Como seria a Terra se girasse ao contrário?
Os investigadores exploram um mundo hipotético em que a Terra gira na direção oposta. Por exemplo, o nosso planeta seria mais verde e a Argentina, um território muito diferente.
Se tomarmos o polo norte como ponto de referência, a Terra gira no sentido anti-horário. Este sentido de rotação anti-horária determina diversas características da dinâmica dos oceanos e da atmosfera. Por exemplo, devido ao efeito Coriolis, os fluidos (água ou ar) giram em direções diferentes dependendo de cada hemisfério e isso afeta os tipos de clima em cada canto do planeta.
Mas como seria a nossa Terra se girasse na direção oposta? Este cenário – tão improvável – foi analisado por investigadores da Universidade de Reading e do Instituto Max Planck de Meteorologia, que realizaram uma simulação e apresentaram os seus resultados na Assembleia Geral da União Europeia de Geociências 2024 (EGU), que aconteceu na Áustria em abril.
Lá eles explicaram como seriam a geografia e o clima se a Terra girasse no sentido horário. “O nosso estudo aborda as mudanças resultantes de uma inversão de direção em todos os componentes do sistema terrestre”, dizem os autores.
Embora se pudesse esperar uma imagem espelhada dos nossos continentes, segundo os investigadores, o mapa seria muito diferente. E ainda melhor.
O mundo vira de cabeça para baixo
Segundo a simulação, devido ao feedback entre os diferentes processos climáticos, o longo cinturão desértico que predomina na área central da África Ocidental até ao Médio Oriente desapareceria. No seu lugar surgiriam áreas verdes, de clima húmido e temperado.
As zonas desérticas do planeta diminuiriam em mais de 30%: de 42 milhões de km² para 31 milhões de km². Mas, além disso, estariam localizados em locais completamente diferentes. A América do Norte e a América do Sul tornar-se-iam paisagens de dunas.
A Europa Ocidental seria muito mais fria e apareceriam pastagens em mais de metade das áreas desérticas. Plantas lenhosas brotariam para cobrir a outra metade. Este aumento na vegetação contribuiria para um maior armazenamento de carbono.
“A consequência esperada da reversão da direção de rotação é uma reversão dos padrões zonais de vento, resultando em ventos alísios e jatos de leste. Devido a esta inversão dos ventos, os continentes nas latitudes subtropicais e médias tornam-se mais frios nas margens ocidentais e mais quentes nas margens orientais”, diz o estudo.
As cianobactérias, responsáveis pela produção de oxigénio através da fotossíntese, surgiriam em locais completamente novos, como o norte do Oceano Índico. A Circulação Meridional do Atlântico (AMOC), uma corrente oceânica que regula o clima no Oceano Atlântico, desapareceria apenas para ressurgir novamente no Pacífico Norte.
É claro que esta transformação do planeta levaria milhões de anos. Mas, disseram os investigadores, não seria assim tão mau. O planeta seria, em geral, um lugar mais verde.
Como já sabemos, existem fatores que podem influenciar a rotação da Terra, mas apenas a sua velocidade. Esta influência dura milésimos de segundo, algo impercetível ao ser humano.
Poderia haver uma mudança na direção da rotação da Terra? Bem, sim, mas apenas se uma tremenda catástrofe ocorresse, como o impacto de um asteroide gigante. E eu não deixaria testemunhas para contar como é o mundo que vira de cabeça para baixo.