“As alterações climáticas são uma fraude”. Os dados apresentados sobre a Gronelândia são verdadeiros?
Uma publicação acerca das alterações climáticas na Gronelândia feita na rede social X deu azo a discussão. Será o argumento do aquecimento global uma fraude?

A publicação, mostrada abaixo, foi feita com base num estudo de 2018, que mostra um gráfico de anomalia de temperatura na Gronelândia. Este assume uma variação de 1,55 ºC anual.
"O aquecimento global desapareceu do radar climático. Este estudo sobre o gelo da Gronelândia confirma-o. Durante 160 anos não se registou qualquer alteração, o mesmo aconteceu na Antártida e o Ártico está estável há um século. A grande burla das alterações climáticas é também a grande burla do aquecimento global."
Nos comentários podemos ver várias pessoas a concordarem com a publicação e outras a questionarem este aumento que, segundo as bases do Acordo de Paris e outros, já é significativo e perigoso, pois é o suficiente para impulsionar fenómenos meteorológicos extremos. Em resposta podemos ver argumentos como este ser "normal", pois aconteceu após a Pequena Idade do Gelo (1300-1850).
Global warming has vanished from the climate radar. This study of Greenland's ice confirms it. For 160 years there was no change, the same in Antarctica & the Arctic has been stable for a century. The great climate change swindle is also the great global warming swindle. pic.twitter.com/lreFesWv2p
— Peter Clack (@PeterDClack) March 22, 2025
O intuito deste post é manter aceso o debate de que as alterações climáticas são uma fraude e que o aquecimento global também. O que é que outros cientistas têm a dizer?
A Gronelândia está ou não a sofrer as consequências de um aquecimento global?
São vários os estudos que comprovam que o Ártico, mais que qualquer outra região do mundo, está a sofrer com o aumento global das temperaturas, havendo quem defenda a tese de que este aquece 4 vezes mais que o resto do globo.
Num estudo, publicado em Scientific Reports, pode ler-se que "as respostas da ocupação do solo às alterações climáticas devem ser quantificadas para compreender o clima do Ártico, gerir os recursos hídricos do Ártico, manter a saúde e os meios de subsistência das sociedades do Ártico e para um desenvolvimento económico sustentável. Esta necessidade é especialmente premente na Gronelândia, onde as alterações climáticas são das mais pronunciadas de todo o Ártico."

A perda de gelo do manto de gelo da Gronelândia, dos glaciares e das calotes polares aumentou desde a década de 1980, desta forma, a equipa de investigadores defende que a alteração da ocupação do solo está fortemente associada à diferença no número de dias de graus positivos, especialmente acima de 6 °C, entre a década de 1980 e a atualidade.
São vários os estudos que contrariam esta afirmação publicada no X
Outro estudo, publicado no Journal of Climate, defende que "o escoamento das águas de fusão do manto de gelo da Gronelândia (GrIS) aumentou consideravelmente desde a década de 1990, o que tem implicações para o balanço de massa do manto de gelo e para a dinâmica dos ecossistemas nas zonas sem gelo", o que poderá, muito provavelmente, contribuir para a ocorrência de fenómenos meteorológicos extremos nas próximas décadas, afirmam os cientistas.
No mesmo artigo, os investigadores afirmam que o aumento da frequência e intensidade de degelos extremos é impulsionado pelo aumento dos tipos de clima anticiclónico durante o verão e por mais energia disponível para o degelo.
As consequências de um Ártico em aquecimento
O degelo cada vez maior, que não é totalmente reposto no inverno, continua a ser uma das maiores preocupações em relação ao Ártico, assim como a consequência deste degelo que é a emissão de elevados níveis de CO2 que estariam retidos no gelo e da consequente subida do nível do mar.
Entre 2000 e 2023, o degelo terá feito subir o nível do mar em 18 mm, onde cada milímetro extra expõe entre 200.000 a 300.000 pessoas a inundações todos os anos. Outros impactos estendem-se muito para além da região do Ártico, chegando a influenciar o clima com chuvas extremas e ondas de calor na América do Norte e noutros locais.
Vários cientistas acreditam que o Ártico está a aquecer mais rapidamente, em grande parte, devido a um ciclo de feedback em que o aquecimento derrete o gelo marinho na região, o que expõe mais do Oceano Ártico à luz solar e leva a mais aquecimento, o que por sua vez leva a ainda mais degelo e aquecimento.
Referência da notícia
Copernicus Interactive Climate Atlas
Josep Bonsoms, Marc Oliva, Juan I. López-Moreno, and Xavier Fettweis. Rising Extreme Meltwater Trends in Greenland Ice Sheet (1950–2022): Surface Energy Balance and Large-Scale Circulation Changes. Journal of Climate (2024).
Michael Grimes, Jonathan L. Carrivick, Mark W. Smith & Alexis J. Comber. Land cover changes across Greenland dominated by a doubling of vegetation in three decades. Scientific Reports (2024).
Troels Bøgeholm Mikkelsen et al. Influence of temperature fluctuations on equilibrium ice sheet volume. The Cryosphere (2018).