As florestas tropicais e o dióxido de carbono
As florestas tropicais estão a perder o seu papel de sumidouros de carbono devido à desflorestação, fogos florestais e secas. Contamos-lhe mais detalhes aqui.
As florestas tropicais, essas imensas florestas cujas folhas através da fotossíntese absorvem o CO2 atmosférico são grandes sumidouros de parte desse gás de efeito de estufa. Uma das principais causas da mudança climática é a quantidade de CO2 que injetamos para a atmosfera, atualmente mais de 33 biliões de toneladas por ano, devido não só à queima de combustíveis fósseis como aos diferentes usos da terra: queimadas, circulação rodoviária, entre outros.
Um recente estudo envolvendo investigadores de diversos países concluiu que os ecossistemas tropicais, devido à desflorestação por um lado, e às secas e fogos florestais por outro, estão a perder o seu papel de sumidouros de carbono. O estudo foi baseado em dados de observação remota obtidos pelo satélite SMOS, no período de 2010 a 2017.
Satélite SMOS
O satélite SMOS é um satélite de observação terrestre na banda do microondas da Agência Espacial Europeia (ESA) que foi lançado em 2009. É um satélite de órbita polar que se encontra a 755 km da Terra. Este satélite dá acesso a informação muito diversificada e valiosa para entender a evolução do planeta, tal como o conteúdo de água no solo, a salinidade oceânica, a produção agrícola e o conteúdo de carbono na copa das árvores.
É assim possível obter dados da quantidade de carbono existente na biomassa acima do solo da vegetação de toda a zona planetária tropical com uma resolução de 25 km por 25 km. Um artigo acaba de ser publicado na revista Nature Plants, onde uma equipa internacional relata as suas observações para o período 2010-2016.
Evolução perturbadora
O artigo destaca a forte correlação entre as alterações da quantidade de carbono nas árvores e as alterações na concentração de CO2 na atmosfera, confirmando o papel central da biomassa vegetal nos ecossistemas tropicais no ciclo global do carbono. O título do artigo - "Observação por satélite da dinâmica do carbono em todos os trópicos" não proclama nenhum resultado definitivo.
A cautela dos autores é explicada pelas limitações do estudo, duração relativamente curta e sem acesso ao teor de água do solo ou ao armazenamento de carbono em raízes e solos. No entanto, os resultados apontam para uma evolução preocupante devido à desflorestação e aos fogos florestais.
Se os ecossistemas tropicais permanecem como sumidouros de carbono nos anos húmidos, eles passam a neutros ou emissores durante os períodos de seca. Num clima futuro onde os episódios extremos se multiplicarão será afetada a pegada de carbono dos ecossistemas.
Um dos autores do estudo, Philippe Ciais (LSCE), destaca que "na maioria dos modelos climáticos, a floresta tropical continua a ser um sumidouro até ao final do século, mas os modelos, sem dúvida, subestimam o efeito de secas repetidas". Uma das questões colocadas por este estudo é a seguinte: no futuro, as fontes de carbono poderão acelerar a mudança climática?