Aquecimento global ameaça população idosa: desafios e intervenções urgentes, alerta a Nature

Mais episódios de calor extremo ao longo do século XXI poderão agravar os problemas de saúde de mais de 200 milhões de idosos a nível mundial. Saiba mais aqui!

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Mais de 23% da população com 69 ou mais anos ir�� residir em áreas onde o percentual da temperatura máxima diária irá ultrapassar o limiar crítico de 37,5 ºC.

O envelhecimento da população e a crescente exposição ao calor devido às alterações climáticas estão a assumir-se como problemas crescentes, alertam os especialistas.

Mais de 200 milhões de idosos poderão enfrentar problemas de saúde por calor extremo até 2050

Um estudo recente, que combina projeções demográficas estratificadas por idade com projeções de temperatura do ar até meados do século, revela uma realidade preocupante: a exposição crónica ao calor está prestes a dobrar em todos os cenários de aquecimento.

Mais alarmante ainda é que mais de 23% da população global com 69 ou mais anos irá residir em climas onde o percentil 95 da temperatura máxima diária ultrapassa o limiar crítico de 37,5 °C, expondo entre 177 e 246 milhões de idosos a episódios de calor extremo.

Os impactes são mais severos na Ásia e em África, onde também se encontra a menor capacidade de adaptação. Este cenário levanta uma séria preocupação para a saúde pública global, considerando a reduzida capacidade dos idosos em termorregular a temperatura corporal, o maior número de comorbilidades e a dependência perante medicamentos que causam desidratação.

Além disso, aqueles que apresentam limitações cognitivas ou físicas, recursos habitacionais ou económicos insuficientes, e com a família geograficamente distante, estão, maioritariamente, mais mal preparados para enfrentar os episódios extremos de calor.

Perante a aproximação a esta realidade, a próxima década torna-se crucial tanto para a agenda das alterações climáticas, assim como para a do envelhecimento saudável. Os especialistas ressaltam a necessidade premente de integrar ambas as dimensões no planeamento de adaptação e nas diretrizes de saúde para minimizar os impactes diretos na morbilidade e mortalidade pelo calor e seus custos indiretos para a sociedade.

As intervenções potenciais incluem o uso de tecnologias de arrefecimento ativo (por exemplo, o ar condicionado) e passivo em edifícios, aumentar o albedo dos edifícios, aumentar os espaços verdes e a cobertura das copas das árvores para combater o efeito da Ilha de Calor Urbano, expandir os sistemas de alerta precoce para o calor e disponibilizar locais públicos de arrefecimento mais acessíveis.

Desafios e incertezas na proteção dos idosos perante o calor extremo

Muitas destas medidas não abordam explicitamente as necessidades distintas dos idosos, grupo vulnerável, que tem estado sujeito a um aumento exponencial dos seus efetivos expostos. Portanto, é imperativo considerar estas preocupações adicionais no desenho e implementação de soluções de adaptação, o que certamente representará alguns desafios significativos.

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O grupo funcional dos idosos merece particular análise pela reduzida capacidade dos idosos em termorregular a temperatura corporal, o maior número de comorbilidades e a dependência perante medicamentos que causam desidratação.

Apesar das inovações metodológicas deste estudo, permanecem incertezas quanto ao tamanho e distribuição espacial das populações idosas no futuro. As técnicas de projeção e abordagens de escalonamento espacial inevitavelmente exigem suposições, que têm as próprias limitações.

Além disso, os resultados podem superestimar as exposições reais, uma vez que alguma forma de adaptação autónoma é provável. Portanto, a questão fundamental de qual cenário deve ser considerado como linha de base em projeções é cercada de mais incertezas do que evidências.

Apesar dos desafios, os dados produzidos por esta análise estão disponíveis publicamente e podem ser benéficos para avaliações relacionadas com o setor da saúde e o planeamento da adaptação. Investigações futuras podem aproveitar estes dados para informar as tomadas de decisão, os estudos de risco e de mortalidade, bem como para apoiar futuras projeções populacionais estratificadas por idade ao nível regional, sub-regional e local.

Diante desse cenário, a ação imediata e coordenada é necessária para proteger os idosos vulneráveis e lidar com os desafios do envelhecimento populacional.

Referência da notícia:

Falchetta, G., De Cian, E., Sue Wing, I., & Carr, D. (2024). Global projections of heat exposure of older adults. Nature Communications, 15, 3678. https://doi.org/10.1038/s41467-024-47197-5