Como os efeitos da erupção vulcânica em Tonga chegaram até ao Espaço
Quando o vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha'apai entrou em erupção, a 15 de janeiro de 2022, devastou o Reino de Tonga e enviou ondas de choque literais e metafóricas por todo o mundo. Saiba mais aqui!
Tinham passado quase 140 anos desde que uma erupção desta dimensão abalou a Terra, mas os cientistas só agora começam a documentar quão grande foi realmente. A forma pela qual afetou o planeta, e até influenciou os padrões climáticos no espaço, foi relatada em dois estudos diferentes.
O primeiro estudo, publicado na revista Science, relata que as ondas atmosféricas produzidas a partir desta enorme erupção circularam por todo o globo: quatro vezes numa direção, e três vezes noutra.
Os cientistas descobriram também que os ventos produzidos por estas ondas chegaram mesmo a atingir a ionosfera e influenciaram os padrões climáticos no espaço, de acordo com um segundo estudo publicado em Geophysical Research Letters.
Ondas atmosféricas circularam pelo globo
Uma equipa internacional de geofísicos publicou o primeiro estudo (acima citado) abrangente sobre as ondas atmosféricas da erupção. Afirmam ser as mais fortes registadas, provenientes de um vulcão, desde a erupção do Krakatoa de 1883 na Indonésia.
"Este evento das ondas atmosféricas foi sem precedentes no registo geofísico moderno", diz o autor principal Robin Matoza, Professor Associado no Departamento de Ciências da Terra da Universidade da Califórnia, Santa Bárbara, nos EUA.
O evento forneceu uma visão única sobre o comportamento de uma variedade de tipos de ondas atmosféricas que, segundo o coautor Dr. David Fee do Instituto Geofísico da Universidade do Alasca Fairbanks, EUA, "tem implicações na monitorização de explosões nucleares, vulcões, terramotos, e uma variedade de outros fenómenos".
A equipa estava mais interessada no comportamento da onda de pressão dominante produzida pela erupção - um tipo de onda atmosférica chamada onda Lamb. Estas são ondas de pressão longitudinal, como ondas sonoras, mas são de frequência incrivelmente baixa.
"As ondas Lamb são raras; temos muito poucas observações de alta qualidade das mesmas", diz Fee. O número de ondas deste tipo que os cientistas detetaram é aproximadamente o mesmo que foi observado durante a erupção de Krakatoa em 1883, mas desta vez com um conjunto de dados muito maior e de maior qualidade.
As ondas Lamb causaram perturbações meteorológicas no espaço
O segundo estudo da Geophysical Research Letters analisou dados da missão Ionosphere Connection Explorer (ICON) da NASA e dos satélites Swarm da Agência Espacial Europeia (ESA). Foi descoberto que os ventos de ciclones e correntes elétricas invulgares se formaram na ionosfera nas horas que se seguiram à erupção.
As ondas Lamb provocaram ventos fortes que, à medida que se propagavam para camadas atmosféricas mais finas, começaram a mover-se mais rapidamente e a afetar as correntes elétricas ali presentes.
As partículas na ionosfera formam regularmente uma corrente elétrica de fluxo este-oeste - chamada eletrojato equatorial - mas~, após a erupção, esta subiu para cinco vezes a sua potência de pico normal e depois inverteu drasticamente a direção para fluir para oeste durante um curto período.
Estas descobertas estão a contribuir para a compreensão dos cientistas de como a ionosfera é afetada pelos acontecimentos no solo, bem como do espaço.