Como podemos enfrentar as ondas de calor, as cheias e inundações? O que podemos fazer agora para nos adaptarmos!
Os efeitos das alterações climáticas são uma dura realidade. O aumento das temperaturas, a mudança nos padrões de precipitação, a elevação do nível do mar e a intensificação de eventos climáticos extremos obrigam-nos a tomar as medidas certas de mitigação e adaptação.

As ondas de calor são cada vez mais duradouras, intensas e frequentes. No verão de 2003, mais de 70.000 pessoas morreram na Europa durante a canícula.
No tórrido verão de 2017, vivemos a pior onda de incêndios de que há memória em Portugal. Nesse ano arderam mais de 500 000 hectares de território e os incêndios causaram 114 vítimas mortais. Destes, 66 morreram no incêndio de Pedrógão Grande, em junho, e outros 50 foram vítimas dos incêndios de outubro na região centro.
Mas também a torrencialidade das chuvas está a mudar. As gotas frias (depressões isoladas em altitude) fazem parte da geografia ibérica desde tempos imemoriais, mas a sua frequência e intensidade está a aumentar com a desregulação climática.
No ano passado, na comunidade Valenciana, na vizinha Espanha, pelo menos 225 pessoas perderam a vida num episódio de precipitação intensa. Em Valência caíram até 500 litros de água por metro quadrado e, em algumas outras regiões, choveu mais do que normalmente é registado durante todo o ano.
A adaptação às alterações climáticas depende de todos
Sim, as alterações climáticas são uma realidade cientificamente comprovada e com efeitos já observados em diversas regiões do mundo, incluindo Portugal. O aumento das temperaturas, a mudança nos padrões de precipitação, a elevação do nível médio das águas do mar e a intensificação de eventos climáticos extremos, como ondas de calor e inundações, são alguns dos impactos já evidentes.
Estas são resultado do aumento das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera, principalmente devido à queima de combustíveis fósseis e outras atividades humanas, que retêm mais calor do que o normal, provocando o aquecimento global.
Então, há algo que podemos, e que seguramente devemos, medir peremptoriamente: aceitar a realidade e desenvolver as necessárias medidas de adaptação.

Até agora a discussão centrou-se na mitigação, mas a redução das emissões não depende dos cidadãos, nem dos grandes emissores, nem dos sistemas de produção ou da geopolítica.
A adaptação dependerá, pelo menos em grande parte, das nossas ações conjuntas e combinadas. E aqui, muito podemos avançar na adaptação, a partir de ações individuais, locais e nacionais. Neste artigo, mostramos-lhe como, à boleia das ideias partilhadas pelo Professor de Engenharia Florestal e Mudança Global da Universidade de Lleida, Víctor Resco de Dios.
Como nos podemos adaptar?
Sabemos que o nível médio das águas do mar subirá e que a nossa exposição a riscos associados a esta subida também. Então, uma primeira medida prática, simples e objetiva que podemos tomar é não adquirir casa na primeira linha de costa. Ao mesmo tempo, exige-se que a legislação associada ao ordenamento do território seja efetiva, eficaz e eficiente, que garanta financiamento suficientemente sólido e robusto para poder abordar esta problemática de forma sustentável.
Sabemos também que as mortes provocadas por ondas de calor aumentaram, e que um dos grupos mais vulneráveis são os mais idosos. Devemos por isso, certificar-nos de manter sistemas de refrigeração em casa ou de estar perto de refúgios climáticos, por exemplo.
Para isso, devemos apostar em melhorar o isolamento dos edifícios, instalar equipamentos de refrigeração, utilizar árvores, arbustos e outras plantas para criar sombra e refrescar o ar, e pensar as cidades para melhor aproveitar as áreas naturais de sombreamento e a orientação dos ventos, como forma natural de refrigeração.
Podemos pensar que as alterações climáticas afetam apenas o clima, mas as suas consequências, como cheias e inundações repentinas ou incêndios de grandes dimensões, dependem da interação entre o clima e a ordenamento do território.
Por isso, a nível individual, podemos tomar medidas para evitarmos ser vítimas de uma cheia ou inundação rápida, como, por exemplo, consultar os mapas com zonas ameaçadas por cheias. Também podemos proteger a nossa casa contra incêndios rurais, cortando a vegetação circundante.

Noutro âmbito, podemos e devemos pensar que não há sistema de proteção civil capaz de garantir, de imediato, assistência plena a toda a população em caso de acidente grave ou catástrofe.
Por isso, podemos e devemos, no âmbito individual e familiar elaborar um Plano de Emergência Familiar, que tem como objetivo prever, planear e preparar os membros do agregado para estas situações, e onde deve constar documentação (lista de contactos, cópias de documentos essenciais), identificação de riscos (endógenos ou exógenos), pontos de encontro e rotas de evacuação, e medidas de autoproteção a adotar no caso da manifestação ou na iminente ocorrência de um acidente grave ou catástrofe.
Deve igualmente preparar um Kit de Emergência Familiar onde conste um conjunto de itens, que devem depender das suas necessidades, conhecimento e meio onde está inserido, sendo necessário exercitar o que realmente faz sentido, considerando as suas necessidades e carências básicas.
O papel das administrações públicas locais
A proteção contra fenómenos extremos não depende apenas dos cidadãos. À escala local, os autarcas e as autarquias têm grande parte da responsabilidade em matéria de ordenamento do território, urbanismo e de proteção civil.
Não podemos mudar a localização das aldeias, vilas e cidades que estão instaladas em zonas ameaças por cheias, mas podemos avaliar as medidas de engenharia civil e florestal necessárias para mitigar e nos adaptarmos ao risco. Devemos esperar destes também a implementação de sistemas de aviso e alerta precoces que visem detectar e informar sobre a iminência da manifestação de riscos.
Devemos ainda adaptar as nossas paisagens e sistemas agrícolas às mudanças do clima, condição necessária para garantir o bom estado de saúde das populações, o abastecimento de alimentos e a segurança.