Boa notícia: gases que destroem a camada de ozono estão a desaparecer mais rápido do que o previsto

Um “enorme sucesso global”: gases destruidores do ozono estão a desaparecer mais rápido do que o previsto, 5 anos antes da redução projetada, segundo um novo estudo.

buraco na camada de ozono
Buraco na camada de ozono em 2023 sobre a Antártida, um dos maiores registados com dimensão de 26 milhões de quilómetros. Crédito: European Space Agency (ESA).

A camada de ozono (O3) protege-nos dos raios ultravioletas (UV) emitidos pelo Sol, e ela é destruída pelos chamados gases ‘HCFCs’ (hidroclorofluorcarbonos), que são compostos químicos formados por carbono, hidrogénio, cloro e flúor, o que leva à formação dos famosos buracos na camada de ozono.

Estes gases também aumentam o efeito de estufa, já que eles retêm o calor que é irradiado pela superfície terrestre, o que acaba por aumentar a temperatura da atmosfera e contribuir dessa forma para o aquecimento global.

A camada de ozono é importante pois este é o único gás que filtra a radiação ultravioleta do tipo B (UV-B) proveniente do Sol. Está localizada na estratosfera, entre 20 e 30 km de altitude e tem cerca de 10 km de espessura.

Por isso, em 1987 foi assinado o Protocolo de Montreal, um acordo internacional adotado por vários países com o objetivo de reduzir a emissão de HCFCs que causam danos à camada de ozono.

E agora, um estudo publicado recentemente na revista Nature Climate Change trouxe uma boa notícia para a mitigação das alterações climáticas: os HCFCs estão a desaparecer da atmosfera mais rápido do que o previsto.

Gases destruidores do ozono a desaparecerem mais rapidamente do que o esperado

O Protocolo de Montreal tem sido bem sucedido em conter as emissões dessas substâncias destruidoras da camada de ozono, e isso foi possível através do controlo da produção e do consumo destes gases.

O estudo analisou os níveis dos HCFCs na atmosfera utilizando dados da experiência Advanced Global Atmospheric Gases Experiment (AGAGE) e da agência americana National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA).

camada de ozono
Esquema que mostra o buraco na camada de ozono – entrada de radiação e raios ultravioletas (UV). Crédito: Divulgação.

Os resultados mostraram que os HCFCs diminuíram globalmente desde 2021, 5 anos antes da redução projetada mais recente, chegando ao valor de 321,69 ppt (partes por trilião). Espera-se uma eliminação do uso de algumas das substâncias que compõem os HCFCs até 2040, mas o desaparecimento total deles pode levar centenas de anos. Além disso, a queda foi mais rápida no Hemisfério Norte, refletindo mudanças nas emissões.

"Este foi um enorme sucesso global. Estamos a ver que as coisas estão a ir na direção certa", disse num comunicado Luke Western, da Universidade de Bristol, o autor principal do estudo. Segundo ele, a projeção mais recente, feita em 2022, previa que os níveis não começariam a cair antes de 2026.

A diminuição dos gases HCFCs não só protege a camada de ozono, mas também diminui, consequentemente, o aquecimento global e o efeito das alterações climáticas.

De qualquer forma, os investigadores alertam que, mesmo quando não estiverem mais em produção, o uso passado destes gases nocivos continuará a afetar o ozono durante muitos anos.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) estimou em 2023 que levaria quatro décadas para que a camada de ozono se recuperasse aos níveis anteriores à deteção do buraco na década de 1980.

E segundo Western, esta diminuição observada dos HCFCs foi devido à eficácia do Protocolo de Montreal, bem como às regulamentações nacionais mais rígidas e uma mudança da indústria em antecipação à proibição iminente desses poluentes.

O estudo conclui que com as políticas em vigor focadas na eliminação progressiva dos gases de efeito de estufa, é possível termos esperança. Os acordos ambientais e a cooperação internacional são a chave para combater as alterações climáticas.

Referência da notícia:

Western, L. M. et al. A decrease in radiative forcing and equivalent effective chlorine from hydrochlorofluorocarbons. Nature Climate Change, 2024.