síntese de vitamina D.
O mesmo acontece com o cabelo, que quando encaracolado e volumoso, cria uma camada protetora sobre a cabeça que diminui o risco de insolação em locais extremamente quentes.
Ou com os narizes, que em áreas frias ou secas são finos e chatos de forma a proteger o epitélio nasal contra ressecamento, além de maximizar o aquecimento do ar inspirado. Já as narinas largas e grandes, desenvolvidas em climas quentes e húmidos, facilitam a troca de vapor dos pulmões e trato respiratório, além de ajudar no arrefecimento do corpo.
Para além disto, e esta até poderia ser vista como uma vantagem, poderíamos facilmente dirigir-nos a um determinado local de carro (por muito longa que fosse a viagem), pois todos os "países" fariam parte da mesma massa terrestre.
E no resto da natureza? Quais impactos seriam mais significativos?
A conclusão é de que a vida seria muito menos diversificada. Um dos principais motores da especiação - processo evolutivo pelo qual as populações de uma espécie evoluem para se tornarem espécies distintas - é o isolamento geográfico, que leva à evolução de novas características ao sujeitar as criaturas a diferentes pressões seletivas, isto é, quando há isolamento geográfico há maior probabilidade de se criarem novas espécies, ou seja, mais diversidade.
Considere-se, por exemplo, a grande ilha de Madagáscar, que se separou do Gondwana, a metade sul da Pangeia, há 160 milhões de anos. De acordo com a Conservation International, cerca de nove em cada dez espécies de plantas e mamíferos que evoluíram na ilha não se encontram em mais lado nenhum do planeta.
Se a Pangeia nunca se tivesse fragmentado, restringiam-se ainda mais as possibilidades de vida, pois grande parte do seu interior seria árido e quente.
Damian Nance, professor de geociências na Universidade de Ohio.
Tendo em conta o tamanho imenso deste supercontinente, o seu interior iria ser praticamente inabitável, pois seria idêntico a um deserto, dada a distância do oceano e da respetiva influência climática.
A Austrália e a Índia, situados a sul, junto à Antártida, em vez de climas mais quentes como têm atualmente, seriam frios, cobertos por gelo e neve. As terras situadas no meio da Pangeia (equivalente à linha do equador), seriam florestas húmidas exuberantes, com níveis de precipitação muito acima dos que observamos hoje.
A norte, onde provavelmente se situaria o território que atualmente corresponde à Rússia, o clima seria mais quente do que é na realidade. Ou seja, as condições à vida, ainda que possíveis, seriam mais complicadas, como podemos reparar.