Depósito de sal em Marte com a forma de cara sorridente foi descoberta em missão espacial da ESA

Depósito de sal com forma de cara sorridente foi descoberto em Marte pela missão da Agência Espacial Europeia, atraindo o interesse público e científico. O estudo foi, entretanto, publicado na Nature.

Descoberta em Marte
Nova descoberta em Marte: foram detetados depósitos de sal no formato de smile em missão espacial da ESA.

Curiosamente, uma nova descoberta marciana, captada pelo instrumento CaSSIS (Colour and Stereo Surface Imaging System) da missão TGO (Trace Gas Orbiter) da Agência Espacial Europeia (ESA), está a atrair a atenção dos cientistas e do público em geral.

Uma das imagens obtidas mostra um depósito de sal em Marte que, curiosamente, se assemelha a uma cara sorridente. Embora este detalhe seja meramente uma coincidência, a imagem oferece uma leitura sobre os processos geológicos do planeta vermelho e da sua história hídrica.

Estudo de depósitos de sal em Marte

O estudo fotográfico orbital foi realizado com o objetivo de analisar os depósitos de cloreto na superfície marciana. Os cientistas identificaram um total de 965 candidatos a depósitos de sal, cujos diâmetros variam entre 300 e 3 000 metros. Estas formações são de grande interesse, porque facultam indícios sobre a presença de água em Marte no passado.

De acordo com os investigadores, estes depósitos de cloreto terão provavelmente sido formados em lagos ou charcos pouco profundos, onde a água ou salmoura se evaporou devido à exposição ao Sol. Este processo é semelhante ao que acontece na Terra em salinas, onde a água salgada é deixada a evaporar em tanques superficiais para produzir o produto final – o sal. A identificação e o estudo destes depósitos são cruciais para compreender melhor o clima em Marte e a potencial habitabilidade do planeta.

A importância dos depósitos de cloreto

Os depósitos de cloreto são indicadores de que Marte já teve água líquida na sua superfície, o que tem importantes implicações para o estudo da sua habitabilidade. Segundo os cientistas envolvidos no estudo, as águas extremamente salinas poderiam ter criado um ambiente favorável à vida.

“As elevadas concentrações de sal permitem que a água permaneça em estado líquido, mesmo a temperaturas tão baixas como -40 °C”, explicam os autores do estudo publicado na Nature.

Esta característica sugere que regiões com altos níveis de salinidade podem ter servido como refúgio para a vida microbiana, ou, pelo menos, como áreas habitáveis em períodos anteriores da história do planeta.

A descoberta de depósitos de cloreto em Marte contribui para o crescente corpo de evidências de que o planeta tinha uma quantidade assinalável de água no passado. Este tipo de depósito tende a ocorrer em depressões geográficas e áreas de baixa altitude, o que reflete processos de evaporação em ambientes aquosos pouco profundos. São também essenciais para mapear a distribuição de água à superfície e para traçar a evolução climática de Marte.

Para tal, o instrumento CaSSIS a bordo da missão TGO tem desempenhado um papel cruciforme na identificação destes depósitos. Com a utilização de imagens de alta resolução e tecnologia de infravermelhos, o CaSSIS permite distinguir o terreno com cloreto de outras formações geológicas, algo que não é possível com imagens em preto e branco convencionais.

Nas imagens infravermelhas a cores, o terreno com cloreto de sódio aparece com tons de rosa ou violeta, permitindo aos cientistas uma análise mais precisa da distribuição de sal em Marte. Sem esta tecnologia, seria fácil confundir os depósitos de cloreto com outros materiais de tons claros, como as argilas. A capacidade do CaSSIS para esta distinção cromática faz dele uma ferramenta essencial para a exploração de Marte.

Os resultados do estudo

O estudo revelou a presença de depósitos de cloreto em várias regiões de Marte, com uma concentração significativa nos planaltos a norte, até aproximadamente 36º N. Estes depósitos tendem a ser mais pequenos do que os encontrados nas regiões do Sul e estão predominantemente localizados em depressões topográficas de pequena escala.

Uma das contribuições mais significativas deste estudo foi a utilização de redes neurais para mapear os possíveis depósitos de cloreto com base nas imagens obtidas pelo CaSSIS. Desta forma, foi possível identificar depósitos anteriormente desconhecidos, expandindo o mapa de distribuição de cloretos e ajudando a informar futuras campanhas de imagem e modelação geológica.

Além disso, os depósitos salinos são também importantes do ponto de vista da ciência planetária, uma vez que ajudam a reconstruir a evolução geológica e climática de Marte. O conhecimento da distribuição de água na sua superfície, ainda que no passado distante, é essencial para compreender como Marte se transformou no planeta árido e frio que conhecemos.

Referência da notícia:

Bickel, V. T., Thomas, N., Pommerol, A., Tornabene, L. L., El-Maarry, M. R., & Rangarajan, V. G. (2024). A Global Dataset of Potential Chloride Deposits on Mars as Identified by TGO CaSSIS. Nature Scientific data, 11(1), 845.