Ciclones tropicais estão a atingir latitudes mais elevadas
Estudos têm indicado que os ciclones tropicais estão a tornar-se mais fortes e a ocorrer em latitudes mais elevadas do que no passado.
Sendo os ciclones tropicais os causadores de alguns dos piores desastres naturais do mundo, muitas equipas de investigadores têm focado o seu estudo nestes sistemas atmosféricos.
O estudo
Foi publicado recentemente mais um estudo na revista Nature Geoscience, que investiga a expansão dos ciclones tropicais. O principal autor é Joshua Studholme da Universidade de Yale, com apoio adicional de Alexey Fedorov da Universidade de Sorbonne, Paris; Sergey Gulev do Instituto de Oceanologia Shirshov, com sede em Moscovo; Kerry Emanuel, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts; e Kevin Hodges, da Universidade de Reading.
O estudo teve por base observações realizadas da atividade dos ciclones tropicais e projeções feitas usando modelos. As conclusões apontam que, devido às mudanças climáticas, a atividade dos ciclones tropicais pode estender-se mais em direção aos pólos, atingindo latitudes mais elevadas que as atuais.
Deste modo, os investigadores alertam para as crescentes ameaças de ciclones tropicais, que estão a atingir cada vez mais regiões e cidades mais populosas do mundo, como resultado da mudança em direção aos polos da atividade da tempestade.
Como resultado, haverá uma ameaça crescente às regiões de latitude média, que incluem algumas das cidades mais populosas do mundo que estão na costa, como Nova Iorque, Pequim, Boston e Tóquio.
São citados alguns exemplos, tais como o furacão Henri, de 2021, que afetou latitudes mais elevadas, bem como a tempestade subtropical Alpha de 2020, que foi o primeiro ciclone tropical observado a atingir a costa de Portugal, como exemplos potenciais de atividade futura.
O estudo sugere ainda que até o final deste século, a atividade de ciclones tropicais será vista em uma gama mais ampla de latitudes do que há cerca de 3 milhões de anos.
Mudanças climáticas e impacto nos ciclones tropicais
Geralmente, os ciclones tropicais formam-se em latitudes baixas devido às águas quentes dos oceanos tropicais e ficam, assim, confinados principalmente às regiões tropicais ao norte e ao sul do equador.
As correntes de jato, ventos extremamente fortes a grande altitude que ocorrem nas regiões de latitudes médias, também têm um papel importante para limitar os ciclones tropicais às regiões tropicais. Funcionam como uma “barreira” aos ciclones, mantendo-os mais próximos do equador.
No entanto, com o aquecimento global, a diferença de temperatura entre o equador e as regiões polares diminuirá, e isso terá impacto nas correntes de jato.
À medida que a atmosfera aquece, o tipo de atividade da corrente de jato que ocorre na latitude média vai enfraquecer e, em casos extremos, dividir-se, permitindo a passagem de ciclones tropicais para latitudes médias.
As mudanças climáticas, devida às emissões antropogénicas de gases com efeito de estufa, são vistas como um fator que pode induzir a expansão dos ciclones tropicais para latitudes mais elevadas, tornando mais milhões de pessoas vulneráveis a estas tempestades devastadoras.