Como tornar os robôs mais humanos? Investigação da Universidade da Flórida revela quatro dimensões essenciais
Uma nova escala desenvolvida por investigadores da Universidade da Flórida e publicada no Journal of Service Research revela que e a aparência humanoide, a capacidade emocional, a inteligência social e a auto-compreensão tornam robôs mais "humanos".
Nos últimos anos, o avanço da inteligência artificial (IA) e da robótica tem impulsionado a utilização de robôs humanoides no setor de serviços, designadamente em hotéis e aeroportos. Contudo, apesar das promessas, muitos desses robôs ainda não conseguem estabelecer conexões eficazes com os humanos, muitas vezes provocando desconforto com sorrisos artificiais ou movimentos desajeitados.
Uma nova investigação desenvolveu uma escala para medir o quão "humanos" os robôs parecem, identificando quatro dimensões essenciais: aparência humanoide, capacidade emocional, inteligência social e auto-compreensão.
Segundo o estudo liderado pelo professor Hengxuan Chi, da Universidade da Florida, em colaboração com investigadores da Washington State University, a falta de qualquer uma dessas dimensões faz com que os robôs pareçam frios e mecânicos, limitando a sua aceitação e utilidade no setor de serviços.
Uma nova abordagem para entender a "humanidade" dos robôs
Embora o design de robôs tenha avançado significativamente, muitas soluções priorizam a aparência humanoide, deixando de lado outras dimensões fundamentais para criar uma experiência mais natural e confortável para os utilizadores.
Para tal, os investigadores desenvolveram a Escala de Antropomorfismo de Robôs Sociais (SSRA), baseada nos estudos qualitativos e quantitativos com mais de mil participantes. A escala revelou que os utilizadores avaliam os robôs de forma semelhante à avaliação que fazem de outros humanos, considerando tanto características físicas quanto sociais.
As quatro dimensões identificadas foram:
- A aparência humanoide, incluindo as características visuais e gestos que se assemelham aos humanos, como expressões faciais e movimentos naturais.
- A capacidade emocional, ou seja, a capacidade do robô em reconhecer, expressar e gerir emoções durante as interações.
- A inteligência social, designadamente a competência para compreender e responder de forma apropriada em contextos sociais.
- A auto-compreensão, ou seja, a perceção de que o robô possui uma "vida interior", com personalidade, intenções e valores próprios.
A dimensão de auto-compreensão revelou-se a mais difícil de simular tecnologicamente, mas é essencial para que os robôs sejam vistos como mais humanos e menos alienígenas.
Repercussões práticas e desafios para o design
Os resultados da investigação têm implicações práticas profundas para a indústria, sugerindo que as empresas devem ir além da estética ao desenvolver robôs.
O estudo também destaca que diferentes dimensões podem ter maior ou menor importância dependendo do contexto em que o robô será utilizado. Por exemplo, em serviços de garçon num hotel, a aparência humanoide pode ser mais valorizada. Já em robôs de segurança, características como auto-compreensão e inteligência social são mais relevantes.
Para empresas e engenheiros, a SSRA pode servir como uma ferramenta vantajosa para medir e guiar o desenvolvimento de robôs mais eficazes e acolhedores no setor de serviços.
A integração de robôs no quotidiano é inevitável, mas a forma como as pessoas os percebem será determinante para o sucesso. Ademais, também se sublinha que a perceção de antropomorfismo é tanto uma questão tecnológica quanto sociológica, refletindo a necessidade de robôs que não apenas desempenhem tarefas, mas que também se conectem emocional e socialmente com os humanos.
Embora a escala seja um avanço significativo, os autores reconhecem que há limitações. Os testes foram realizados sobretudo com participantes norte-americanos, sendo necessário validar a ferramenta em contextos culturais distintos. Além disso, a investigação futura pode explorar como as quatro dimensões interagem com outros fatores, como confiança e aceitação tecnológica, em diferentes cenários de uso.
Referência da notícia:
Chi, O. H., Chi, C. G., & Gursoy, D. (2024). Seeing Personhood in Machines: Conceptualizing Anthropomorphism of Social Robots. Journal of Service Research, 10946705241297196. https://doi.org/10.1177/10946705241297196