Conheça a mortífera tempestade que em 1360 mudou o curso da História
A Meteorologia sempre teve implicações estratégicas nas guerras ao longo da História da Humanidade. Foi numa noite fatídica de combate entre ingleses e franceses durante a Guerra dos Cem Anos, que uma tempestade mortífera acabou por ser decisiva para o curso da História. Contamos-lhe tudo aqui!
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Em Abril de 1360, o exército inglês foi atingido por uma das piores catástrofes relacionadas com o estado do tempo, na sua História. A força de 10.000 homens de Eduardo III, o exército mais poderoso até então reunido para A Guerra dos Cem Anos, ‘desbravou terreno’ por toda a França. O exército francês refugiou-se atrás das muralhas de Paris e recusou-se a combater, forçando o rei Eduardo III a montar um cerco a Chartres.
Com uma força de combate substancialmente menor, tudo parecia indicar que os franceses seriam esmagados pelo cerco inglês. Assim, a velha estratégia de (não fazer nada e esperar por um milagre) foi de novo implementada. Anoitece, e, aquilo que seria uma noite fatídica estava a aproximar-se rapidamente, levando a que o exército inglês começasse a instalar-se e a acampar mesmo no exterior de Chartres.
Foi precisamente a 13 de Abril, segunda-feira de Páscoa, para sempre conhecida como 'Black Monday' ou Segunda-Feira Negra, que os céus se enfureceram. Formou-se uma tempestade súbita e intensa que devastou o acampamento inglês. As temperaturas baixaram drasticamente, ventos violentos destruíram tendas e derrubaram carroças. Um furioso relâmpago caiu, dizimando vários homens. O verdadeiro pânico espalhou-se pelo exército inglês quando a chuva que caía abundantemente, impulsionada pelo vento, deu origem a granizo gigantesco que ao precipitar, acabou por provocar a dispersão dos cavalos e dos soldados.
O milagre francês e um testemunho arrepiante
Um soldado britânico que testemunhou este arrepiante evento meteorológico, descreveu-o assim: "um dia cheio de nevoeiro e granizo para que os homens morressem a cavalo".
Das Crónicas de Jean Froissart, apareceu este relato: "Foi um acidente aquele que surgiu perante Eduardo III e todo o seu exército, quando então estavam diante de Chartres, e que tanto o humilhou e fê-lo perder a coragem". "A tempestade foi de tal forma violenta, recheada de trovões e granizo, que parecia que estava a chegar o fim do mundo. As pedras de granizo eram de tal modo enormes, o suficiente para terem morto homens e animais, e até os mais corajosos estavam assustados". Os franceses acabavam de receber o seu "milagre".
#VictoireFrançaise par la politique de la terre déserte du dauphin Charles, lèvent le siège de Paris, et en pleine retraite, sont décimés par un orage de grêle les 13 et 14 avril 1360 (le « Black Monday »). Croyant à une punissions divine Édouard III négocie une trêve: c'est pic.twitter.com/E6CrWI6Mnr
— auberon_elfe (@auberon_elfe) July 31, 2018
A tempestade terá durado menos de uma hora. Estima-se que no total, a tempestade tenha causado cerca de 1.000 mortes, juntamente com uns 6.000 cavalos. Houve mais mortos neste dia do que na famosa batalha de Crécy.
A tempestade que mudou a História
O rei Edward III estava convencido de que a tempestade era um sinal de Deus como castigo pela pilhagem das áreas rurais francesas durante a Quaresma. Caminhou em direção à Igreja de Nossa Senhora em Chartres, ajoelhou-se e rezou, prometendo à Virgem Maria que aceitaria as condições de paz dos franceses. França não perdeu tempo com iniciativas de paz. Assim, logo no dia seguinte, os franceses enviaram o representante Androuin de la Roche com uma proposta para concretizar um tratado.
Três semanas depois e depois de algumas negociações, finalmente Edward negociou e assinou um tratado de paz com os franceses, numa cidade próxima de Bretigny. Retirou o seu exército e renunciou da pretensão ao trono francês. Ainda assim manteve plena soberania sobre Aquitânia, Poitou e Calais. O Tratado de Bretigny terminou com aquela que viria a ser conhecida como a primeira fase da Guerra dos Cem Anos. E tudo isto, por causa de uma tempestade. A paz durou quase uma década antes das hostilidades voltarem a surgir.