As crianças estão a perder capacidades motoras e os ecrãs podem ser os verdadeiros culpados

De acordo com um estudo, os mais pequenos estão a perder algumas capacidades, desde fechar um simples casaco ou até virar a página de um livro e a culpa é dos pequenos ecrãs. Saiba mais aqui!

Ecrãs
Segundo os especialistas, a utilização por parte das crianças de telefones, tablets ou até televisão contribui para o não desenvolvimento do controle motor fino que se cria ao escrever, recortar ou colorir.

Segundo um artigo publicado no National Geographic, Amy Hornbeck, técnico de instrução das escolas públicas de Beverly City, em Nova Jérsia, afirma que os pequenos alunos de Hoje já não entram na sala de aula com pedras ou outros artefactos recolhidos na hora do recreio.

Agora, chegam com os olhos vidrados num ecrã e isso parece estar a refletir-se em comportamentos como não conseguirem fechar um fecho do casaco, virar as páginas de um livro ou sequer segurar corretamente uma colher.

Para corroborar com estas afirmações, segundo um inquérito recente da Education Week revelou que 77% dos educadores referem que os jovens estudantes têm mais dificuldades em manusear lápis, canetas e tesouras.

A verdade é que as crianças estão a perder capacidades motoras finas essenciais, ou seja, os movimentos pequenos e precisos necessários como apertar um atacador, escrever com uma caneta ou construir uma torre em legos.

A importância de brincar
Brincar no exterior, como escalar, cavar e explorar ajuda as crianças a desenvolverem habilidades motoras finas.

Os especialistas apontam como culpados uma mistura complexa de tempo de ecrã, mudança de hábitos e uma alteração nas experiências da infância.

Será a pandemia a culpada pelo atraso na motricidade?

Segundo um estudo realizado com mais de 250 bebés nascidos no primeiro ano da pandemia revelou que, aos seis meses de idade, os resultados nos testes de motricidade fina eram inferiores aos dos bebés nascidos antes da pandemia.

Lauren Shuffrey, autora deste estudo e professora na Escola de Medicina Grossman da Universidade de Nova Iorque, afirma que é difícil saber se os resultados se devem ao aumento do stress pré-natal ou ao ambiente diferente que os bebés vítimas da pandemia viveram nos primeiros meses.

Contudo, ter ficado em casa com os pais que trabalham, também levou a um aumento do tempo de ecrã para crianças de todas as idades.

Como estão os ecrãs a excluir as brincadeiras das crianças?

As brincadeiras ao ar livre, cruciais para o desenvolvimento da motricidade, também estão a diminuir.

“Não andam a escavar, a colher flores, a fazer todo o tipo de coisas interessantes que as crianças podiam fazer sozinhas”

Lauren Shuffrey

Para além destas atividades também a leitura está a deixar de ser uma opção.

Segundo Hornbeck, ler por diversão tornou-se muito menos comum entre as crianças. Esta mudança não só tem impacto na literacia, como também tem efeitos em cascata em competências como a capacidade de atenção e concentração, que são essenciais para o desenvolvimento.

A capacidade decrescente das crianças para se concentrarem numa tarefa, especialmente uma que exija esforço, é um fator chave para o declínio das capacidades motoras.

Por exemplo, completar um puzzle envolve estratégia, virar peças, tentativa e erro, porém muitas crianças estão habituadas a jogar num computador, que gira a peça por si só.

“Os tablets proporcionam um apoio muito mais imediato do que acontece na vida real.”

Segundo Hornbeck, para poderem reconstruir as capacidades motoras finas, sugere que os pais procurem oportunidades para desafiar os filhos e inserir atividades motoras finas nas tarefas diárias, como cortar cupões, cozinhar juntos, procurar pedras a caminho da escola ou até espremer esponjas no banho.

Referências do artigo

Lauren C. Shuffrey, Morgan R. Firestein, Margaret H. Kyle, et al "Association of Birth During the COVID-19 Pandemic With Neurodevelopmental Status at 6 Months in Infants With and Without In Utero Exposure to Maternal SARS-CoV-2 Infection" JAMA Pediatrics.

Steve Barnett & Kwanghee Jung "Preschool Learning Activities: Fall 2023 Findings from a National Survey" Education Week