As alterações climáticas continuam em época de pandemia
As concentrações de gases com efeito de estufa na atmosfera estão a níveis recorde e continuam a aumentar afetando a temperatura global da atmosfera. Contamos-lhe mais aqui!
Após um declínio temporário das emissões de gases com efeito de estufa durante o confinamento, causado pelo bloqueio e abrandamento económico, as emissões estão de novo a aumentar para os níveis pré-pandémicos.
Relatório "United in Science 2020"
O Relatório “United in Science 2020”, divulgado neste mês de setembro, foi compilado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) sob a direção do Secretário-Geral das Nações Unidas com o objetivo de reunir as últimas atualizações relacionadas com a ciência climática de um grupo de importantes organizações parceiras globais - OMM, Projeto Global Carbono (GCP), Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO (UNESCO-IOC), Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC), Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA) e o Serviço Meteorológico Inglês (Met Office).
De acordo com este novo relatório de multi-agências das principais organizações científicas, as concentrações de gases com efeito de estufa na atmosfera continuam a aumentar. As estações de referência da rede Global de Vigilância da Atmosfera da OMM reportaram concentrações de CO2 acima de 410 partes por milhão (ppm) durante o primeiro semestre de 2020. No entanto as emissões de CO2 em 2020 irão diminuir cerca de 4% a 7% devido às políticas de confinamento da COVID-19. O declínio exato dependerá da continuação da trajetória da pandemia e das respostas governamentais para a enfrentar.
Durante o pico do confinamento no início de abril de 2020, as emissões globais diárias de CO2 fóssil diminuíram 17% em comparação com 2019. Mesmo assim, as emissões ainda eram equivalentes aos níveis de 2006, destacando tanto o crescimento acentuado nos últimos 15 anos como a contínua dependência de fontes fósseis de energia.
No início de junho de 2020, as emissões diárias globais de CO2 fóssil tinham regressado, na sua maioria, a cerca de 5% abaixo dos níveis de 2019, que atingiram um novo recorde de 36,7 Gigatoneladas (Gt) no ano passado, 62% mais elevadas do que no início das negociações sobre as alterações climáticas em 1990.
O Relatório realça os impactos crescentes e irreversíveis das alterações climáticas, que afetam glaciares, oceanos, natureza, economias e condições de vida humana e são frequentemente sentidos através de perigos relacionados com a água, como seca ou inundações.
Também documenta como a COVID-19 tem impedido a capacidade de monitorizar estas mudanças através do sistema de observação global, como por exemplo, quase todos os navios de investigação oceanográfica foram chamados aos portos de origem e muitas das estações de observação manual foram afetadas. Este relatório mostra que embora muitos aspetos das nossas vidas tenham sido perturbados em 2020, as alterações climáticas têm continuado sem diminuir.
Cinco anos mais quentes
Ainda de acordo com o Relatório tudo indica que se irá estabelecer um recorde dos cinco anos mais quentes (2016-2020). Esta tendência provavelmente continuará nos próximos anos. Deste modo não se está no bom caminho para cumprir os objetivos do Acordo de Paris em manter o aumento da temperatura global abaixo dos 2 °C ou 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais.
Espera-se que a temperatura média global para 2016-2020 seja a mais quente de sempre, cerca de 1,1 °C acima de 1850-1900, um período de referência para a mudança de temperatura desde os tempos pré-industriais e 0,24 °C mais quente do que a temperatura média global para 2011-2015.
Durante a primeira metade de 2020, grandes extensões da Sibéria assistiram a uma prolongada e notável onda de calor, o que teria sido muito improvável sem as alterações climáticas antropogénicas.