Dust Devils provocam problemas na recolha de dados em Marte
As poeiras aparecem diariamente em Marte e tem causado estragos em vários equipamentos enviados para lá, como na sonda InSight – perda de energia contínua - bem como as “mortes” do Opportunity e do Spirit. Nunca se compreendeu realmente o que provoca a ascensão da poeira... até agora!
O equipamento que costuma ser gravemente afetado pela poeira, não é, por norma, montado para monitorizar o comportamento da mesma. E se o for, terá sido enviado para um local marciano onde não há muito poeira. Mas agora, isso mudou com novas leituras do Perseverance na cratera de Jezero e a resposta não deverá causar grande surpresa: os redemoinhos de poeiras (“Dust Devils”) sugerem ser fonte de parte da poeira na atmosfera de Marte. Contudo, além deste fator, os ventos fortes também contribuem com uma quantidade significativa.
De acordo com novo artigo publicado na revista Science Advances - elaborado por uma equipa de mais de 45 cientistas – há agora registos dos dados recolhidos pelos instrumentos do Perseverance, concebidos para estudar o ambiente marciano. O Sensor de Radiação e Poeira (RDS) integra um pacote mais vasto de instrumentos conhecido como o Analisador de Dinâmica Ambiental de Marte (MEDA).
Este instrumento pode detetar alterações nas condições ambientais que ocorreriam em torno do rover aproximadamente uma vez por segundo. A causa mais provável destas alterações seria a presença de Dust Devils.
A combinação de vários instrumentos em Marte que ajudam a entender este fenómeno
No entanto, isto não é suficiente para detetar estas alterações, dado que poderiam estar a ser originadas por outras fontes que não os Dust Devils. Neste sentido, foi decidido que o RDS combinaria as suas capacidades com outro instrumento pertencente ao MEDA: o Sensor de Infravermelhos Térmicos (TIRS), cuja função passa por providenciar dados sobre o fluxo radiativo de rastreio em torno do rover.
A combinação conjunta dos dados recolhidos por estes dois instrumentos permitirá aos cientistas perceber de um modo abrangente se um redemoinho de poeira atingiu ou não o rover.
Algo que acontece frequentemente, umas quatro vezes por dia, quando o rover fica sujeito a "vórtices convectivos", termo técnico para os movimentos verticais do ar que são suficientemente fortes para serem sentidos.
Um em cada quatro destes vórtices arrasta poeira suficiente para ser concebido como aquilo a que convencionalmente designaríamos de Dust Devil. Aparentemente, a sua existência poderia ser a origem da maior parte da poeira que chega ao ar. Mas não são a única fonte.
Além dos Dust Devils, a existência de ventos fortes
Também foram recolhidas algumas evidências de fortes rajadas de vento que não são capazes de se transformar verdadeiramente num convencional Dust Devil, mas que podem forçar uma quantidade significativa de poeira a entrar no ar por si mesma.
Embora não se revelassem necessariamente tão poderosos como os redemoinhos de poeira, a área que cobriam era muito maior, com a maior delas a mostrar-se dez vezes maior do que o maior redemoinho de poeira. Apesar de serem muito mais fracos, eram perfeitamente capazes de lançar grãos de poeira de dimensões bastante mais reduzidas, minúsculas mesmo, para a atmosfera.
Segundo o considerado pelos cientistas, há uma quantidade relativamente semelhante de poeira na atmosfera marciana que poderia ser causada quer por Dust Devils quer por umas rajadas de vento mais concentradas e direcionadas.
Mas independentemente disso, a presença de instrumentos em Marte capazes de recolher dados sobre a origem da poeira constitui um avanço na compreensão do ambiente marciano e pode, também, contribuir para uma forma de perturbar este processo potencialmente destrutivo, se alguma vez se chegar a tanto.