Cientistas afirmam que a cobertura de gelo do lago de Yellowstone mantém-se inalterada apesar do aquecimento global
De acordo com uma nova investigação conduzida por cientistas da Universidade do Wyoming, o período de tempo em que o lago de Yellowstone está coberto de gelo, em cada ano, não se alterou no último século, apesar do aquecimento das temperaturas na região.
Num novo estudo, feito por um grupo de cientistas da Universidade de Wyoming, é mostrado que, ao contrário do que se esperava, a fenologia do gelo - a dinâmica de congelamento e descongelamento da superfície - do lago Yellowstone tem resistido às alterações climáticas.
O Lago de Yellowstone
Situado a 2357 metros acima do nível do mar, no coração do Parque Nacional de Yellowstone, o Lago Yellowstone é o maior lago de altitude da América do Norte, com cerca de 32km de comprimento e 22 km de largura, com uma área de superfície de 212 km². Congela completamente no final de dezembro ou início de janeiro e descongela normalmente no final de maio ou início de junho.
Os registos da data de saída do gelo do lago têm sido registados todos os anos pelo pessoal da Lake Village Ranger Station desde 1927, e a data de entrada do gelo tem sido registada desde 1931. Para além de estudarem esses registos, os cientistas analisaram os dados climáticos para o mesmo período, 1927-2022, incluindo as temperaturas do ar e a precipitação. Também compararam os dados do lago Yellowstone com sete lagos semelhantes no norte da Europa.
A ausência de alterações a longo prazo na duração da cobertura de gelo do lago de Yellowstone foi inesperada porque a região de Yellowstone tem registado um aquecimento climático, afirmam os investigadores. Desde 1950, as temperaturas anuais aumentaram 1 ºC em todo o ecossistema de Yellowstone. As mudanças são particularmente pronunciadas na alta altitude do Lago Yellowstone, onde as temperaturas do ar aumentaram cerca de 1,4 ºC entre 1980-2018.
Porquê esta aparente discrepância?
Embora seja possível que as temperaturas mínimas do outono - que são importantes para prever a formação de gelo - não estejam a aumentar tão rapidamente como as tendências gerais da temperatura na região, uma explicação mais provável é que o aumento da queda de neve no Lago Yellowstone tenha servido de amortecedor contra o clima mais quente, dizem os cientistas.
A cobertura de neve, particularmente na primavera, pode atrasar a desagregação do gelo. A neve acumulada na primavera, que foi fortemente correlacionada com o atraso das datas de desprendimento do gelo, quase duplicou ao longo do último século no lago de Yellowstone, segundo a investigação. Em geral, a precipitação aumentou na primavera e no outono. Este facto difere da bacia do Upper Green River, a sul, onde a queda de neve diminuiu ou se manteve relativamente estável em altitudes elevadas.
No entanto, os cientistas não têm a certeza de quanto tempo durará este fenómeno, tendo em conta as projeções de um aquecimento contínuo e a alteração dos regimes de precipitação nas altas Montanhas Rochosas.
Os cientistas defendem, ainda, que à medida que as temperaturas aquecem e a queda de neve no outono e na primavera possivelmente diminuirá, a fenologia do gelo pode mudar rapidamente no lago Yellowstone.
Caso isso aconteça, "pode haver consequências de grande alcance para o ciclo de nutrientes, a produtividade do lago, a pesca e as atividades recreativas", concluíram os cientistas.
Referência da notícia:
Tronstad L., Oleksy I., Pomeranz J., et al. Despite a century of warming, increased snowfall has buffered the ice phenology of North America's largest high-elevation lake against climate change. Environmental Research Letters (2024).