Cientistas identificam “impressão digital” humana no Ozono da troposfera superior

Cientistas identificaram uma "impressão digital" humana no aumento do ozono na troposfera superior, confirmando o papel da atividade humana no aquecimento global. As evidências, baseadas em 17 anos de dados de deteção remota, abrem espaço para identificar as fontes específicas.

ozono troposfera
Estudo publicado na Environmental Science and Technology identificou a "impressão digital" humana como responsável do aumento do ozono na troposfera superior.

Cientistas do MIT reiteram resultados que evidenciam a influência humana no aumento do ozono na troposfera superior, uma camada da atmosfera vital para o equilíbrio climático do planeta. Os resultados, publicados na revista Environmental Science and Technology, abrem as portas para identificar as fontes específicas dos Gases com Efeito de Estufa (GEE).

A pegada humana na atmosfera: ozono e o aquecimento global

O ozono é um gás com dupla face: enquanto na estratosfera protege a Terra dos raios ultravioleta do sol nocivos, na troposfera inferior é um poluente prejudicial à saúde humana, associado a problemas respiratórios e cardiovasculares. No entanto, é na troposfera superior, onde voam a maioria dos aviões, que o ozono atua como um poderoso GEE, contribuindo para o aquecimento global.

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Apesar dos esforços para reduzir as emissões de poluentes à superfície em muitos países, o ozono na troposfera superior continua a aumentar. Esta nova investigação confirma que grande parte deste crescimento é resultado da atividade humana.

A equipa de cientistas analisou 17 anos de dados de satélite, a partir de 2005, e identificou um padrão claro de aumento do ozono na troposfera superior das latitudes médias do hemisfério norte.

“Confirmamos que existe uma tendência clara e crescente de ozono na troposfera superior devido aos seres humanos, em vez de flutuações climáticas naturais”, afirmou Xinyuan Yu, principal autor do estudo. “Agora podemos investigar mais profundamente e tentar compreender quais as atividades humanas que estão a levar a este aumento do ozono”, acrescentou a co-autora Arlene Fiore.

A compreensão sobre as causas e influências do ozono é um desafio ainda muito longe de estar sanado. Desde logo, não nos podemos esquecer que o ozono não é emitido diretamente, mas sim formado a partir de precursores, como o óxido de azoto e Compostos Orgânicos Voláteis (COV), que reagem na presença da luz solar. Estes precursores são provenientes de veículos, centrais elétricas, solventes químicos, processos industriais, emissões de aviões e outras atividades humanas. São, portanto, fontes secundárias.

A distinção entre as causas humanas e climáticas no aumento do ozono, especialmente na troposfera superior, é particularmente difícil. Para complicar ainda mais, o ozono na troposfera inferior tem vindo a diminuir em algumas regiões das latitudes médias do Norte nas últimas décadas, principalmente devido aos esforços para reduzir as fontes industriais de poluição.

O labirinto do ozono: uma “impressão digital” humana para identificar as causas de um problema complexo

Para fazer face a estas dúvidas, Yu e Fiore, do MIT, questionaram-se se seria possível encontrar uma “impressão digital” humana no ozono, causada diretamente pelas atividades humanas, suficientemente relevante para ser detetada em observações de satélite na troposfera superior. Para isso, os investigadores precisavam primeiro saber o que procurar.

Com a utilização de simulações climáticas e da química da atmosfera da Terra, a equipa criou vários cenários climáticos com as mesmas emissões de precursores de ozono de origem humana, mas com condições climáticas iniciais ligeiramente diferentes. Qualquer diferença entre estes cenários deveria ser atribuída à variabilidade climática. Assim, qualquer sinal comum que emergisse ao analisar os cenários simulados deveria ser devido a causas humanas.

Com esta estratégia em mente, a equipa realizou simulações com um modelo climático de química de última geração. Simularam vários cenários climáticos, todos a partir de 1950 até 2014. As simulações revelaram um sinal claro e comum em todos os cenários, identificado como a impressão digital humana.

“Honestamente, pensei que os dados do satélite seriam muito ruidosos”, admitiu Fiore. “Não esperava que o padrão fosse suficientemente robusto”.

No entanto, os dados de satélite utilizados revelaram informações suficientes. A equipa analisou os dados de ozono da troposfera superior, de 2005 a 2021, e descobriram que, de facto, conseguiam ver o sinal do ozono causado pelo ser humano previsto nas simulações. O sinal é especialmente pronunciado na Ásia, onde a atividade industrial aumentou significativamente nas últimas décadas e onde a abundante luz solar e eventos climáticos frequentes elevam a poluição,

Depois desta investigação financiada pela NASA, Yu e Fiore estão agora focados em identificar as atividades humanas específicas que estão a originar o aumento do ozono na troposfera superior.


Referência da notícia

Yu, X., Fiore, A.M., Santer, B.D.; Correa, G.P., Lamarque, J-.F., Ziemke, J., Eastham, S., & Zhu, Q. (2024). Anthropogenic Fingerprint Detectable in Upper Tropospheric Ozone Trends Retrieved from Satellite. Environmental Science & Technology Article ASAP. DOI: 10.1021/acs.est.4c01289