Cientistas descobrem besouros-tigre que travam batalhas ultrassónicas contra morcegos durante a noite
Quando os besouros-tigre percebem que há um morcego por perto, eles respondem criando um ruído ultrassónico agudo. Ninguém sabia o motivo deste comportamento... até agora.
Quando os besouros-tigre percebem que há um morcego por perto, eles respondem criando um ruído ultrassónico agudo. Nos últimos 30 anos, ninguém sabia o motivo deste comportamento. Num novo estudo, no entanto, os cientistas finalmente foram capazes de desvendar este mistério.
Os morcegos, como predadores noturnos supremos, exercem uma pressão seletiva significativa sobre as suas presas. Como resposta a esta ameaça constante, muitos insetos evoluíram desenvolvendo habilidades únicas para detetar e escapar dos morcegos, incluindo a capacidade de perceber e responder aos sinais ultrassónicos emitidos por eles.
Os besouros-tigre são o único grupo de besouros que os cientistas conhecem capazes de produzir ultrassom em resposta à aproximação de morcegos. No entanto, sabe-se que cerca de 20% das espécies de mariposas também possuem esta capacidade, o que fornece uma referência útil para a compreensão do comportamento de outros insetos.
Como os investigadores desvendaram o comportamento estranho do Besouro-Tigre
Os investigadores passaram dois verões nos desertos do sul do Arizona e recolheram 20 espécies diferentes de besouros para estudar. Quando um besouro voa, a sua casca dura (élitros) abre-se para revelar duas asas traseiras que geram sustentação. Os élitros não ajudam no voo e, normalmente, são mantidos fora do caminho.
No entanto, sete das espécies recolhidas - incluindo os besouros-tigres - responderam às sequências de ataque dos morcegos balançando as asas de maneira a bater nos élitros e produzir um ruído ultrassónico, que é captado pelos morcegos.
Após diversos testes distintos, os cientistas compararam as gravações de ultrassom do besouro-tigre, recolhidas no início do estudo, com as gravações de mariposas-tigre já existentes no seu banco de dados. Ao analisar os sinais ultrassónicos, eles encontraram uma clara semelhança entre ambos.
A conclusão é que os besouros-tigre imitam o som de algumas espécies de mariposa nocivas aos morcegos, enganando-os e fazendo-os pensar que são venenosos. Esta resposta ativa uma série de comportamentos defensivos nos morcegos, que associam o sinal ultrassónico a uma presa potencialmente perigosa.
No entanto, a mímica ultrassónica não é uma estratégia adotada por todos os besouros-tigre. A investigação revelou que apenas os besouros-tigre noturnos exibem este comportamento - enquanto os seus homólogos diurnos, que não enfrentam a mesma pressão dos morcegos, não demonstram esta adaptação.
Além de desvendar os segredos da mímica ultrassónica, o estudo também destacou os desafios que esta delicada dança evolutiva enfrenta. A crescente poluição sonora e luminosa causada pela atividade humana representa uma ameaça para estas interações noturnas, podendo distorcer os sinais acústicos e comprometer a eficácia desta estratégia de defesa.
Os besouros-tigre noturnos emergem como mestres da mímica ultrassónica, tendo desenvolvido uma estratégia engenhosa para sobreviver nas noites escuras dominadas pelos morcegos. Esta descoberta não apenas amplia a nossa compreensão dos intricados mecanismos de sobrevivência na natureza, mas também destaca a importância de preservar a tranquilidade e a escuridão das noites para proteger estas delicadas interações ecológicas.
Referência da notícia:
Harlan M. Gough, Juliette J. Rubin, Akito Y. Kawahara, Jesse R. Barber. Tiger beetles produce anti-bat ultrasound and are probable Batesian moth mimics. Biology Letters, 2024.