Chuvas intensas no Mediterrâneo: em que momento se torna um evento extremo?
Certos eventos meteorológicos, como a precipitação intensa são comuns no final do verão, na Península Ibérica, mas a partir de que medida se tornam extremos? Fique a saber mais sobre este assunto, connosco!
Toda a bacia do Mediterrâneo está, nesta altura, muito exposta a eventos de precipitação intensa. A época de final do verão e do início do outono costuma trazer fortes precipitações que são causadoras de cheias repentinas, inundações urbanas e prejuízos avultados.
Para além dos prejuízos económicos, há ainda a salientar as vítimas destes eventos, que podem ser apenas uma, como aconteceu no nosso país esta semana, ou podem chegar aos milhares como aconteceu nas últimas semanas no Paquistão.
Contudo, a partir de que momento é que se pode considerar um dia (ou um conjunto de dias) de precipitação intensa como a ocorrência de um evento extremo? Anomalias detetadas na atmosfera, conjugadas com anomalias nos oceanos (ou nos mares), ocorridas durante o ano de 2018, podem ser a resposta a esta questão.
Outubro, um mês "especial"
O mês de outubro de 2018 revelou ser um mês em que o número de sistemas depressionários sobre a Península Ibérica bateu recordes. Além de numerosos, também se demonstraram bastante intensos do ponto de vista da velocidade dos ventos e da quantidade de precipitação.
A tempestade Leslie estará na memória de muitos portugueses, precisamente pelo rasto de destruição que deixou no nosso país. Formada no final de setembro de 2018, chegou ao nosso país (mais precisamente no distrito de Coimbra) no dia 13 de outubro, sendo apenas o 3.º furacão desde que há registos, o mais forte desde 1842.
Esta tempestade atingiu o nosso país na Figueira da Foz, onde se registou a rajada de vento mais forte de sempre no continente, 176 km/h, sendo que todo o litoral foi afetado por precipitação intensa, responsável por inundações e por destruição em grande escala.
Será possível prever estes eventos?
A análise do período entre abril e outubro de 2018, bem como com a comparação com a normal climatológica de 1982 – 2018 revelou anomalias em diversos indicadores como a pressão atmosférica, a humidade atmosférica, a temperatura da superfície do oceano e a evaporação de água.
A temperatura da superfície do oceano, durante os meses estudados, foi muito acima da média, já a evaporação foi muito superior imediatamente antes dos períodos de precipitação mais intensa.
Assim, é possível concluir que os períodos que se podem classificar como eventos extremos acontecem quando ocorrem em simultâneo diversas anomalias, do ponto de vista da atmosfera e das grandes massas de água, que conjugadas têm um potencial destrutivo elevadíssimo. Infelizmente, a previsão deste tipo de eventos extremos ainda não se faz com a antecedência necessária à diminuição do risco de vítimas.
Investigadores espanhóis do Centro de Estudos Ambientais do Mediterrâneo, em Valência, e alemães do Instituto de Pesquisa Meteorológica e Climática do Instituto Tecnológico de Karlsruhe estão a trabalhar para que seja cada vez mais fácil prever e reagir em tempo útil a eventos de precipitação extrema.