Cepo de árvore na Nova Zelândia visto como um mistério da Natureza

Foi descoberto recentemente, por dois botânicos, um cepo de uma Kauri, numa floresta na Nova Zelândia que ainda se encontra vivo. Descubra aqui qual o mistério por detrás deste tronco.

Kauri
O Kauri é uma espécie icónica de árvore da Nova Zelândia. Fonte: Wikimedia Commons

As florestas sempre foram locais repletos de mistérios e surpresas, estando muitas vezes relacionadas com histórias de encantar. Porém, é nestes locais que podemos observar as verdadeiras maravilhas da natureza e a ciência desvenda um pouco destes locais místicos, que vão muito para além da nossa compreensão.

De acordo com uma notícia publicada pela BBC e pela National Geographic, dois botânicos, enquanto deambulavam por uma floresta na Nova Zelândia, encontraram vestígios de uma árvore moribunda, mantida viva pelas árvores que a circundavam.

A única parte ainda visível desta árvore é um cepo, ou seja, a parte do tronco que fica no solo depois da mesma ter sido abatida. Contudo esta, ainda apresenta sinais vitais.

"Muito poucas plantas conseguem sobreviver se não tiverem folhas verdes para a fotossíntese, por isso este cepo de árvore que mostrava claramente tecido vivo intrigou-nos enquanto caminhávamos pela floresta." – afirmou Sebastian Leuzinger.

Desta forma, Sebastian Leuzinger e Martin Bader, botânicos da Universidade de Tecnologia de Auckland, na Nova Zelândia, decidiram estudar este cepo e descobriram que este é mantido vivo através da partilha de água realizada por outras árvores da mesma espécie.

A imponente Tane Mahuta

O Kauri (Agathis australis) é a árvore nativa mais famosa da Nova Zelândia. Pertence à família das araucariáceas e é considerada uma das maiores árvores do mundo podendo atingir entre 40 a 50 metros de altura com crescimento vertical e caule cilíndrico.

É uma árvore de espécie icónica e endémica, ou seja, que não ocorre naturalmente noutro local da Nova Zelândia.

Esta famosa árvore é também referenciada como Tane Mahuta, uma designação utilizada pelo Deus das florestas e dos pássaros na mitologia Maori.

O segredo do subsolo

De acordo com estes botânicos, as raízes das árvores estão hidraulicamente sincronizados. Através de instrumentos especializados, os cientistas mediram o fluxo de água no cepo e nas árvores circundantes.

Estes movimentos fluidos são influenciados por muitos fatores, desde a presença de luz solar, a temperatura e a precipitação, e fornecem às árvores os nutrientes de que necessitam para se desenvolverem.

Após as medições, concluíram a existência de uma ligação clara entre as árvores do local: quando a seiva se deslocava mais depressa nas árvores vivas, a velocidade da água no cepo diminuía e, inversamente, quando se deslocava mais devagar nas árvores, fluía mais depressa no cepo. Foi assim que o cepo conseguiu manter-se vivo.

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Paralelamente à água, os investigadores também se sustentam na hipótese da existência de micorrizas. As micorrizas são fungos que se encontram numa relação simbiótica com as raízes das árvores.

Esta relação traz uma série de benefícios, uma vez que as raízes fornecem açúcares e outros nutrientes e os fungos transformam os minerais e o material em decomposição do solo em compostos úteis para as árvores.

(...)isto significa que não devemos ver uma floresta como uma coleção de árvores individuais… em vez disso, as florestas devem ser vistas como superorganismos." – explica Leuzinger.

Desta forma, quanto maior e mais diversificada for a rede de micorrizas que alimenta as raízes das árvores, mais resistente se torna o ecossistema às mudanças e, por conseguinte, mais capaz de resistir às condições climáticas e a outras catástrofes.

Uma vez que as raízes dos cepos vivos estão ligadas às raízes dos cepos moribundos, a sua simples presença ajuda a alargar a rede de raízes, permitindo que mais micorrizas se fixem às árvores, o que se traduz num benefício para a floresta como um todo.

Portanto, pode ser benéfico para a floresta manter vivos os seus membros caídos.