Correntes de jato: o que são, a sua descoberta e como afetam o clima?
Neste artigo descreve-se as correntes de jato, quantas há na Terra, quando e quem as descobriu, a sua importância para a vida em sociedade no nosso planeta, e por último, como afetam os padrões climáticos globais. Saiba mais aqui!
A corrente de jato, gerada pela rotação do planeta Terra e pela variação de temperatura entre os trópicos e os polos do planeta, pode ser definida como uma intensa e corrente de ar que corre ao longo de um eixo quase horizontal nas proximidades da tropopausa. A tropopausa, área situada entre a troposfera e a estratosfera, é onde as correntes de jato se deslocam, a altitudes de cerca de 8 a 15 quilómetros. As fortes correntes de ar, semelhantes a rios ondulados e estriados quando vistas num mapa, nascem quando o ar frio e o ar quente chocam.
Podem chegar a atingir vários milhares de quilómetros de longitude e normalmente adotam um aspeto sinusoidal. A sua largura típica apresenta 200 quilómetros e uma espessura que oscila entre 5 e 7 quilómetros. Em torno do seu núcleo ocorre um forte cisalhamento do vento, tanto horizontal como vertical, o que dá origem a áreas de intensa turbulência.
Os ventos sopram, em geral, de oeste para este, a velocidades que variam entre 129 e 225 quilómetros por hora, mas podem chegar a mais de 443 quilómetros por hora.
Quantas correntes de jato há na Terra e como afetam os padrões climáticos
No Planeta Azul existem cinco principais correntes de jato. Graças à simetria esférica da Terra, em cada hemisfério existe um jato polar e um subtropical (ambos de oeste), enquanto que no equador existe uma que corre no sentido contrário (de leste). Por último, tanto no Ártico, como na Antártida, podem, em ocasiões, aparecer os designados jatos estratosféricos.
A corrente de jato polar, situada a 60 ° de latitude, tanto no hemisfério Norte como no Sul, é responsável pela dinâmica geral da atmosfera em latitudes médias. Já a corrente de jato subtropical, que se desloca em torno de 30 ° de latitude, assume uma importância menor na meteorologia da região.
A mudança dos típicos padrões das correntes de jato pode ter um grande impacto no clima. As correntes de jato estão sempre a mudar: deslocam-se para altitudes mais altas ou mais baixas, ou quebram-se e mudam de fluxo, dependendo da estação do ano e de outras variáveis, como a energia solar.
Ao longo do inverno, as correntes de jato tendem a seguir a elevação do sol e a deslocar-se em direção ao equador, movendo-se novamente para os polos durante a primavera. O ar a norte de uma corrente de jato é tipicamente mais frio, enquanto a sul é normalmente mais quente. À medida que as correntes de jato caem ou quebram, impulsionam massas de ar que introduzem alterações nos padrões do clima à escala global.
Utilizações no quotidiano
Os usos no quotidiano têm que ver, por exemplo, com os aviões comerciais. Graças às correntes de jato, são capazes de poupar combustível e diminuir a duração dos seus voos, dado que com o vento a favor aproveitam o aumento da velocidade do mesmo para se deslocarem.
A única precaução que os pilotos devem ter em conta é a de entrar nessa parte central, evitando a travessia por áreas periféricas onde a turbulência mostra-se perigosa. A posição e orientação das correntes de jato vai variando ao longo dos dias. Por vezes, alguma destas pode aparecer numa camada mais baixa da atmosfera.
A descoberta das correntes de jato e a sua aplicação em contexto de Guerra
As correntes de jato foram descobertas pelo meteorologista japonês Wasaburo Oishi (1874-1950) em 1926. Este meteorologista descobriu-as quando utilizou balões meteorológicos para rastrear os ventos das camadas altas à medida que subiam pela atmosfera terrestre, perto do Monte Fuji. O seu trabalho contribuiu significativamente para o conhecimento destes padrões de vento, mas estava, na sua maioria confinado ao Japão.
A primeira referência científica é mais tardia e feita pela autoria de Heinrich Seilkopf (1895-1968), que em 1939 usou a expressão Strahlströmung (corrente de jato). Formas alternativas de nos referimos a elas são jato e jet (do inglês jet stream). Aliás, já no decurso da Segunda Grande Guerra (1939-1945), muitos dos pilotos aliados reportaram acerca da presença de ventos de cauda muito fortes nos seus voos transatlânticos entre os EUA e o Reino Unido. Contudo, em trâmites bélicos, foram os japoneses os primeiros a aplicar o conhecimento das correntes de jato.
Após o lançamento da Operação Doolitle desencadeada em 1942, naquele que foi o primeiro ataque aéreo dos EUA sobre o Japão, a resposta japonesa não se fez esperar. Os EUA não pensavam que o Japão pudesse realmente lançar um ataque aéreo, com 7000 km de distância entre um país e outro, e separados pelo oceano. Era quase inatingível por avião.
Mas a proposta do uso da corrente de jato feita pelo meteorologista japonês Sakuhei Fujiwara, permitiu aos japoneses fazer voos de reconhecimento na costa oeste dos EUA e criar um método engenhoso de ataque, no que ficou conhecido como a campanha fūsen bakudan (campanha balões de fogo). Foram lançados “balões-bomba” gigantescos da ilha de Honshu que transportavam no seu interior imensas bombas incendiárias e explosivas.
Quando os balões conseguiram chegar à corrente de jato, cruzaram o Pacífico em tempo recorde (cerca de 3 dias), e a ideia que parecia ser absurda quase deu certo: alguns balões conseguiram chegar à costa do Alasca, Califórnia, Wyoming, Arizona, no Canadá (Saskatchewan, Territórios do Noroeste e Yukon) e Oregon. O objetivo era chegar aos EUA, largar as bombas para matar pessoas, destruir construções ou deflagrar incêndios florestais. Alguns balões-bomba chegaram a alcançar solo americano e explodir, mas o resultado foi inexpressivo para a conclusão da guerra.
Não se sabe aos certos quantos balões foram produzidos e lançados pelos japoneses, mas, de acordo com registos do FBI, apenas 285 atingiram solo americano e não causaram grandes incêndios. O único incêndio documentado causou a morte de 6 pessoas no estado de Oregon, pelo que em termos oficiais, este foi o único sucesso da campanha fusen bakudan.