Cientistas descobriram que as plantas absorvem mais carbono do que se achava, mas por menos tempo

Um estudo recente, publicado na revista Science, analisou com mais detalhe o papel das plantas no ciclo do carbono e as conclusões podem contribuir para uma melhor estratégia climática.

Floresta
Durante a fotossíntese, as plantas absorvem dióxido de carbono da atmosfera, convertendo o carbono do gás em oxigénio e em estruturas orgânicas do vegetal.

O armazenamento de carbono nos tecidos das plantas resultante da fotossíntese, é um importante sumidouro de carbono de que se depende para abrandar as alterações climáticas.

Modelos científicos atuais subestimam a capacidade de absorção da vegetação

O Dióxido de carbono (CO2) continuamente produzido na queima de combustíveis fósseis, que está na origem do aquecimento global, ao entrar na atmosfera volta a integrar o ciclo do carbono. Parte desse CO2 é absorvida pelos oceanos, acidificando-os nesse processo e outra parte alimenta as plantas, entrando nos sistemas vivos.

O CO2 absorvido não contribui assim para o efeito de estufa, daí que, a contabilização deste CO2 que entra nos oceanos e na biosfera é importante para prever a progressão das alterações climáticas e entrar na equação dos modelos climáticos.

Um estudo científico, cuja primeira autora é a investigadora Heather Graven, do Departamento de Física do Imperial College de Londres, no Reino Unido, concluiu que,

"(...) as plantas absorvem mais carbono do que se pensava, mas por menos tempo."

Os ensaios nucleares feitos até ao início da década de 1960 deixaram na atmosfera uma quantidade anormal do isótopo radioativo carbono 14 (C14), que serviu agora, neste estudo, para analisar com mais detalhe o papel das plantas no ciclo do carbono.

A equipa de investigadores, envolvidos no estudo, usou este pico de C14 para fazer uma nova contabilização da quantidade de dióxido de carbono (CO2) que as plantas absorvem anualmente, a nível planetário.

De acordo com o estudo, as plantas absorvem pelo menos 80 biliões de toneladas de gás carbónico por ano, cerca de 30% a mais do que a estimativa anterior, de 63 biliões de toneladas anuais.

Ainda não há nenhuma conclusão definitiva sobre a origem deste aumento, mas pensa-se que fatores, como a fertilização vinda de uma maior quantidade de CO2 no ar, ou de azoto adicionado, mudanças no uso dos solos ou as alterações climáticas, são todos possíveis contribuidores para este aumento.

Aparentemente, esta parece ser uma boa notícia na luta contra as alterações climáticas. Se existe mais dióxido de carbono a entrar na biosfera, haverá menos CO2 a acumular-se na atmosfera e a tornar o planeta mais quente. Mas o problema é que o estudo também concluiu que o CO2 dura menos tempo nas plantas.

A equipa usou dados de satélite para contabilizar a quantidade de carbono que existe na vegetação a nível planetário. O resultado mostrou que existia menos carbono do que o que seria suposto existir com a acumulação na vegetação de 80 mil milhões de toneladas a cada ano que passa.

Os resultados além de mostrarem que as plantas absorvem mais CO2 do que se pensava, por outro lado também mostraram que o armazenamento dura menos tempo. Deste modo, a remoção do CO2 do ar, considerando o armazenamento nos ecossistemas, algo que ocorre naturalmente, mas que também faz parte da aposta para atingir as zero emissões líquidas, estes ecossistemas não vão conseguir manter o carbono armazenado durante muito tempo.

Implicações dos resultados do estudo na luta contra as alterações climáticas.

Os autores explicam que o facto das plantas absorverem mais carbono do que se pensava é crítico para o planeamento de soluções baseadas na natureza para controlo das alterações climáticas, porque muitas políticas apostam justamente no aumento da vegetação e na preservação de áreas florestadas.

Emissões de CO2
Perante as conclusões deste estudo, os diferentes modelos climáticos terão de ser ajustados em relação à quantidade de carbono existente na atmosfera.

Outras alternativas são as soluções de captura de carbono, como a solução de enterrar o gás carbónico comprimido no subsolo, que é, por enquanto, uma solução temporária e ineficiente em termos energéticos.

De acordo com o estudo, o dióxido de carbono produzido por ações humanas não permanecerá tanto tempo na biosfera terrestre quanto os modelos preveem atualmente.

Se as conclusões do estudo se confirmarem, isto pode ter implicações em todo o cálculo das previsões climáticas que são usadas para o desenvolvimento de políticas de mitigação do aquecimento global.

A conclusão do estudo é que há uma reciclagem mais rápida do que o esperado do carbono a nível das plantas; o carbono é mais vulnerável do que se pensava. Estes resultados são importantes para se construírem modelos mais exatos, que prevejam a evolução do CO2 na atmosfera no contexto da crise climática.

No entanto, independentemente da qualidade dos modelos e das previsões futuras, o novo artigo torna mais importante uma resposta que ataque o problema pela raiz. Segundo a investigadora Heather Graven, é preciso que haja o foco em reduzir as emissões vindas dos combustíveis fósseis para limitar as alterações climáticas.

Referência da notícia:

Heather D. Graven, et. al., “Bomb radiocarbon evidence for strong global carbon uptake and turnover in terrestrial vegetation”, Science (2024)