Como pode a dopamina levar ao consumo excessivo dos ecrãs nas crianças?
Segundo um grupo de neurocientistas, o tempo que uma criança passa em frente aos ecrãs, tal como o consumo excessivo de doces, provoca no cérebro um aumento de uma molécula associada ao prazer e ao desejo.
A dopamina, denominada como molécula da felicidade, tem tido uma especial atenção, uma vez que está ligada ao desejo e prazer.
De acordo com a neurocientista Anne-Noel Samaha, da Universidade de Montreal, os circuitos neurais e a dopamina desempenham um papel vital na manutenção da vida de uma pessoa. Contudo, um estudo recente sugere que há poucos dados que sustentem o papel da dopamina no cérebro humano.
A dopamina gera desejo e faz com que queiramos coisas para nós mesmos. Tudo o que desencadeia uma grande quantidade desta molécula chama a atenção de alguém. Como resultado, o cérebro diz-nos que algo importante está a acontecer e que devemos ficar perto disso.
Segundo Samaha, estes mecanismos foram desenvolvidos no nosso cérebro para nos levar a coisas essenciais como água, comida e segurança para a sobrevivência. No entanto, os ecrãs e os doces contêm elementos que geram e libertam dopamina, enganando o cérebro, levando-o a pensar que são vitais.
Dopamina e a Parentalidade
Atualmente os dispositivos digitais estão por todo o lado. Embora sejam vastas as vantagens que estes dispositivos nos trazem, vamo-nos apercebendo a olho nu de menos tempo de brincadeira ao ar livre, menos tempo a investir em relações sociais e emocionais com família e amigos, menos tempo de aborrecimento para estimular a criatividade e o raciocínio lógico.
Para além disso podem também ter efeitos negativos na saúde, que vão desde o sono à memória e atenção. Enquanto os olhos das crianças se fixam nos ecrãs, é libertada uma onda de dopamina através de vias neuronais para o sistema de recompensa, levando-as repetir o comportamento.
De acordo com o jornal Público, existem vários estudos que corroboram que os ecrãs desencadeiam a libertação da dopamina com desgaste dessas vias neuronais, criando desta forma adição no cérebro da criança, fazendo com que esta tenha comportamentos de repetição.
Todavia, os dispositivos digitais, suscitam outros impulsos negativos nas crianças, uma vez que as deixa mais agitadas, irritadas e exaustas. Estes fatores acabam por ter um relação direta com a capacidade de memória, desempenho académico, nas suas relações com os outros, assim como na capacidade de regulação das emoções.
Como proteger as crianças?
É impossível proteger por completo as crianças dos aparelhos eletrónicos, mas é possível minimizar os seus impactos.
A melhor medida passa por modelar os hábitos saudáveis de consumo de ecrãs, como evitar a utilização dos mesmos pelos menos duas horas antes de dormir, dar sempre prioridade às atividades ao ar livre e não utilizar estes aparelhos como forma de recompensa.
Até 6 meses | Dos seis meses aos dois anos | Dos dois aos cinco anos | Crianças em idade escolar |
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Zero exposição aos ecrãs. | Utilize o ecrã apenas para video-chamada com familiares e amigos. | Não mais de uma hora de ecrã por dia, com introdução gradual. | Não existe limite definido, mas o tempo de consumo deve ser o menor possível. |
Recomendações internacionais para a utilização de ecrãs, de acordo com as idades. Fonte: Público |
É importante ressalvar que os primeiros anos de uma criança são fundamentais para o desenvolvimento do seu cérebro e que tudo a que está, ou não, exposto irá moldar o seu futuro para sempre.