Cientistas revelam impactos das alterações climáticas em 10 regiões montanhosas africanas e medidas de adaptação usadas
Um estudo científico apresenta os impactos sentidos em algumas regiões montanhosas africanas, que são particularmente vulneráveis às alterações climáticas.
Além da importância do conhecimento destes impactos, o estudo pretende apresentar também as medidas de adaptação tomadas pelas comunidades locais orientadas para a subsistência, até agora com conhecimento limitado.
Impactos das alterações climáticas nas regiões em estudo
As regiões montanhosas africanas, com 228 milhões de pessoas, têm a segunda maior densidade populacional das regiões montanhosas do mundo, a seguir à Ásia, e prevê-se que esta população continue a aumentar.
Nestas regiões montanhosas africanas, tal como noutras regiões com topografia complexa, existe uma incerteza considerável quanto às consequências locais das alterações climáticas em curso, devido à resolução espacial limitada das observações meteorológicas e dos modelos climáticos globais ou regionais.
Para a investigação sobre o clima, a contribuição potencial dos conhecimentos locais das comunidades orientadas para a subsistência está a ser cada vez mais reconhecida, em especial nas regiões do mundo com escassez de dados.
Assim, os autores do estudo optaram por utilizar questionários domésticos e entrevistaram 1.500 agricultores em dez regiões montanhosas africanas na África Oriental, nos Camarões, na República Democrática do Congo, e no Burundi, para investigar a perceção dos impactos das alterações climáticas e as respostas de adaptação das comunidades locais.
As regiões montanhosas africanas, especialmente na África Oriental, também têm observado um aumento dos fenómenos meteorológicos extremos provocando inundações e secas, que têm tido graves impactos sociais, ecológicos e económicos.
Perante as respostas aos questionários distribuídos, os autores do estudo concluem que, os impactos climáticos relatados pelos agricultores das montanhas africanas incluem a redução do caudal dos cursos de água, a redução do rendimento das culturas e da produção de leite de vaca, o aumento da erosão dos solos, o aumento das doenças das culturas e do gado e a redução da saúde humana.
É de referir ainda que em cinco locais foi registado um aumento dos deslizamentos de terras e em cada um dos cinco locais de cultivo de café estudados foi registada uma diminuição da produção de café.
Neste estudo, a recolha de informação localmente relevante, mas culturalmente comparável, utilizando um protocolo comum, permite a identificação simultânea de tendências comuns e singularidades específicas do contexto de cada local.
Respostas de adaptação às alterações climáticas
À medida que os efeitos das alterações climáticas se tornam mais graves, reconhece-se que, para que os países africanos e os seus diversos povos se adaptem aos impactos previstos das alterações climáticas, a adaptação incremental, caracterizada por respostas que procuram manter a essência e a integridade de um sistema, poderá não ser suficiente, e será necessária uma adaptação transformacional, ou seja, uma mudança nas caraterísticas e funções dos sistemas socio ecológicos.
No entanto, a maioria dos estudos disponíveis, até agora só em terras baixas de África, mostra modos de adaptação incrementais em vez de transformacionais.
Os autores deste estudo, com base nas respostas dos questionários, identificaram oito medidas de adaptação na exploração agrícola e uma fora da exploração agrícola em quase todos os locais.
No que respeita ao café, a mudança para variedades melhoradas, o aumento da utilização de pesticidas ou colocação de sombra nas plantas de café foram referidos na maioria dos cinco locais de cultivo de café estudados.
Sete outras respostas de adaptação na exploração agrícola e seis outras respostas de adaptação fora da exploração agrícola foram também comunicadas pelos inquiridos, como por exemplo, o aumento da dimensão da exploração agrícola em Udzungwa (Tanzânia), a diversificação para o comércio de madeira no Monte Quénia ou a diversificação para a exploração mineira em Itombwe (República Democrática do Congo).
As oportunidades de adaptação mais relevantes em todos os locais foram a sensibilização para os impactos das alterações climáticas e a comunicação por telemóvel, fatores amplamente conhecidos como sendo fundamentais para a adaptação dos pequenos agricultores às alterações climáticas.
A comunicação por telemóvel, que está cada vez mais disponível, mesmo em zonas remotas do continente africano, a um custo acessível (acessível em todos os locais estudados, exceto na República Democrática do Congo), aumenta o acesso potencial não só às previsões meteorológicas como à informação técnica, por exemplo, sobre novas pragas.