Barcos de pesca movidos a hidrogénio vão navegar nas águas portuguesas a partir de 2027
A Universidade do Porto e a Fundação Gulbenkian uniram esforços para criar um protótipo de embarcação com zero emissões, que pode ser operado à distância. O projeto visa fornecer uma alternativa sustentável para a frota nacional.
A Universidade do Porto e a Fundação Calouste Gulbenkian lançaram um projeto de produção de combustíveis não poluentes para pequenas embarcações de pesca. Uma equipa multidisciplinar de cientistas de vários centros e institutos de investigação vão trabalhar em parceria, procurando reduzir o impacto ambiental do setor.
Esse é o intuito do programa GREENSHIP_E-Eletrificação, que conta com um financiamento de cerca de 1,5 milhões de euros da Gulbenkian. A iniciativa está centrada no desenvolvimento de combustíveis ecológicos e soluções avançadas, como sensores, Inteligência Artificial ou sistemas de navegação remota. As novas tecnologias irão permitir cortar nas emissões de gases com efeito de estufa e fornecer também a capacidade de operar os navios à distância.
A grande aposta deste projeto está na construção de um protótipo de embarcação autónoma capaz de produzir e armazenar a bordo hidrogénio verde, uma fonte de energia limpa que só emite vapor de água e não deixa resíduos no ar, ao contrário do carvão e do petróleo.
Um marco para a indústria naval
O novo combustível livre de emissões irá alimentar uma célula responsável pela sua propulsão e assegurar ainda um sistema inteligente de eletrificação especialmente projetado para barcos de pesca e de recreio.
Alexandra Rodrigues Pinto, investigadora da FEUP
Os investigadores estão convencidos de que o GREENSHIP_E-Eletrificação representa um marco para a tecnologia de propulsão marítima livre de emissões de carbono, podendo por isso ser um passo decisivo para impulsionar a descarbonização da indústria naval, em particular das embarcações recreativas e de pesca, que constituem a esmagadora maioria da frota portuguesa.
De acordo com as estatísticas mais recentes da Direção-Geral dos Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM), a frota de pesca portuguesa é composta por 7608 embarcações, distribuídas pelo continente e regiões autónomas.
No seu conjunto, as embarcações de pesca foram responsáveis por capturar, em 2023, 171 235 toneladas de peixe. O pescado transacionado em lota gerou, segundo os números do Instituto Nacional de Estatísticas, uma receita de 339 794 mil euros. Para manter a sustentabilidade das pescas nacionais a médio e longo prazo, no entanto, é necessário descarbonizar o setor, advertem os especialistas.
Ganhar escala no mercado nacional
O hidrogénio verde tem sido a alternativa mais consensual para cortar as emissões dos transportes pesados. O projeto GREENSHIP_E-Eletrificação, a ser desenvolvido até ao final de 2027 é, segundo o comunicado da Universidade do Porto, passível de ganhar uma escala económica num curto espaço de tempo.
Sendo o setor marítimo uma área de grande importância estratégica para Portugal, espera-se que esta solução integrada possa entrar rapidamente no mercado nacional, existindo, inclusive, duas empresas de transporte marítimo já interessadas na aplicação desta tecnologia.
O GREENSHIP_E parte, desde logo, de uma base sólida de conhecimento e experiência acumulados, envolvendo uma equipa interdisciplinar composta por investigadores de quatro unidades de I&D da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (que formam o laboratório associado ALiCE), além do SYSTEC – Centro de Sistemas e Tecnologias e ainda do INESC-TEC.