Carne feita em laboratório pode vir a ser o futuro da alimentação. Estaria disposto a provar?
Cientistas criam em laboratório carne que se assemelha à carne tradicional, porém sem um animal na equação. Todavia existem objeções éticas e ambientais a esta alternativa alimentar. Descubra mais aqui!
De acordo com a National Geographic, o primeiro hambúrguer criado em laboratório foi apresentado ao público em Londres em 2013, transformando-se, segundo alguns, no alimento do futuro.
10 anos depois, em 2023, o Departamento da Agricultura dos EUA aprovou a produção e a venda de carne de frango criada em laboratório por duas empresas, a Upside Foods e a Good Meat, na esperança de promover outras carnes criadas em laboratório e disponibilizá-las em supermercados e restaurantes.
Esta decisão fez dos EUA o segundo país, depois de Singapura, a legalizar aquilo que os seus apoiantes designam de "carne cultivada".
A carne de cultura, ou carne cultivada, implica, segundo David Kaplan, diretor do Tufts University Center for Cellular Agriculture, a colheita de células de animais que normalmente produzem carne e utilizá-las como motor para fazer crescer a carne fora do animal.
O primeiro passo para o cultivo de carne é obter células animais, frequentemente através de uma biópsia realizada a um animal, vivo ou abatido recentemente, ou da extração de células de um ovo fecundado. Estas células são colocadas numa cultura que incentiva a sua multiplicação.
O resultado, em teoria, é um produto que parece, cheira e sabe como a carne que estamos habituados a consumir. O sabor e o cheiro são alegadamente quase impossíveis de distinguir da carne de verdade, mas ainda há ajustes a fazer no que diz respeito à textura, de acordo com os consumidores.
Porque será que se está a criar carne em laboratório?
A procura por carne está a aumentar à medida que a população mundial cresce. Porém existe um problema, satisfazer essa procura pode comprometer as perspetivas de manter o aquecimento global sob controlo.
De acordo com as Nações Unidas, a indústria pecuária é responsável por cerca de 15% das emissões de gases com efeito de estufa produzidos pelo homem. As emissões que este setor produz por ano são superiores às emissões dos Estados Unidos, do Reino Unido e da Alemanha em conjunto. As árvores para pastagem de gado são também responsáveis por quase 40% das perdas florestais globais.
As soluções passam por incentivar as pessoas a comer menos carne, principalmente em países ricos, ou promover alternativas à base de plantas.
Contudo mudar hábitos comportamentais é difícil, e os críticos, por vezes, não aprovam o sabor dos ingredientes que não são carne. A indústria da carne criada em laboratório acredita que a tecnologia que têm disponível proporciona uma melhor opção.
Os apoiantes dizem que o produto final é muito mais "limpo" do que o que está atualmente disponível nas prateleiras dos supermercados.
O impacto da agropecuária
Estima-se que 70 mil milhões de animais terrestres sejam abatidos todos os anos para consumo alimentar a nível mundial.
Por isso, o impacto ambiental de alimentar todos estes animais pode ser enorme. 67% das culturas cultivadas todos os anos nos EUA não alimentam diretamente as pessoas, destinando-se a ração para animais. Hectares e mais hectares de terra reservada para cultivar alimento destinado a alimentar o nosso alimento.
A poluição agrícola pode afetar ainda a água acima e abaixo do solo e a criação de animais é responsável por cerca de 15% das emissões de gases com efeito de estufa a nível mundial.
Teoricamente, a carne cultivada poderá resolver muitos ou todos estes problemas e os seus defensores enumeram outras potenciais vantagens. Kaplan, por exemplo, diz que, como a carne cultivada pode, teoricamente, ser criada em qualquer lugar, alguns países já não precisariam de importar tanta comida.
Mas haverá desvantagens na carne criada em laboratório?
Apesar de tudo isto parecer fácil, Marco Springmann, um cientista ambiental da Universidade de Oxford, afirma que a quantidade de energia necessária para o processo de produção é tanta que a carne criada em laboratório tem uma pegada de carbono cinco vezes superior à do frango.
Além disso, a carne cultivada em laboratório é cara. De momento, os custos por unidade são significativamente mais altos do que a alternativa tradicional, segundo uma análise, a carne criada em laboratório pode ser oito vezes mais cara de produzir.