Decifrado o que acontece com o cérebro quando dá “uma branca" na nossa mente

Um estudo publicado pela Universidade da Califórnia verificou a existência de uma rede neural padrão que é ativada durante o estado de repouso. Como funciona isto?

cérebro, mente vazia
A DMN é uma rede neural que opera quando não estamos focados em nenhuma tarefa específica.

O cantor e compositor argentino León Gieco popularizou o conceito de “pensar em nada” na sua canção e álbum homónimo do início dos anos 1980, sugerindo que na solidão talvez se possa encontrar alívio para a dor de pensar demais, a busca pela paz na ausência de pensamentos.

Isto é possível? Podemos realmente não pensar em nada? Como deixar a nossa mente vazia?

Um estudo realizado por especialistas da Universidade da Califórnia e publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences investigou esta questão e encontrou um padrão comum no cérebro quando as pessoas estão com a “mente em branco”, vazia.

Este padrão de atividade cerebral é conhecido como 'Default Mode Network' (DMN) ou rede neural padrão.

Segundo o site Notícias Argentinas, a DMN é uma rede neural que opera quando não estamos focados em nenhuma tarefa específica. O estudo explica que está relacionado a processos cognitivos como introspeção, imaginação, memória e consolidação de novas memórias.

Entre as descobertas mais significativas, destaca-se que o padrão de atividade cerebral em repouso poderia prever o desempenho mental futuro. Nesse sentido, os estados mentais de repouso são importantes indicadores da capacidade cognitiva. Dito de outra forma, a atividade cerebral em repouso pode ser a base para a atividade mental focada no futuro, uma vez que o cérebro usa o tempo aparentemente de inatividade para planear e preparar-se para tarefas e decisões futuras.

Por sua vez, foi demonstrado que as diferentes redes cerebrais que são ativadas durante o estado mental de repouso seriam um indicador da saúde e da capacidade cognitiva do cérebro.

Como foi realizado o estudo para analisar a “mente vazia”?

O estudo foi realizado por uma equipa de 9 especialistas sob a liderança do Dr. Mladen Sormaz, professor do Departamento de Psicologia da Universidade de York. Foi realizado com base em 200 casos e por meio de dois experiências.

Na primeira experiência, 145 participantes foram convidados a realizar uma tarefa de 12 minutos que exigia intenso esforço mental. Em seguida, estes foram separados em três grupos: um continuou a exigir o cérebro, outro começou a realizar uma tarefa de relaxamento e meditação, e o terceiro teve de ficar sentado numa sala em silêncio, sem nada para fazer.

mente vazia, em branco
As diferentes redes cerebrais que são ativadas durante o estado mental de repouso seriam um indicador da saúde e da capacidade cognitiva do cérebro.

Durante a segunda experiência, 50 novos participantes receberam uma tarefa que envolvia o processamento de informações visuais complexas. Foram então divididos em dois grupos: um continuou com a mesma tarefa, enquanto o outro ficou sentado numa sala silenciosa, sem qualquer atividade, por 15 minutos.

Em ambos os testes, a atividade cerebral dos participantes foi medida antes e depois das diferentes tarefas, utilizando uma técnica de imagem cerebral chamada ressonância magnética funcional (RMf). Foi assim que se chegou à conclusão acima mencionada: existe um padrão comum de atividade cerebral (DMN) que aparece quando aparentemente não estamos a pensar em nada em particular.

Finalmente determinaram que ter uma “mente em branco”, vazia, não implica necessariamente ser improdutivo, visto que neste estado, certas regiões do cérebro continuam a processar informações sensoriais, de modo que o cérebro analisa o ambiente e processa informações continuamente.

Referência da notícia:
Sormaz, M. et al. Default mode network can support the level of detail in experience during active task states. Proceedings of the National Academy of Sciences, vol. 115, n. 37, 2018. https://doi.org/10.1073/pnas.1721259115