Crânio de um macaco com 12 milhões de anos encontrado na Catalunha

Um novo estudo, realizado por cientistas dos EUA e da Catalunha reconstrói, através da modelação informática, um crânio de um símio encontrado na lixeira de um município da província de Barcelona. Fique a saber mais aqui!

Escavações
Reconstrução de um crânio do nosso primeiro parente, um grande símio de 12 milhões de anos encontrado na Catalunha.

De acordo com um artigo publicado na revista PNAS, investigadores dos Estados Unidos e do Instituto Catalão de Paleontologia Miquel Crusafont, utilizaram a modelação informática para reconstruir um crânio de uma espécie de macaco cujos restos mortais foram encontrados no decorrer de uma escavação em Barcelona.

Esta escavação estava a acontecer a 4 de dezembro de 2002, quando apareceram os primeiros restos de um primata fóssil no aterro sanitário de Can Mata, em Els Hostalets de Pierola (Barcelona), como resultado de obras relacionadas com a ampliação da instalação de resíduos sólidos.

Nos dias que se sucederam foram recuperados até 83 restos de um indivíduo
adulto
que, após meses de estudo, levaram à descrição de um novo género e espécie: Pierolapithecus catalaunicus.

Contudo, esta primeira publicação deu origem a muitas outras publicações que consideram esta espécie como uma espécie-chave para o estudo da evolução
dos hominóides
, o grupo de símios que inclui os humanos e os nossos parentes
atuais mais próximos, os antropomorfos (gibões, orangotangos, gorilas e chimpanzés).

Modelação informática

Uma equipa de investigação do Museu Americano de História Natural (AMNH), do
Brooklyn College
e do Instituto Catalão de Paleontologia Miquel Crusafont (ICP),
conseguiu reconstruir o crânio, que apesar de bem preservado se encontrava danificado, desta espécie de grande símio que viveu há cerca de 12 milhões de anos.

Com o objetivo de recuperar o aspeto original do crânio antes do processo de fossilização, a equipa realizou uma tomografia computorizada para obter um modelo 3D, permitindo-lhes corrigir virtualmente algumas deformações existentes.

Pierolapithecus catalaunicus

Nesta investigação, os cientistas deparam-se com uma caraterística que antecedeu as adaptações suspensoras dos hominídeos: o corpo ortógrado (tronco ereto).

Esta espécie podia trepar de forma vertical pelos troncos e até deslocar-se em quatro patas sobre os ramos, mas não podia ficar suspensa como fazem outros antropomorfos, como os orangotangos ou os gibões.

"O objetivo desta investigação passa por compreender melhor as afinidades dos seus traços faciais e reconstruir a história evolutiva da face dos hominídeos utilizando abordagens morfométricas comparativas de última geração", explica Sergio Alméci investigador do AMNH e associado ao ICP.

Os resultados apoiam que a forma da face do P.catalaunicus é diferente da dos
orangotangos, gorilas e chimpanzés
atuais, contudo, Sergio Alméci e a sua equipa afirmam que o seu tamanho e a morfologia corporal são bastante semelhantes aos do último antepassado comum dos grandes antropomorfos e dos humanos.

Uma vez corrigida a deformação através de métodos virtuais, a face do Pierolapithecus parece mais alta, com as órbitas e a abertura nasal mais verticalizadas.

Tesouro evolutivo encontrado num aterro

De acordo com os resultados dos estudos, a espécie encontrada em Pau, em Barcelona, era um macho adulto que viveu há cerca de 12 milhões de anos (durante o Miocénico Médio).

Este é outro exemplo do extraordinário registo fóssil de primatas do Miocénico da bacia de Vallès-Penedès (Bacia do Mediterrâneo), que no passado já forneceu outros espécimes relevantes para o estudo da evolução dos hominóides, como Jordi (Hispanopithecus laietanus) ou Lluc (Anoiapithecus brevirostris).

Tanto quanto se sabe a partir do registo fóssil, os hominóides experimentaram uma primeira radiação evolutiva em África durante o Mioceno Inferior (há cerca de 16 milhões de anos), atingindo um primeiro pico de diversidade há cerca de 20 milhões de anos.

Os antropomorfos, por outro lado, tornaram-se mais restritos devido a alterações ambientais, até atingirem a sua distribuição atual na África tropical e no Sudeste Asiático.