Atenção! Ingerir menos açúcar não só beneficia a sua saúde como também o planeta
Estudo demonstra que o consumo de açúcar, que continua em crescendo por todo o mundo, está ligado à saúde da nossa casa comum. A diminuição da sua ingestão pode trazer sérios benefícios para o planeta Terra e também para a saúde pública.
O vício em consumir açúcar está a aumentar globalmente. A ingestão deste conjunto de hidratos de carbono cristalizados comestíveis quadruplicou nos últimos 60 anos, e hoje, cerca de 8% das calorias humanas vêm do açúcar. Contudo, os açúcares adicionados são considerados calorias vazias (desprovidos de quaisquer nutrientes como vitaminas ou fibras) e estão ligados a uma série de doenças, incluindo doenças cardiovasculares, cancro, obesidade e diabetes tipo 2.
A verdade é que nos últimos 30 anos, o número de pessoas com diabetes duplicou, compondo 12% da população adulta, e 95% delas têm diabetes tipo 2. Enquanto isso, espera-se que numa década, metade do mundo possa estar acima do peso ou obesa, causando 4,3 milhões de biliões de dólares em custos económicos globais.
Por esse motivo, vários países têm encetado esforços para reduzir o consumo de açúcar, embora, por se tratar de um mercado de 68 mil milhões de dólares e com mais de 100 milhões de pessoas que vivem dele, intervenções políticas como impostos sobre o consumo acabam por gerar alguma controvérsia.
Além dos impactes na saúde humana, o cultivo do açúcar pode gerar muitos problemas ambientais, tais como a perda de habitat e biodiversidade, e a poluição da água por fertilizantes, por exemplo. Então, reduzir a produção e o consumo de açúcar não vai apenas melhorar a saúde humana, também pode ser altamente benéfico para o planeta.
Estas são as conclusões de um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, onde os autores exploram várias formas de reduzir ou redirecionar o açúcar das nossas dietas para atos ambientalmente benéficos, a fim de tornar a transição do açúcar “politicamente palatável”.
Benefícios globais da redução do cultivo e consumo de açúcar
A cana-de-açúcar é uma das maiores culturas em massa, e o seu cultivo levou a mudanças massivas no uso do solo, à absorção de água e ao escoamento de fitofarmacêuticos, resultando em perdas significativas de biodiversidade.
Os investigadores descobriam que reduzir a ingestão de açúcares adicionados para o valor recomendado de 5% das calorias diárias (conforme orientação da Organização Mundial de Saúde) libertaria 483 milhões de toneladas de cana-de-açúcar para outros fins, abrindo dois conjuntos de opções.
A primeira opção passa pela redução da produção de açúcar, que poderia poupar terras que poderiam ser reflorestadas ou usadas para cultivar outras culturas alimentares localmente significativas, aumentando a segurança alimentar, embora com maior impacte ambiental. Alternativamente, essa área poderia ser revertida para vegetação natural, sequestrando 99 milhões de toneladas de carbono a longo prazo, segundo o estudo.
Poupar estas terras também pode ter outros benefícios, como uma maior resiliência climática, já que a vegetação natural funciona como um amortecedor natural mais eficaz. Diversificar a paisagem dos territórios em culturas não açucareiras pode melhorar a produtividade, maximizar os lucros e aumentar a saúde do solo, aumentando por fim a eficiência de carbono.
A segunda opção não envolve a redução da produção de açúcar, mas a sua utilização para outros fins múltiplos, como a produção de bioplásticos, o que substituiria cerca de 20% do mercado total de polietileno, ou a produção biocombustíveis, cerca de 198 milhões de barris de etanol.
Mas, para os autores do estudo a maior oportunidade está na utilização do açúcar para alimentar micróbios que produzem proteínas e, desta forma poder produzir produtos alimentares ricos em proteína e à base de plantas. Isso proporcionaria a maior oportunidade climática, ao mesmo tempo em que atenderia às necessidades de 521 milhões de adultos.
Desafios da cadeia de abastecimentos
Embora os benefícios para a saúde e o meio ambiente sejam lucrativos, alcançar essas vitórias é uma tarefa difícil. A cadeia de abastecimentos do açúcar estende-se por mais de 120 países e vários níveis de partes interessadas, sendo apoiada por um lobby poderoso.
Para que a transição aconteça, os autores do estudo consideram que a adoção de políticas de incentivo à diversificação das utilidades do açúcar é essencial, apostando na supressão da procura, através da sua progressiva diminuição de importância na dieta.
Este caminho exige um esforço internacional coordenado e deve incluir os grandes países produtores como Brasil, Índia e Tailândia, para que se permitam explorar outros usos do açúcar, encorajando as indústrias locais a reduzir a produção ou a desviá-la para usos mais benéficos.
Não podemos esperar fazer a transição da maneira como produzimos e comemos açúcar aconteça da noite para o dia. Mas, ao explorar outros usos do açúcar, permitimo-nos conseguir ganhos ambientais, melhorar a eficiência de recursos, ao mesmo tempo em que melhoramos a saúde pública.
Referência da notícia
Shepong, A., Sun, Z., Makov, T. et. al. (2024). The environmental and social opportunities of reducing sugar intake. Proceedings of the National Academy of Sciences.