Com o aumento dos níveis de CO2, há terras áridas no mundo que estão a ficar verdes

Apesar dos avisos de que as alterações climáticas criariam uma desertificação generalizada, muitas terras áridas estão a ficar mais verdes devido ao aumento do dióxido de carbono no ar, tendência que estudos recentes indicam que continuará.

desertificação
Ao contrário do que se julgava, muitas áreas áridas do planeta estão a tornar-se em áreas agora verdes.

Ao contrário daquilo que se fazia prever, muitas são as terras no mundo que estão a ficar mais verdes devido ao aumento do CO2 no ar. Há regiões do mundo que, ao contrário do que se esperava, estão a tornar-se mais verdes, como é o caso da Austrália, desafiando aquilo que seria uma tendência expectável de desertificação generalizada.

Mas não só na Austrália se está a dar este fenómeno. Do Sahel da África ao árido oeste da Índia, e dos desertos do norte da China ao sul da África, a história é a mesma. O que estará afinal a acontecer?

A principal razão, concluem os estudos mais recentes, é o aumento de 50% nas concentrações de dióxido de carbono na atmosfera desde os tempos pré-industriais. Este aumento de CO2 não é apenas uma contribuição para as alterações climáticas, mas também para acelerar a fotossíntese nas plantas.

Ao permitir que as plantas usem a água escassa de forma mais eficiente, o ar rico em CO2 fertiliza o crescimento da vegetação. À medida que injetamos ainda mais CO2 no ar, o “esverdeamento” de terras áridas parece destinado a continuar, de acordo com dois estudos cujo os resultados foram revelados recentemente.

Boas notícias? Ou nem por isso?

As terras áridas cobrem cerca de 40 por cento da superfície terrestre do planeta, abrigam mais de um terço da população mundial e estão entre os ecossistemas com mais biodiversidade do mundo, de acordo com a União Internacional para Conservação da Natureza.

Mas os ecologistas alertam que, apesar das aparências, ver estes territórios tronarem-se em espaços verdes pode ter vantagens para ecossistemas áridos e para as pessoas que dependem deles.

Ao longo do último meio século, a maioria das terras áridas tem sofrido um declínio na precipitação, juntamente com as temperaturas mais altas, maiores taxas de evaporação, e práticas agrícolas precárias e pastoreio excessivo de gado. Por isso, a comunidade científica tinha vindo a alertar para a desertificação generalizada destes territórios, mas na maioria das terras áridas, essa desertificação antecipada não aconteceu.

Em vez de secar ecossistemas e causar a libertação de CO2, acelerando assim a mudança climática, as libertações antropogénicas de gases na atmosfera estão a permitir que a vegetação aumente a captura de carbono, ajudando, mesmo que modestamente, a reduzi-la.

áreas verdes
O aumento das áreas verdes pode depender da futura concentração de CO2 na atmosfera.

Vários são os estudos que contrariam as expectativas iniciais de que as terras áridas perderiam a sua função, mesmo que a queima de combustíveis fósseis provoque a sua maior concentração e que este facto tenha repercussões negativas noutros (eco)sistemas. Isto porque se tem provado aquilo que era um conhecimento já pré datado, os benefícios do CO2 no crescimento das plantas.

Um novo estudo de modelação publicado no mês passado descobriu que isto se tornará, se nada em contrário acontecer, mais marcante nas próximas décadas. As novas projeções “mostram aumentos contínuos na aridez devido às mudanças climáticas”, mas “menos de 4% das áreas de terras secas [irão] ficar desertificadas”.

A extensão exata do futuro “esverdeamento” dependerá de quanto CO2 se acumular na atmosfera. Mas, em todos os cenários, a modelação prevê que a maioria das terras áridas seja mais verde.

Então, tudo isso é uma boa notícia? Longe disso, alertam os ecologistas

O “esverdeamento” criado pela irrigação dos campos pode causar estragos nas escassas reservas de água e obliterar valiosos ecossistemas de terras áridas.

Os ecossistemas áridos importam, são habitats importantes para espécies exclusivamente adaptadas à água escassa, são plantas que podem sobreviver décadas sem chuva ou besouros do deserto que desenvolvem uma nova geometria nos seus corpos para recolher humidade.

Nalguns lugares, como no sudeste da Austrália, a vegetação extra em ambientes áridos pode aumentar o risco de incêndio. Estudos mostram que algumas espécies arbustivas menores, melhor adaptadas a menos chuvas e temperaturas mais altas, estão a ser substituídas por plantas nativas, criando uma impressão de que o “esverdeamento” marca um colapso ecológico.

O mundo estava errado ao esperar que as alterações climáticas desencadeariam uma desertificação rápida e generalizada nas terras áridas do mundo. Na verdade, está a acontecer o inverso. Mas nada de declarar vitória, os problemas não acabaram.