Cães Siberianos caminham sobre a água: a imagem que relata o degelo no Ártico
Em junho de 2019 uma imagem tornou-se viral depois de mostrar animais a caminhar sobre a água na Gronelândia. Saiba mais aqui!

De acordo com a BBC, uma fotografia tirada pelo cientista climático Steffen Olsen, do Instituto Meteorológico Dinamarquês, tornou-se viral pelo mundo, depois de mostrar cães da raça husky siberianos a caminhar sobre a água na Gronelândia.
Este cientista descreve esta situação como "aterradora", pois os cães estavam, de facto, a caminhar no meio de uma camada de água derretida, mais ou menos da altura de um tornozelo humano, no gelo marinho em Inglefield Bredning, uma área com 80 quilómetros de comprimento no noroeste da Gronelândia.
Olsen dirige o projeto europeu Blue Action, com o objetivo de investigar os efeitos das alterações climáticas no Ártico.
Steffen Olsen
De acordo com Olsen, os cães são frequentemente muito relutantes em colocar as patas na água, pois normalmente, quando se encontra água, é porque há fendas no gelo marinho e os cães têm de saltar por cima da água, o que eles detestam.
Porém, nesse dia, 13 de junho de 2019, as temperaturas atingiram 14 °C, ou seja, estariam felizes por poderem refrescar as patas devido ao calor.
Degelo no Ártico
De acordo com o relato do cientista, há 15 anos que faz investigação na Gronelândia e só tinha presenciado este fenómeno extremo uma vez.
Communities in #Greenland rely on the sea ice for transport, hunting and fishing. Extreme events, here flooding of the ice by abrupt onset of surface melt call for an incresed predictive capacity in the Arctic @BG10Blueaction @polarprediction @dmidk https://t.co/Y1EWU1eurA
— Steffen M. Olsen (@SteffenMalskaer) June 14, 2019
Segundo ele, é invulgar que o degelo ocorra tão rapidamente. Este explica que é necessária uma onda súbita de ar quente quando ainda há neve fresca sobre gelo marinho sólido.
Portanto, este é um exemplo de um acontecimento extremo que se desenrola no início da estação.
Olsen
Normalmente, degelos como o que Olsen testemunhou ocorrem apenas no final da estação, no final de junho ou julho.
Todavia em 2019, de acordo com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA), o degelo começou em meados de abril, cerca de seis a oito semanas mais cedo do que a média de 1981-2020, afetando cerca de 95% da camada de gelo da Gronelândia.
Fenómeno efeito bola de neve
A paleoclimatologista Bianca Perren do Serviço Antártico Britânico (BAS) explica que fenómenos como este podem ter um efeito de "bola de neve", ou seja, gerar um novo degelo à medida que menos neve e gelo refletem os raios solares para o espaço e mantêm a superfície fria.
A Gronelândia registou uma perda recorde de gelo em 2019, sendo que foram perdidas 532 mil milhões de toneladas da sua enorme camada de gelo, de acordo com um estudo de 2020.
Em 2012, as temperaturas de verão (junho a agosto) foram mais de 2 °C superiores à média de 1981-2010 em áreas já sujeitas ao degelo estival e mais de 1,5 °C superiores no manto de gelo como um todo.
Este rápido degelo está já a afetar a vida das comunidades locais, uma vez que tiveram que adaptar os seus hábitos de caça e pesca, para além de que a segurança passou também a ser uma preocupação, pois andar sobre o gelo deixou de ser seguro.