As trovoadas também fazem parte do verão!
A volubilidade da presença de vapor de água na camada mais baixa da atmosfera, influi no equilíbrio percentual dos restantes componentes, e por inerência, com a dinâmica atmosférica. Anualmente, ocorrem 16 milhões de tempestades com trovoada no planeta. Saiba mais aqui!
A atmosfera, como manto de gases e partículas que envolve o planeta Terra, tem a sua estrutura física e química à mercê de uma contínua natural evolução despoletada há milénios. Todavia, a sua dinâmica é baralhada pelo incremento da agricultura, intensificação da industrialização, desflorestação e incêndios florestais, e queima de combustíveis fósseis.
Personificando um sistema de redistribuição, não homogénea, de calor e humidade em redor do planeta, o mecanismo atmosférico infere nos padrões de precipitação, temperaturas, movimentos de massas de ar e de pressão. Aliás, pode dizer-se que o sistema climático expressa um pretenso equilíbrio global, dominado por intercâmbios energéticos que moldam o mosaico de climas do planeta como expressão máxima de todo o conjunto.
Neste mecanismo, manifestam-se fenómenos meteorológicos como resposta a incontroláveis variações nos elementos que constituem a atmosfera e que caracterizam os voláteis estados de tempo, as condições atmosféricas. Uma dinâmica que ocorre na camada da atmosfera mais próxima da superfície terrestre, na troposfera, onde abunda vapor de água. Este, representando apenas 0,25% da massa total da atmosfera, é um elemento determinante na interação com a radiação solar, possibilitando o transporte de energia, agindo no perfil das temperaturas, e viabilizando a formação de nuvens.
As cumulonimbus como berço de trovoadas
Com efeito, as nuvens do tipo cumuliforme pautam o balanço radioativo da troposfera. Elas desenvolvem-se em altitude, através de fortes correntes ascendentes alimentadas pela convergência de ar mais húmido. Desempenham importante papel no balanço energético global, assim como na circulação geral da atmosfera, através do transporte de humidade e de calor para níveis mais elevados da troposfera e da baixa estratosfera.
Sempre que ocorrem variações da temperatura e vapor de água, pela libertação de calor latente das partículas no interior da nuvem e do meio ambiente, estabelecem-se condições que favorecem a eletrificação positiva ou negativa das partículas. Acima dos 100 km, numa zona com elevada densidade de eletrões, ocorre a ionização do ar, fomentando a descarga de fluxos, os quais, decorrente do aquecimento, se traduzem em relâmpagos (intenso efeito luminoso, faísca causada pela descarga de eletricidade estática) e trovões (deslocamento do ar num forte efeito sonoro).
Podendo ocorrer entre uma nuvem e o solo, dentro da própria nuvem, ou entre duas nuvens, estas correntes iónicas, estas vias que balizam o percurso em zig-zag das descargas, de apenas alguns centímetros de largura, deslocam eletrões à velocidade de cerca de 100 km/s, e ar intensamente aquecido a 10,000 ⁰C.
Ao ascender, o ar expande-se e consequentemente arrefece, continuando a expandir-se e a arrefecer até atingir arrefecimento tal que pára. Enquanto o ar seco não tem fonte de energia, o ar húmido conserva o calor latente armazenado no vapor de água, e um ar muito húmido é condição primordial para intensificar um processo convectivo. E, com a intensificação da convecção, formam-se nuvens de grande desenvolvimento vertical, desencadeadoras de tempestades e trovoadas.
De facto, quando parte de uma nuvem se situa numa faixa de temperatura entre -20 ⁰C e -40 ⁰C, possibilitando a formação de grande quantidade de cristais de gelo, e quando o cisalhamento vertical do vento na nuvem é quase inexistente, permitindo o desenvolvimento de uma coluna convectiva, é gerada carga elétrica. Atuando como gatilho, o aquecimento a baixa altitude, quer sobre o continente, quer sobre o oceano, produz células ascendentes de ar quente, húmido e instável.
Não obstante a incontrolável variabilidade diurna e sazonal, episódios de trovoada são frequentes nos dias de verão, particularmente à tarde. E isso acontece porque, nesta altura do ano, o ar está muito quente junto ao solo, e a movimentação das massas de ar é frequentemente de sul e de oeste, carregadas de humidade.
Perante esta condição sinóptica, o ar quente e húmido ascende rapidamente, condensa e propicia o desenvolvimento vertical de nuvens muito densas. Estas atuam como incubadoras de trovoadas, as quais acontecem pela necessidade de libertação de energia devido a mudanças abruptas na temperatura do ar, podendo fazer-se acompanhar da queda de granizo restrito espacialmente.
Efetivamente, consequência das diferenças de temperatura entre as camadas baixas e altas da atmosfera, e do caracteristicamente sazonal aquecimento diurno, episódios de trovoadas serão sempre incontornavelmente passíveis de acontecer. Porém, a sua prevalência é maior no interior do país, uma vez que a Nortada típica da faixa litoral oeste, ameniza a diferença de temperatura entre a superfície e a altitude, mitigando a possibilidade de formação de trovoadas.
Remontando à antiguidade, e apesar dos efeitos destrutivos que este fenómeno natural pode colateralmente representar, a ambivalência ameaçadora e bela dos raios e trovões continua ainda a intrigar e a encantar a humanidade.