De onde vêm e para onde vão as nuvens de poeiras?

As nuvens de poeiras e a análise do comportamento das mesmas é uma matéria que ocupa regularmente os meteorologistas. Estes profissionais tentam compreender os impactos destes fenómenos, nos territórios que atravessam. Fique a saber tudo connosco!

Céu alaranjado.
Céu alaranjado devido à presença de uma nuvem de poeiras.

No Hemisfério Norte, as nuvens de poeiras são fenómenos relativamente frequentes com uma origem bem definida: o deserto do Saara, nomeadamente a sua parte mais ocidental. O movimento do ar quente e seco, em altitude, é responsável pelo transporte de poeiras, geralmente para Oeste, mas também para Noroeste ou mesmo para Norte, afetando a Península Ibérica.

Os movimentos do ar associados à circulação geral da atmosfera levam as poeiras a atravessar o Oceano Atlântico até ao continente Americano, podendo percorrer distâncias superiores a 7000 km. Foi este processo que foi fotografado do espaço por um astronauta da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês). Na fotografia, obtida a 23 de junho deste ano utilizando uma lente de grande resolução, pode observar-se uma tempestade sobre a Ilha de Andros, uma das ilhas do arquipélago das Bahamas, e as poeiras transportadas do Sahara numa camada superior da atmosfera.

Se o ar que se encontra sobre o oceano perder humidade, perde igualmente a capacidade de ajudar à criação de nuvens, deixando de alimentar as tempestades e os furacões.

Da perspetiva do astronauta que tirou a fotografia, a ilha de Cuba está completamente “escondida” pela poeira. Nos dois dias seguintes, a população cubana assistiu a uma redução drástica da radiação solar a incidir no solo, pois os raios solares ao incidirem nos grãos microscópicos eram refletidos em várias direções, podendo verificar-se um céu esbranquiçado. A qualidade do ar também se deteriorou rapidamente em vários locais, ao longo do Golfo do México e dos Estados norte americanos da Flórida, Texas e Geórgia. Estas são algumas das consequências da passagem de uma nuvem de poeiras.

Poeiras do Saara versus Furacões do Atlântico

Os cientistas do clima estão extremamente interessados em analisar o impacto que estas poeiras podem ter aquando da formação de furacões no Oceano Atlântico. Segundo alguns estudos, a passagem das poeiras a níveis superiores da atmosfera pode atrasar a passagem das tempestades para furacões.

O ar quente do deserto tem a capacidade de reduzir a humidade do ar que se encontra sobre o oceano. Se o ar que se encontra sobre o oceano perder humidade, perde igualmente a capacidade de ajudar à criação de nuvens, deixando de alimentar as tempestades e os furacões. O ar quente, ao “cortar” o ar frio, acaba por interferir em vários processos, conhecidos por contribuírem para a formação de grandes tempestades.

A densidade da nuvem de poeiras deste ano é uma das maiores já registadas, tendo sido apelidada de nuvem de poeira “Godzilla”. Para identificar fenómenos semelhantes é preciso recuar até aos anos de 1994, 2000 e 2001, anos em foram fotografadas nuvens de poeiras do Sahara sobre o Atlântico Norte, mas bem menos densas.